A cada 15 dias, Sérgio Becker vai buscar a mãe, Iracema Ribeiro, de 78 anos, em Almirante Tamandaré. Ela tem problemas vasculares e há três anos é obrigada a deixar o município para fazer o tratamento em Curitiba| Foto: Fotos: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Colombo lidera ranking de atendimentos

Moradores de Colombo são os que mais procuram atendimento em dois dos maiores hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Curitiba, o Hospital de Clínicas (HC) e o Hospital Evangélico. Neste ano, o HC atendeu 16.976 pessoas de Colombo. A seguir vêm os moradores de Almirante Tamandaré e Pinhais. No Evangélico, também há grande procura de moradores de Almirante Tamandaré, São José dos Pinhais, Araucária, Fazenda Rio Grande, Campo Largo, Pinhais, Piraquara e Campo Magro.

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Edinéia mora em Pinhais, mas foi encaminhada para o Posto de Saúde do Boa Vista, em Curitiba. A espera por uma consulta já dura dois anos
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Mais de 13 mil pacientes da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) tomam o rumo da capital por mês para atendimentos médicos que deveriam ser feitos no município de origem. A migração pode ser vista nas portas dos ambulatórios dos grandes hospitais de Curitiba, onde não faltam reclamações de quem chega a esperar até seis meses por uma consulta, dependendo da especialidade. Das vagas ofertadas na capital para pacientes não residentes, a região metropolitana fica com 60% da oferta. A maior procura é por especialistas nas áreas de oftalmologia, cardiologia, neuropediatria e dermatologia.

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De acordo com a Central de Marcação de Consultas da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, dos 72 mil atendimentos realizados em setembro deste ano pelos hospitais e clínicas credenciados ao Sistema Único de Saúde (SUS), 18% foram de moradores da RMC, 73% de moradores de Curitiba e 9% de outras regiões do estado.

O superintendente de gestão e sistema de saúde do estado, Ivano Carulla, ressalta que a programação pactuada pelos municípios, de ofertar 70% dos atendimentos para moradores da capital e 30% para não residentes, está sendo cumprida. "Há problemas, mas um deles é quanto à acomodação de alguns municípios. A melhor solução seria o consórcio", defende. Carulla lembra que muitas cidades da RMC já possuem infra-estrutura para atendimentos de média e alta complexidade, com hospitais e centros de especialidades, mas não conseguem atender e gerenciar a demanda.

Até o fim do ano, o governo do estado pensa em discutir um novo plano de regionalização e pactuação. "Não pode ficar só na ‘empurroterapia’", diz Ivano Carulla. Enquanto isso não acontece, uma forma de tentar resolver o problema é descentralizar os atendimentos, por meio do credenciamento de consultas e exames perto das regiões de origem dos pacientes.

Demora

No Hospital de Clínicas de Curitiba, alguns exemplos demonstram como as especialidades são procuradas devido à falta de oferta no município de origem. Iracema Franca Ribeiro, 78 anos, vem a cada 15 dias de Almirante Tamandaré para o tratamento de problemas vasculares, que vem sendo feito há três anos. Para o filho Sérgio Becker Fagundes, 49 anos, é uma rotina estafante. O morador de Colombo traz a mãe por volta das 12 horas e só sai depois das 17 horas.

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Já Edinéia Rodrigues Carguinim, 36 anos, faz tratamento com um neurologista depois de um acidente vascular cerebral (AVC) ocorrido no ano passado. Moradora de Pinhais, foi encaminhada pela unidade de saúde ao posto de atendimento do bairro Boa Vista. Mas, devido à demora, teve de pagar pelos exames. "Eu não tinha tempo para esperar", comenta. A espera por um especialista demorou de dois a três meses. Ela também faz tratamento da coluna, mas a espera por um ortopedista está perto de completar dois anos.

Para Pedro Alves de Almeida, 38 anos, tem sido difícil ver o sofrimento do filho, Josué, 4 anos, que sofre de fimose. O problema foi identificado há um ano na Unidade de Saúde de Tanguará, mas o caso não foi encaminhado para um especialista. "Ele chora de dor e pede que eu o leve ao médico", conta. Quando procurou o Hospital de Clínicas, a consulta foi marcada para oito dias depois. "Sei que demora, mas como é que fica o menino?", questiona.

Para a médica Ana Luiza Contim, responsável pelo Centro de Atendimento à Saúde do Município (CAS), a solução seria melhorar o atendimento na unidade de origem. "O porcentual de encaminhamentos é alto em situações que poderiam ser resolvidas na própria unidade de saúde", afirma. Ela acha que a fila da RMC é mensurável, desde que o operador do município esteja cadastrado. "A procura pela vaga mostra o perfil do município. A organização é fundamental".

Outro problema são os valores pagos pelo SUS. Especialidades como dermatologia, reumatologia e endocrinologia, por exemplo, têm pagamentos baixos e não há grande oferta de médicos. "Em média, cada consulta custa R$ 10", diz Ana Luiza. Para o próximo ano, o Ministério da Saúde, por meio do Fundo Nacional de Saúde, deverá repassar R$ 99.850.261,41 para custear procedimentos aos não residentes em Curitiba e R$ 159.719.780,26 para os moradores da cidade.