Duas manifestações contra a Copa do Mundo foram realizadas ontem em Curitiba. A primeira aconteceu em frente à prefeitura da capital, no Centro Cívico, perto das 16 horas. O grupo do Comitê Popular da Copa reuniu 10 pessoas que protocolaram uma denúncia no Ministério Público Estadual (MP-PR) questionando o uso do potencial construtivo para as obras do estádio.
O potencial construtivo é um mecanismo criado pelo município que permite a arrecadação de dinheiro com empresas da construção civil em troca do investimento no patrimônio histórico da cidade ou em ações sociais. "É preciso ter uma contrapartida social e não está transparente qual será essa contrapartida com as obras da Arena", ressalta Luana Xavier, integrante do Comitê.
O documento foi fundamentado por um estudo do Observatório das Metrópoles. Também foram entregues dois dossiês um ao governo estadual e outro à prefeitura com denúncias de irregularidades nas obras para a Copa.
A outra manifestação reuniu cerca de 60 pessoas na Boca Maldita, às 18 horas. No início dos protestos, um integrante do grupo hostilizou parte da imprensa. Ele empurrou um cinegrafista da Rede Massa, afiliada do SBT no Paraná, e tentou impedir o trabalho de outros dois profissionais.
Mas foi Luciano Cordeiro, 34, catador de materiais recicláveis desde os 10 anos, quem chamou a atenção durante o ato. Ele subiu em seu carrinho e segurou cartazes contra a Copa. "Para mim, essa Copa não representa nada. Vou continuar vivendo nas ruas e não ganharei nada com ela", ressaltou.
O grupo seguiu em passeata rumo ao shopping Pátio Batel. Os manifestantes gritaram palavras de ordem, como "Ah eu já sabia, não vai ter Copa na periferia". No entanto, apenas dois manifestantes conseguiram entrar no shopping ambos brancos, o que provocou uma pequena confusão na entrada do local. Muitos manifestantes alegaram que a entrada foi proibida pela maioria ser afrodescendente.
Segundo o sociólogo e membro da passeata Bernardo Pilotto, o shopping Pátio Batel foi escolhido como marco final da manifestação por "representar que a cidade está de fato transformando-se em negócio, como é a Copa do Mundo".
E enquanto uma pesquisa da CNT divulgada ontem apontou que 50% dos brasileiros desaprovam a Copa no país, uma nova manifestação foi agendada para o dia 20, às 18 horas, na Boca Maldita, em Curitiba.
Projetos serão unificados
O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) disse ontem que deve agregar a outros dez projetos que tramitam na Casa a proposta do governo que aumenta a pena para manifestantes que usarem máscaras. O peemedebista considera possível organizar um texto em comum para ser apreciado em meados de março, a tempo de entrar em vigor antes da Copa do Mundo, mas insistiu que a proposta final deve ser "equilibrada".
"Será um texto equilibrado, sem exageros, sem radicalizar, nada de segurança nacional. Terrorismo não é o caso", afirmou. Alves ressaltou que a aprovação de um projeto do gênero servirá de "resposta" à sociedade e que, por isso, pode ser aprovado o trâmite em caráter de urgência. "Se o do governo chegar a tempo, vamos agregar aos outros", informou.
O Executivo decidiu endurecer com os black blocs e avalia a possibilidade de incluir no projeto de lei, a ser enviado ao Congresso, penas que podem ir a até dez anos de prisão para quem reincidir no uso de máscaras com o objetivo de cometer atos de vandalismo e lesão corporal em manifestações. O argumento do governo é de que não vai criminalizar a utilização da máscara, mas a desobediência a um aviso prévio, feito pela polícia. O texto final da proposta ainda não está fechado.