Nunca as observações sobre o calor tão abundantes nos elevadores da capital do Paraná nessa época do ano foram tão pertinentes. Curitiba registrou ontem a temperatura mais alta desde 1970, quando a estação meteorológica da cidade começou a operar: 34,8ºC.
Até então, o recorde havia sido os 34ºC verificados em abril de 2004. Se for incluída a região metropolitana, segundo dados da estação de Cerro Azul, o dia mais quente desde que a medição começou a ser feita foi 9 de janeiro de 2003 38,2ºC. Mas ontem as outras regiões do estado não ficaram atrás: Antonina marcou 36ºC, Ponta Grossa 32,7ºC, Londrina 35,3ºC, Maringá 35ºC, Pato Branco 34ºC, Cascavel 34,5ºC, Foz do Iguaçu 35,2ºC e Umuarama 37ºC.
De acordo com o meteorologista do Sistema Tecnológico Simepar, Pedro Nazareno Ferreira da Costa, o calor sufocante que vem assolando o estado é resultado das massas de ar quente empurradas do Nordeste e Sudeste à região ao Sul do país, que impedem a penetração de frentes frias. "As frentes frias que se formam não estão conseguindo furar essa barreira", argumenta.
Um novo round desse duelo atmosférico deve ocorrer a partir de hoje, quando está prevista a chegada ao Paraná de uma frente fria que ontem estava na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai. "Se esse bloqueio se enfraquecer, a frente fria pode causar chuvas fortes e mais bem distribuídas em todo o estado", observa Costa. "Mas também existe a possibilidade de ela se deslocar para o oceano antes de chegar ao Paraná."
Mal-acostumados com dias tão abafados, os curitibanos se viram como podem para driblar o calor. As amigas Leidemara Meheret, 20 anos, e Ionara Simas, 24 anos, por exemplo, que ontem à tarde sofriam com o calor enquanto esperavam o ônibus no tubo da praça Eufrásio Corrêa, preferem se refrescar à maneira tradicional. "Está terrível. Para agüentar, só com muita água, suco, sorvete, sombra, ventilador, piscina se der... mas o melhor seria estar na praia", sugeriram.
Uma brisa marinha também era o sonho do cobrador do mesmo tubo uma verdadeira sauna em zinco e vidro , que pediu para não ser identificado. "É insuportável. Tenho que trabalhar de pé, porque é impossível sentar nessa cadeira. Ela fica pelando", conta. O máximo que ele consegue fazer para se refrescar é tomar um ar na parte externa da estação, quando o movimento está mais tranqüilo, e uma ou outra pausa para beber água. "Aqui é difícil", resumiu.
Na mesma praça, o catador de papel Isaías Poli, 37 anos, aproveitava a tarde do dia mais quente dos últimos 36 anos do jeito que muita gente gostaria, mas não tem coragem: refrescando-se no chafariz. "Quando está quente assim eu sempre passo para tomar uma ducha, aqui ou na Rui Barbosa, mas às vezes vem o guarda e me atropela", relata. E deu outras dicas: "Eu também molho as roupas e a toalha, jogo água na cabeça e carrego 4 litros dágua no carrinho".
Ao contrário de Isaías, o gari Augusto Henco, 51 anos, estava suando a camisa ontem à tarde. "É bastante quente. Quente e sofrido. E essa nossa roupa não ajuda, é muito grossa e fechada", reclama. Para se proteger do calor, ele tenta ficar mais à sombra. "E dou um jeito de arrumar água gelada para beber", conta. E protetor solar? "Não uso. Estou acostumado com o sol."
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