Foi por causa de uma mordida de carrapato que o príncipe regente dom João inaugurou no Rio de Janeiro o banho de mar, no início do século 19. Antes disso, a sociedade carioca só costumava usar o mar para deslocamentos de barco, contemplação ou, no máximo, para um passeio na orla. Como se acreditava nos fins terapêuticos da água salgada, com iodo concentrado, dom João foi buscar tratamento nas ondas salgadas da praia do Caju. Depois dele, a sociedade fluminense aderiu à ideia.
Ir para o mar, porém, não era uma atividade simples. "O recato ainda era muito grande, porque as pessoas não expunham o corpo como fazem hoje", explica a historiadora Claudia Braga Gaspar, autora do livro Orla Carioca. As primeiras iniciativas encampadas pela sociedade resultaram em "banhos terapêuticos flutuantes". As pessoas iam em barcas até a baía de Guanabara e se banhavam de maneira privativa, ficando submersas em um tipo de banheira para buscar a cura de diversas doenças: acreditava-se que o mar trataria, inclusive, problemas de depressão e melancolia. "Homens ficavam em uma plataforma e as mulheres em outra", explica Claudia.
Foi no período entre guerras que o mar passou a ser visto, pela alta sociedade, também como uma opção de lazer. Mas como ir para a água com tanta roupa? Foi então que surgiram na beira da praia as chamadas casas de banho. Eram pequenas cabines de madeira com espelho e banquinho, usadas normalmente por uma pessoa de cada vez. Homens e mulheres de trajes sociais entravam nessas cabines, trocavam os longos vestidos ou o terno por um traje de calça e camisa de manga longa de algodão e, dali, iam se banhar. "Usava-se ainda um sapato de lona para proteger os pés", conta Claudia.
Inglaterra
As casas de banho do Brasil se assemelham em resguardadas proporções às chamadas "bathing machines" (tradução literal: máquinas de banho) que surgiram na Inglaterra dois séculos antes, em 1750. Também eram cabines onde as pessoas trocavam de roupa. A diferença é que estas iam mar adentro, porque tinham rodas e eram empurradas por cavalos até a profundidade desejada pelos banhistas. Dali, as pessoas saiam diretamente na água e, assim, não expunham nada do corpo que já ficava submerso. Além disso, um enorme toldo na parte superior da cabine era aberto e ocultava o banhista de olhares curiosos. A autoria das "bathing machines" é dada a Benjamin Beale, que morava em Margate, na Inglaterra, onde a cabine teria sido usada pela primeira vez. Depois, países como Alemanha e França também aderiram às máquinas de banho.
A historiadora Renata Cerqueira Barbosa, que estuda a Inglaterra vitoriana, período em que as máquinas de banho foram usadas, lembra que o país, pela expansão marítima, era exemplo para o mundo e, apesar da modernidade que conquistava, também estava preocupado com a moralidade. "Havia nesta época um controle rígido de corpos e comportamentos. A população precisava ser controlada e me parece que essas máquinas de banho são um reflexo disso também", explica.
Protetor
O governo carioca, ao ver que a população aderiu à ideia de tomar banho de mar, teve de criar decretos que regulamentavam os horários permitidos para banho, visto que nesta época não havia protetor solar. "Em 1917 um decreto estabeleceu as regras do uso da praia. Havia horários restritos para ir", explica Claudia. Além de ter de tomar banho em jejum, os banhistas só poderiam ir para a praia das 6 às 9 horas da manhã e das 16 às 20 horas, de 1 de abril a 30 de novembro. No restante do período, o horário era ampliado em uma hora, incluindo os domingos.
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