Violência
Relembre alguns casos graves de violência em Curitiba e região ocorridos de janeiro até aqui:
14/1 Rebelião Uma rebelião na Penitenciária Central do Estado, em Piraquara, terminou com seis detentos mortos e outros oito feridos. A revolta durou mais de 18 horas e 90% das celas do local foram destruídas. Dois dias antes da rebelião, a Secretaria da Segurança Pública havia determinado a retirada de policiais militares que faziam a guarda armada do local.
29/1 Chacina no Barreirinha A primeira chacina do ano em Curitiba e região ocorreu no bairro Barreirinha. Seis pessoas, entre 16 e 28 anos, foram mortas durante a noite em um barraco localizado no Jardim Arroio. Segundo a polícia, o crime foi motivado por uma disputa entre quadrilhas de traficantes que buscavam o controle da região. Quatro dias depois da chacina, cinco pessoas acusadas de envolvimento com os homicídios foram presas.
10/2 e 13/2 Crianças mortas Em menos de quatro dias, dois meninos, de 9 e 11 anos, foram assassinados em Curitiba e região. Os dois foram mortos por engano, de acordo com a polícia. No dia 10, o garoto de 11 anos foi morto enquanto conversava com amigos em frente a um bar no Rebouças. Três dias depois, em Almirante Tamandaré, um menino de 9 anos foi morto em um bar na Rodovia dos Minérios. Ele estava junto com os pais quando um homem passou em frente ao local atirando.
24/2 Chacina em Almirante Tamandaré O tráfico de drogas também motivou a segunda chacina registrada no ano. Quatro homens, entre 18 e 22 anos, foram assassinados dentro de um barraco, localizado no alto de um morro no bairro Bonfim, em Almirante Tamandaré. Três pessoas estariam envolvidas no crime, mas apenas uma foi identificada pela polícia. Ninguém foi preso.
26/3 Morte de idosa No último fim de semana, um crime bárbaro ocorreu no bairro Campina do Siqueira. Uma mulher de 91 anos foi estuprada e morta dentro da própria casa. O corpo dela foi encontrado pela sobrinha da vítima. Um suspeito foi detido um dia após o crime.
O primeiro trimestre 2010 chegou ao fim com 576 pessoas mortas de maneira violenta em Curitiba e nos municípios da região metropolitana. O número mostra que a criminalidade aumentou no período em relação ao ano passado. Nos três primeiros meses de 2009, foram registrados 463 assassinatos na região. O aumento é de 24,4%. O número de 2009 já era 18% do que o do mesmo período de 2008, por sua vez.
A contagem das mortes violentas é feita diariamente pela reportagem da Gazeta do Povo com base nos boletins do Instituto Médico-Legal de Curitiba. A informação é relevante principalmente devido à demora do governo do estado em fornecer informações estatísticas sobre a criminalidade no estado.
Os dados de 2010 mostram que, se a violência continuar ocorrendo na mesma velocidade, Curitiba e região podem chegar ao final do ano com mais de 2 mil mortes violentas. No ano passado. O ano de 2009 acabou com 1.685 ocorrências.
Questionada sobre o aumento da criminalidade neste ano e em relação à projeção de mortes violentas para 2010, a Secretaria de Segurança afirma que o número de mortes violentas em Curitiba e região metropolitana caiu nos últimos cinco fins de semana o que seria reflexo do policiamento reforçado pela operação Cidade Segura. A queda de assassinatos atinge 30,9% na Grande Curitiba e chega a 36,2% se for considerada apenas a capital. "A projeção para dezembro já pode ser desconsiderada porque as polícias estão a cada final de semana reduzindo o número de mortes violentas na cidade", diz nota enviada ao jornal.
Março
Na comparação com fevereiro, o mês de março acabou com um número inferior de mortes violentas. Mesmo assim, foram registradas 165 no período até as 20 horas de ontem. Como em outras ocasiões, as mortes provocadas por arma de fogo foram as mais comuns. Foram 137 mortes desse gênero, contra 17 causadas por agressão física e 11 assassinatos com uso de arma branca. Os homens na faixa etária dos 18 aos 30 anos continuam sendo as principais vítimas.
Para os especialistas em segurança pública, a tendência de crescimento rápido e intenso é vista como reflexo de três fatores: a disponibilidade e acesso a armas de fogo; a presença da droga; e a banalização do crime. Na opinião do ex-secretário de Segurança Pública de Minas Gerais Luís Flávio Sapori, professor de Ciências Sociais, Curitiba sofre em função do varejo da droga. "A bolha de violência imposta por ela acaba levando a uma letalidade em qualquer conflito", lembra ele.
Por outro lado, o coordenador do Grupo de Estudos da Violência da Universidade Federal do Paraná, o sociólogo Pedro Bodê, acredita que somente as drogas não servem como explicação. Se fosse assim, segundo ele, capitais do mundo onde há consumo de drogas teriam índices de homicídios altos. Segundo Bodê, o que produz a subida da criminalidade é a falta de um sistema de informações e a inexistência de transparência. "É preciso ter um bom diagnóstico da origem dos homicídios e haver uma intervenção direta. Enquanto houver a sombra e a incerteza dos dados, vamos continuar na escalada", diz o sociólogo.
Saídas
Para não ver cumprida a projeção negativa de 2010, os especialistas sugerem a adoção de algumas estratégias, na grande maioria utilizadas por outras secretarias de segurança pública. Para o advogado criminalista Dálio Zipin, representante do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o policiamento deveria ser aumentado; a polícia deveria investir na inteligência; e o Estado precisa investir mais em políticas públicas como infraestrutura, educação e trabalho. O combate ao uso de drogas, principalmente com a oferta de locais de recuperação, também é pertinente.
O professor em Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul José Vicente Tavares dos Santos também destaca a necessidade da implantação de projetos sociais de prevenção à violência; a criação de uma polícia comunitária e a oferta de mais empregos para a população jovem comumente atingida pela violência. "Onde houve investimento em segurança, priorizando a inteligência e efetivo, ocorreu a diminuição da violência."
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