Ricardo Ramina, do Instituto de Neurologia de Curitiba: proximidade entre centro cirúrgico e laboratório foi a chave do sucesso| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) estiveram ontem no Paraná para levar aos paulistas uma técnica criada em Curitiba e que está garantindo mais eficiência nas cirurgias de remoção de tumores cerebrais. Até há pouco tempo, esse procedimento dependia apenas da capacidade do médico – se o tumor não fosse removido totalmente, era necessária uma nova operação. Os médicos curitibanos desenvolveram uma maneira de usar a ressonância magnética para evitar a necessidade de repetir a cirurgia.

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A ressonância magnética é um dos aparelhos mais eficazes no diagnóstico de tumores e não utiliza radiação, mas o equipamento custa caro. Nenhum hospital na América Latina dispõe dessa tecnologia para uso exclusivo em cirurgias. Para contornar essa dificuldade, em 2005 foi desenvolvida uma técnica que permite utilizar a ressonância magnética tanto para exames de rotina quanto para as cirurgias, permitindo que a análise seja realizada praticamente a custo zero.

O Instituto de Neurologia de Curitiba (INC) e o Centro de Diagnóstico por Imagem (Cetac) firmaram uma parceria: o centro cirúrgico e o laboratório de exames foram projetados para que o paciente realize a ressonância durante a operação. Nesse processo, ele é retirado do centro e levado ao laboratório por um elevador especial. Caso ainda haja vestígios de tumor (e a máquina consegue localizar lesões de 0,3 milímetro), a equipe médica retorna à sala de cirurgia e finaliza o procedimento. Quando não está sendo utilizado em cirurgias, o equipamento serve para exames de rotina.

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O caso curitibano já foi apresentado em diversos congressos de Medicina e publicado em uma revista científica europeia. Os médicos do INC e do Cetac foram os primeiros no Brasil a utilizar a ressonância magnética em uma cirurgia. Um estudo científico realizado com 34 pacientes mostrou que a técnica desenvolvida pelo INC e pelo Cetac foi vital para 14 deles.

Diretor do Cetac, o médico Guilberto Minguetti explica que existe uma relação direta entre a quantidade de tumor retirada e as chances de sobrevivência do paciente. "Por isso a técnica é tão importante e poderá ser exportada para outros locais", diz.

Chefe do serviço de Neuro­cirurgia do INC, Ricardo Ramina afirma que o tumor cerebral maligno é um dos piores tipos de câncer. Ele cita como exemplo o caso do político norte-americano Ted Kennedy, que faleceu poucos meses após o diagnóstico. O próprio tumor pode causar problemas na fala, visão e sistema mo­­tor, mas uma cirurgia mal-feita pode provocar danos irreversíveis e até a morte. "Com a publicação de nosso trabalho, pacientes com tumores cerebrais em todo o mundo poderão ser beneficiados", avalia.