Financiamento
Governo corta R$ 1,28 bi no orçamento do MEC no momento em que Conae pede mais investimentos
O Ministério da Educação foi a pasta mais afetada em um corte no orçamento definido anteontem pelo governo federal: terá R$ 1,28 bilhão a menos para gastar em 2010. Com este novo corte, o orçamento da Educação encolheu R$ 2,34 bilhões em relação aos valores aprovados pelo Congresso Nacional.
No total, o Executivo está reduzindo despesas no valor de R$ 7,5 bilhões para tentar conter o consumo do governo e, por consequência, o crescimento da economia e da inflação. Na opinião da doutora em Educação Andréa Barbosa Gouveia, pesquisadora e professora de Financiamento da Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o corte no orçamento significa menos recursos para investimento. "Pode pôr em risco novos repasses de recursos e afetar os investimentos na rede federal. O Reuni [programa de reestruturação e expansão das universidades federais] está em execução com um porcentual grande de recursos em ampliação de câmpus", afirma.
Aporte
A medida do governo vai na contramão das propostas feitas durante a Conferência Nacional da Educação (Conae), que ocorreu em Brasília, em abril, e poderiam alterar o modelo de financiamento da educação. A Conae reuniu mais de 4 mil pessoas para debater e eleger diretrizes para o novo Plano Nacional de Educação (PNE) para os próximos dez anos. As decisões ainda precisam ser acatadas pelo Executivo e aprovadas pelo Congresso Nacional.
Entre as sugestões está a implantação do "Custo Aluno Qualidade Inicial" (Caqi). De acordo com o presidente executivo do Movimento Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos, o Caqi inverte a lógica de definição do custo mínimo de aluno por ano. Hoje, explica Ramos, este custo é definido pelo total de valor arrecadado pelo Fundeb em todas as unidades da federação e dividido pelo número de matrículas. Com o Caqi, este valor mínimo passa a ser definido a partir de uma conta que prevê quanto seria necessário por aluno para que a educação fosse oferecida com qualidade em cada uma das etapas.
Para que o Caqi seja implantado, a proposta dos participantes da Conae é que a União passe a contribuir no Fundeb com 1% do PIB ao ano, o que representa cerca de R$ 31,4 milhões. "O ponto central é o aumento da contrapartida da União no Fundeb, porque os estados e municípios estão no limite dos seus recursos para investir", afirma Ramos.
(TD, com Agência Estado)
Curitiba reclama a perda de R$ 172 milhões no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) desde 2008. Com o montante que a cidade deixou de receber, seria possível atender mais 39.306 crianças em um ano, se considerado o investimento médio feito por aluno em 2009, de R$ 4.375,76. De acordo com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), cerca de 20 cidades no Paraná passam por situação semelhante à de Curitiba: contribuem muito e recebem pouco retorno do Fundo. No entanto, o Fundeb foi criado justamente para ser uma espécie de "Robin Hood" da educação. O objetivo é fazer com que os recursos cheguem aos municípios mais pobres. Para isso, as cidades mais ricas acabam recebendo menos recursos do que destinaram ao fundo.
Cada estado tem o seu Fundeb, onde são depositados 20% da receita de um cesta de impostos arrecadados por estados e municípios. Os recursos depositados no fundo são redistribuídos com base no número de alunos matriculados, segundo o censo da educação feito pelo Ministério da Educação (MEC).
O governo federal só coloca recursos no fundo para complementar a verba dos municípios e estados que não conseguem chegar ao custo mínimo nacional por aluno, que em 2010 é de R$ 1.415,97. "O recurso retirado do Fundo é proporcional ao número de alunos matriculados. Cada caso tem de ser olhado de maneira particular, mas geralmente quem coloca muito dinheiro e tem pouco aluno recebe pouco em relação ao que contribuiu", afirma o diretor de articulação e apoio aos Sistemas da Educação Básica do MEC, Romeu Caputto.
Diferenças regionais
Essa diferença provocou uma insatisfação por parte de estados e municípios, que passaram a reivindicar uma contribuição maior da União. A sugestão da Conferência Nacional de Educação (Conae), realizada em abril em Brasília, é que o governo federal passe a depositar no fundo 1% do Produto Interno Bruto (PIB). "O Fundeb não foi capaz de resolver todos os problemas de má distribuição de recursos para a educação. Não podemos penalizar os grandes para diminuir as disparidades regionais. Temos de lembrar que dentro de Curitiba temos muitos bairros pobres e que precisam de atenção", diz Jorge Wekerlin, supervisor da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba.
No caso de Curitiba, no período em que há a reclamação das perdas houve aumento no número de alunos atendidos, que não foi revertido para os cofres do município. O número de matrículas passou de 127.257, em 2008, para 144.889, em 2009. Na educação infantil, foi de 21.187 para 35.971. Porém, de acordo com Wekerlin, apenas no ano passado o Fundeb passou a contemplar o total de matrículas da educação infantil e ensino médio. Como uma matrícula na educação infantil vale menos, devido a fatores de ponderação para cada etapa, o município perdeu recursos porque é ele quem atende o ensino infantil.
Benefícios
De acordo com o presidente da Undime, Carlos Eduardo Sanches, aproximadamente 20 municípios em todo o estado estão em situação semelhante à de Curitiba. "Temos de garantir que a União invista mais em educação proporcionalmente ao que arrecada. Não dá para ficar mais na responsabilidade só de estados ou municípios. Mas o Fundeb foi bom para as cidades que não tinham recursos para investir na educação", diz.
Este é o caso de Tunas do Paraná, no Vale do Ribeira, uma das regiões com os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado. De acordo com a secretária de Educação do município, Elisângela Krepel Krasota, sem o Fundeb seria impossível manter o ensino municipal. "Nossa arrecadação é muito baixa e não dá conta. Se com o Fundeb vivemos no limite para o pagamento da folha dos professores, imagine sem", diz. Já em Cerro Azul, também no Vale do Ribeira, o Fundeb foi essencial para garantir o atendimento da educação infantil. "Mas nossa educação ainda é precária", diz a presidente da Comissão do Fundeb no município, Sirlei de Oliveira.
O presidente do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundeb, César Callegari, que também preside a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, ressalta que com o Fundeb não houve mais recursos para municípios de estados como Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. "É o mesmo recurso que já circulava, distribuído de uma maneira um pouco melhor. É preciso uma participação mais intensa da União, que pode usar o Fundeb como um mecanismo para fazer a verba chegar a estados e municípios", diz.
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