Até o fim de dezembro, a prefeitura de Curitiba vai ter em mãos os números que vão apontar qual é a capacidade que a cidade tem de absorver carbono. O levantamento está sendo feito pela Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS), a partir de um convênio firmado com a administração municipal. A bióloga Marília Borgo, pesquisadora da SPVS, explica que as equipes estão em campo de segunda a quinta, desde o dia 23 de outubro, e na sexta-feira os dados são analisados e feitos os cálculos.
José Antônio Andreguetto, secretário de Meio Ambiente de Curitiba, diz que os números que serão fornecidos pela SPVS vão ser usados para que a prefeitura possa confrontar os dados com as informações referentes à emissão de gases do efeito estufa. "O objetivo é ter um inventário, saber qual é o déficit ou o superávit, para daí podermos trabalhar no projeto de Cidade Carbono Neutro", completa Andreguetto.
Segundo ele, esse levantamento completo deverá ser concluído no prazo de um ano. O secretário explica que a partir do momento que a cidade tiver essas informações será possível saber, a cada ação, o que foi gerado de emissão de gases ou compensado. O mais importante, de acordo com o secretário, é fazer com que as pessoas e a comunidade assimilem isso.
O trabalho
Marília Borgo conta que o trabalho está sendo feito, inicialmente, nos parques públicos. Os pesquisadores visitaram, até agora, 12 parques da cidade. Ela afirma que se forem identificadas áreas particulares relevantes (em tamanho no mínimo dois hectares e qualidade), as equipes da SPVS vão conversar com os proprietários e avaliar a possibilidade de fazer o levantamento nesses locais.
O trabalho dos pesquisadores consiste em escolher uma parcela (área relevante) de floresta e selecionar uma árvore. A partir desse ponto é considerado um raio de dez metros. Então é feito o levantamento de algumas características dessa árvore e depois os dados são lançados em uma planilha. Segundo Marília, as árvores usadas para o levantamento são identificadas com uma plaqueta e a idéia é que essa medição ocorra a cada cinco anos.
Com as pequenas amostras avaliadas, a SPVS calcula quanto de biomassa (peso das árvores, nesse caso) tem na área. A pesquisadora diz que 50% do peso da árvore é carbono. O cálculo, então, vai dizer o volume que pode ser absorvido ali e que, portanto, não estará contribuindo para o efeito estufa. Em seguida, os números serão projetados para toda a cidade.
No caminho
Mauricio Roberto Maruca, especialista em administração de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e Protocolo de Quioto, diz que Curitiba está no caminho certo. O empresário, sócio-fundador da Araúna Energia e Gestão Ambiental, em São Paulo, lembra que "não adianta pensar que o aquecimento global não vai acontecer porque já está acontecendo". Mas o importante, de acordo com ele, é que os dirigentes não devem fazer só marketing, mas adotar ações reais para o controle do problema.
E de quem é a responsabilidade? Para Maruca, algumas atitudes têm de partir dos governos, mas quem deve agir efetivamente é a iniciativa privada. "Os municípios devem ser os gestores e fiscalizadores", completa. Mas sem lucro não deve haver investimento, lembra o empresário, e uma das formas para solucionar essa equação é gerar créditos de carbono e fazer sua comercialização. "Lucro é bom, desde que seja com responsabilidade."