Após queda em 2009, os casos de diarreia e conjuntivite voltaram a subir em Curitiba em 2010. Os números da Secretaria Municipal de Saúde mostram que os atendimentos quase dobraram entre junho e setembro deste ano, em comparação com o mesmo período de 2009. Os dados referentes às duas doenças, transmitidas principalmente pela falta do hábito de lavar as mãos, mostram que os cuidados de higiene adotados pela população no ano passado, durante a pandemia de gripe A (H1N1), foram deixados de lado.
Por causa da pandemia, cerca de 60% dos curitibanos chegaram a mudar de hábitos, conforme levantamento da Paraná Pesquisas feito em 2009. No ano passado o Paraná registrou 289 mortes causadas pela doença estado brasileiro com o maior número de mortes proporcionalmente à população. Curitiba e região metropolitana responderam por 86 destes óbitos. Hoje o cenário é outro: 16 mortes foram registradas no estado em 2010, sendo três na capital e municípios vizinhos.
Com isso, os cuidados foram deixados de lado. Para a diretora do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde, Karin Regina Luhn, a queda nos números da gripe A aparentemente se deve mais à vacinação e à imunização natural das pessoas do que pela manutenção dos cuidados de higiene.
Histórico
De 2008 para 2009, os atendimentos com diagnóstico de conjuntivite caíram 25,5% no estado e os de diarreia diminuíram 51,8%. Segundo Karin, as medidas de higiene adotadas em 2009 acabaram protegendo as pessoas contra outras doenças. "Acho que a estrutura melhorou. Hoje existem mais ambientes que se adequaram e oferecem água para lavar as mãos ou álcool gel", diz a diretora do Centro de Epidemiologia. "Não é questão de disponibilidade, é mudança de comportamento."
Na avaliação de José Lúcio dos Santos, superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde, o processo de higiene deve ser continuado. Segundo ele, são feitas ações permanentes para os cuidados básicos de higiene. No momento estão sendo enfatizadas ações para limpeza das mãos entre profissionais da saúde e pessoas que saem de hospitais, devido ao risco representado pela superbactéria KPC.
Mudanças
As instituições de ensino são um bom termômetro de que as mudanças de comportamento não foram mantidas. Durante a pandemia, escolas e universidades adotaram ações mais rígidas, estenderam o período de férias e ofertaram álcool gel. Foi o caso da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Hoje, no entanto, nem todos os câmpus da instituição oferecem álcool gel e falta sabonete líquido, dizem os universitários. "A maioria dos alunos nem usa mais e nem estão repondo", diz a estudante de Química Naiara Lacerda, 19 anos.
No câmpus da Reitoria da UFPR há locais em que o produto é oferecido. A estudante de História Nicolle de Lima, 19 anos, diz que não usa, mas que continua lavando as mãos com água e sabão. Em 2009, a apreensão dela era maior e a estudante chegou a comprar álcool gel e o deixava na bolsa. Hoje ela nem sabe onde está o frasco. "Passou o medo", diz.
A aluna de Química Tatyana Casagrande, 20 anos, é uma exceção entre os entrevistados: anda com álcool gel na bolsa e manteve os mesmos cuidados adotados no ano passado. "Trago o meu álcool gel na mala porque não tem na UFPR. Tinha só na época que deu o surto", diz a estudante.
A reportagem entrou em contato com a Pró-Reitoria de Administração da UFPR, mas recebeu a informação de que o responsável estava viajando e que não poderia dar entrevistas.
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