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Combate às drogas

Curitiba inicia ofensiva para esvaziar as “minicracolândias”

Marcelo, 38, se orgulha de nunca ter roubado | Fotos: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Marcelo, 38, se orgulha de nunca ter roubado (Foto: Fotos: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo)
O crack levou os sonhos de Anderson de trabalhar em circo. Hoje, ele faz malabares nos sinais |

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O crack levou os sonhos de Anderson de trabalhar em circo. Hoje, ele faz malabares nos sinais

Jovem usuário, clicado pouco depois de ter fumado crack |

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Jovem usuário, clicado pouco depois de ter fumado crack

Luiz Antonio teve a vida destruída pelo crack, mas não consegue se livrar do vício |

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Luiz Antonio teve a vida destruída pelo crack, mas não consegue se livrar do vício

Manchete apregoa

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Manchete apregoa

Anderson Moreira construiu um barraco, às margens do Capanema, uma das mini-cracolândias |

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Anderson Moreira construiu um barraco, às margens do Capanema, uma das mini-cracolândias

Detalhe da frente do barraco de Anderson Moreira |

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Detalhe da frente do barraco de Anderson Moreira

Parte das moedas que Anderson ganha nos sinais vai parar nas mãos de traficantes de crack |

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Parte das moedas que Anderson ganha nos sinais vai parar nas mãos de traficantes de crack

Rodrigo abraça Marcelo Avancini, na praça perto do Rio Capanema:

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Rodrigo abraça Marcelo Avancini, na praça perto do Rio Capanema:

Marcelo e Rodrigo vendem peças de artesanato nos sinais, próximo a mini-cracolândia |

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Marcelo e Rodrigo vendem peças de artesanato nos sinais, próximo a mini-cracolândia

Caps do Cajuru oferece aulas de ioga para ajudar usuários a se livrarem da dependência |

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Caps do Cajuru oferece aulas de ioga para ajudar usuários a se livrarem da dependência

Um rapaz moreno caminha a passos indecisos e para na esquina. Por detrás dos cabelos desgrenhados, os olhos vagos e um sorriso débil no rosto. Os sinais confirmam: ele é um dos mais de 12 mil dependentes de crack em Curitiba. Assim como outros usuários, ele vai todos os dias à Rua Desembargador Clotário Portugal, no Centro da capital, para "estourar pedras". Assim que a droga acaba, perambula pela região, sob efeitos do entorpecente.

"Eu acabei de fumar. Faz dois minutos", assente Everton Oliveira, 23 anos. "[O crack] me ajuda a esquecer", completa.

Assim como a Clotário Portugal, outros pontos de Curitiba se tornaram focos de atenção, por atraírem cotidianamente uma clientela fiel de usuários de drogas. São áreas como as margens do Rio Capanema, a Rua Riachuelo, terrenos no Parolin e alguns reassentamentos. Espaços que funcionam como "minicracolândias", que já preocupam o poder público.

Enfrentamento

Nessas próximas semanas de abril, a prefeitura deve pôr em prática uma nova tentativa de tratar os dependentes químicos. Dois ônibus – com psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais e agentes de saúde – vão circular pelos pontos de consumo, com o objetivo de estabelecer vínculo com os usuários e oferecer-lhes um atendimento "mais humano".

Para isso, o município capacitou mais de 600 agentes comunitários, treinados em identificar pessoas em situação de risco – como Everton e outros tantos frequentadores das minicracolândias – e sensibilizá-los para necessidade de tratamento. Em outra ponta, o poder público vai convidar líderes comunitários a fortalecer esta rede.

Essência paulista

Apesar de não prever auxílio em dinheiro, o projeto curitibano tem a mesma essência da iniciativa lançada em janeiro pela prefeitura de São Paulo, que oferece trabalho e hospedagem a frequentadores da cracolândia. "O uso de drogas não pode ser visto como uma questão moral, de caráter. É uma questão de saúde pública. É uma ­­doença e precisa ser olhada sob esse prisma", ressalta o diretor do departamento de Política Sobre Drogas da Secretaria Municipal da Defesa Social de Curitiba, Diogo Busse.

A cidade planeja, também nas próximas semanas, a expansão dos Centros de Atendimento Psicossocial (Caps) para além das seis unidades que hoje prestam atendimento aos dependentes. O programa também inovou ao incluir métodos terapêuticos não convencionais. Pacientes do Caps do Cajuru, por exemplo, passaram a frequentar aulas de ioga.

"A ideia é aumentar a cobertura [dos Caps] e a diversidade de ações. Além da abertura de novas unidades, queremos manter todas funcionando 24 horas", sintetizou o diretor do departamento de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, Marcelo Kimati.

"Eu sou fraco perante a droga. Mas nunca roubei"

Três anos atrás, o vício em crack e em álcool fez com que Marcelo Avancini, de 38 anos, deixasse para trás o lar, a mulher e o emprego – trabalhou por anos como garçom do Graciosa Country Club. Não queria que a família sofresse por vê-lo corroído pela dependência química. Na rua, vive da venda do artesanato que faz a partir de sucata de alumínio. Usa as latinhas para fumar "pedras", várias vezes ao dia. "Eu sou fraco perante a droga. Mas nunca roubei, nunca fui preso", ressaltou.

Articulado, o homem de fala mansa virou uma espécie de "líder do bem" da Praça Constantino Fanini, às margens do Rio Capanema, uma das minicracolândias de Curitiba. Ensina artesanato aos outros usuários e orienta-os a "não cair no lado errado". Os conselhos e os cuidados dispensados aos amigos lhe renderam o apelido de "Paizão".

"Eu roubava para comprar crack. Foi esse cara que me fez parar e sonhar com coisa melhor", diz Rodrigo, de 25 anos, um dos "filhos" de Avancini, e que se viciou depois que a mulher morreu.

Avancini reconhece a força da pedra. Já esteve internado por três vezes, mas sucumbiu às recaídas. "Não podia tomar uma cerveja, que já era", relembra. Sente vontade de se livrar do vício e recomeçar vida nova, mas sabe que, sozinho, não conseguirá abandonar o cachimbo.

De frente pro mar

Perto dali, outro frequentador da minicracolândia, Anderson Moreira, de 25 anos, construiu um barraco, à beira do Capanema. Caprichoso, decorou o local com um crucifixo, vasos de flores e bonecos. "E é de frente pro mar", brinca. É ali que se esconde para usar crack. Para comprar a droga, faz malabares em sinais de trânsito. O vício roubou um de seus muitos sonhos de juventude: trabalhar em circo. "Agora sei que é difícil. É difícil sair dessa, irmão. Por mais que queira, a pedra não deixa", lamentou.

No interior, atendimento a dependentes é "básico"

Denise Paro, da sucursal

Boa parte das principais cidades do interior do Paraná não contam com propostas alternativas para tratar de usuários de crack como a que Curitiba tenta implantar agora. À exceção de Londrina, que já implantou o Consultório de Rua, com uma equipe multidisciplinar que vai até os usuários, Ponta Grossa, Foz do Iguaçu, Maringá e Cascavel investem no tradicional: Centros de Atenção Psicossocial (Caps), leitos psiquiátricos, clínicas terapêuticas e recebem recursos do programa do governo federal, Crack é Possível Vencer. Na prática, porém, cada um tem suas dificuldades.

Em Foz do Iguaçu, por exem­plo, cidade com fácil aces­so às drogas em função da fronteira, não há clínicas te­rapêuticas. Os usuários precisam ser encaminhados a outras cidades.

Em Cascavel, a demanda é grande. Só o Conselho Municipal Antidrogas (Co­mad) atende cerca de 15 famílias por semana, encaminhado os pacientes para internações ou desintoxicação.

Sua opinião

Como você avalia iniciativas como a de Curitiba e São Paulo, que vão até os usuários de drogas e tentam, por meio da construção de um vínculo de confiança, convencê-los a se tratar?Deixe seu comentário abaixo e participe do debate.

Retratos do crack

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