Para entregar as mais de 16 mil vagas prometidas na educação infantil, a atual gestão da prefeitura de Curitiba terá de superar o desempenho das últimas duas gestões nessa área. Juntos, entre 2005 e 2012, os ex-prefeitos Luciano Ducci (PSB) e Beto Richa (PSDB) abriram 13.277 vagas para crianças entre 0 e 5 anos. A estratégia do prefeito Gustavo Fruet (PDT), entretanto, não se limita à construção de novos Cmeis.
Além da ampliação de convênios com a iniciativa privada, a Secretaria Municipal de Educação também pretende adaptar escolas do ensino fundamental para mesclar crianças de 4 a 5 anos com estudantes de até 15 anos. "Pretendemos criar de 8 a 9 mil vagas com 46 novos equipamentos. O restante virá da ampliação de convênios e dessas adaptações de escolas do [ensino] fundamental", diz Antônio Ulisses de Carvalho, superintendente da secretaria.
Ainda não se sabe quantas das 7 mil vagas faltantes virão via ampliação de convênios ou adaptação de escolas do ensino fundamental. Atualmente, as unidades conveniadas atendem 8,7 mil alunos 18% das 47 mil matriculas na educação infantil pública de Curitiba. O certo é que o modelo de mesclar crianças com adolescentes não contemplará o berçário (0 a 3 anos).
A adaptação de algumas escolas municipais já começou, segundo a secretaria municipal. A unidade Omar Sabbag, no bairro Cajuru, por exemplo, foi remodelada com salas e espaços recreativos específicos para os mais novos, além de colchonetes, brinquedos, banheiros adaptados e enxoval próprio de educação infantil.
Convívio saudável
Segundo Carvalho, entretanto, toda essa adaptação não eliminará a chance de alunos das diferentes faixas etárias dividirem espaços em comum. "A separação total depende da estrutura arquitetônica dos prédios e nem sempre isso será possível", esclarece o superintendente da SME.
Presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Cleuza Repulho, afirma não ter tido conhecimento de municípios que tenham adotado estratégia semelhante à de Curitiba. Ela pondera, entretanto, que a convivência entre diferentes faixas etárias pode ser benéfica. "Se houver adaptação, não há problema. Além disso, o convívio pode ser saudável no sentido dos maiores cuidarem dos menores", argumenta.
A ampliação das vagas na educação infantil tem causado polêmica em Curitiba. Recentemente, o Ministério Público do Paraná havia conseguido na Justiça obrigar a prefeitura a criar 10 mil vagas já no ano letivo de 2015. A liminar foi derrubada após recurso do município. Para atender ao pleito da promotoria, a prefeitura alegou à época que teriam de ser construídos 65 Cmeis só no ano que vem e injetados R$ 272 milhões a mais no orçamento da área, que está previsto para R$ 309 milhões em 2015.
Modelo existe em escolas particulares de Curitiba
O modelo que está sendo implantado pela prefeitura de Curitiba já existe na iniciativa privada. Unidades dos grupos Marista e Positivo, por exemplo, atendem educação infantil e fundamental no mesmo endereço. As instituições, porém, afirmam que as crianças da educação infantil não compartilham do mesmo espaço que as do ensino fundamental.
O Grupo Positivo tem três unidades nesse formato em Curitiba. Todos elas, segundo o setor de marketing do grupo, têm separação física inclusive dos pátios. Os horários de intervalo também são diferentes, de modo que os alunos de diferentes níveis não se encontrem. A instituição disse ainda que os objetivos da educação infantil estão centrados em práticas lúdicas e o ensino fundamental volta-se ao letramento. Por isso, diz o grupo, o ideal "é um afastamento sem ruptura".
Fase de transição
Já o Grupo Marista informou que a educação infantil convive em momentos específicos com alunos do ensino fundamental apenas até o primeiro ano. Mesmo assim, o intervalo, por exemplo, é realizado em sala de aula e depois há um momento para brincar no pátio e áreas comuns.
O modelo serve para transição entre as fases escolares. A partir do segundo ano do ensino fundamental, as crianças continuam no mesmo endereço, mas em prédio diferente.
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