Curitiba está prestes a se tornar uma cidade cercada de pedágios em quase todas suas entradas e saídas. A partir da inauguração da praça em Campina Grande do Sul, prevista para amanhã, no raio de no máximo 40 quilômetros a partir do Centro da capital estão instaladas cinco praças de pedágio. O posto de cobrança mais próximo fica em São José dos Pinhais, na BR-277, a aproximadamente 27 quilômetros. As únicas vias livres de pedágio saindo da capital são a Estrada da Graciosa, que dá acesso ao litoral paranaense, e a Estrada da Ribeira (BR-476), que leva a São Paulo. Com a ajuda do programa Google Earth, que utiliza fotos por satélite, a Gazeta do Povo elaborou um infográfico que dá a noção geográfica da localização das praças.
O diretor regional da Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias (ABCR), João Chiminazzo Neto, acredita que o aumento na quantidade de pedágios nas cercanias de grandes cidades é uma tendência irreversível e também avalia que é uma forma inteligente de manter boas estradas onde o fluxo é maior. É para os grandes centros, que reúnem muitos consumidores e boa parte das indústrias, que convergem grande parte dos caminhões de carga principais responsáveis por estragos no pavimento e pela lentidão no tráfego.
Mas para quem precisa estar em constante locomoção, os postos de cobranças da região metropolitana podem se transformar em "barreiras", físicas ou econômicas. O pedágio pesa no bolso da vendedora Cristina Nebes, 40 anos. Ela representa empresas de venda de aço e precisa viajar constantemente. "Eu acho um absurdo [essa quantidade de pedágio]. Um ou outro a gente não se importaria. Mas já é muito, e para distâncias curtas", avalia. Ela acredita que se formou um cerco. "Eu pago porque não tenho opção", diz.
Representante comercial de móveis, Gustavo Fendrich Batista, 29 anos, também diz que se sente cercado. "Tem de pagar pra sair ou para chegar. Até parece que não é para vir ou para deixar Curitiba", comenta. Ao menos uma vez por mês ele precisa viajar e reclama da cobrança. "Sempre fui contra pedágio porque acho que já pagamos impostos demais para custear os serviços públicos", avalia.
Praia cara
A menos que o motorista opte por descer para o litoral pela sinuosa Estrada da Graciosa, ir à praia agora vai representar a certeza de pagar pedágio. E a novidade começou bem no feriado de carnaval. A cobrança nas praças de São José dos Pinhais (BR-376) e Garuva (BR-101) foi iniciada dia 22 de fevereiro. A tarifa é de R$ 1,10 para veículo de passeio ou por eixo de caminhão. São as primeiras praças autorizadas a funcionar no trecho administrado pela Autopista Litoral Sul, que cuida das rodovias do entorno de Curitiba até Palhoça (SC).
Já o início da cobrança no posto de Fazenda Rio Grande, também no final de fevereiro, marcou o encerramento do processo de construção das praças pela Autopista Planalto Sul, que administra a BR-116 do entorno de Curitiba até a divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul. Conclui-se assim o projeto de seis postos de arrecadação, que cobram tarifa de R$ 2,70 para veículos de passeio. No trecho da Autopista Régis Bittencourt, rumo a São Paulo, só em abril ou maio todas as praças estarão em pleno funcionamento, cobrando tarifa de R$ 1,50.
Distorções
João Fortini Albano, professor do Laboratório de Transportes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que a sensação de "cidade sitiada" tem cada vez mais probabilidade de se espalhar. A cidade de São Paulo, por exemplo, é cercada por 25 praças de pedágio no raio de mais ou menos de 35 quilômetros do marco zero. As mais recentes, no Rodoanel que circunda parte da metrópole, foram instaladas em dezembro. Também em Porto Alegre há três postos de arrecadação no entorno da cidade. Albano reforça que se a prática de implantar praças nas saídas já parece antipática para alguns, o pedágio urbano pode deixar mais gente contrariada. "Em muitos lugares estão sitiando o entorno, mas há lugares onde é o centro que está sendo controlado", lembra.
Também professor do Laboratório de Transportes da UFRGS, Fernando Dutra Michel defende a ideia de que o pedágio é justo porque é cobrado só de quem usa a rodovia, mas destaca que existem distorções graves. Pessoas que moram nas regiões metropolitanas, por exemplo, pagam uma tarifa proporcionalmente alta para fazer um pequeno percurso na rodovia. "O ideal seria a cobrança por quilômetro rodado, semelhante ao que acontece com o consumo de água e energia elétrica", aponta. Uma saída seria isentar ou conceder desconto para moradores das cidades onde há praças. Ele conta que os motoristas de Viamão, no Rio Grande do Sul, não pagam a tarifa, mas destaca que a medida foi prevista já no contrato de concessão, para evitar supostas perdas para a empresa.
Michel destaca que as praças de cobranças são geralmente instaladas em locais que concentram a circulação de renda. "São lugares em que as pessoas têm certa capacidade de arcar com a despesa. Mas há localidades em que, por mais que as rodovias sejam necessárias, não tem como exigir pagamento para pavimentar ou manter a estrada, como as ligações para o escoamento da safra do Mato Grosso", explica.
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