Sete dias consecutivos de temperaturas mínimas abaixo de 5°C e não se fala em outra coisa em Curitiba: que frio é esse? Mas ser monotemático é compreensível se considerarmos que uma sequência tão longa de temperaturas baixíssimas não se repetia na capital desde 1988. Naquele ano, foram sete dias seguidos de temperaturas que oscilaram entre 3,9°C e -1,3°C, de acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Nesse 14 de junho de 2016, completam-se sete dias com termômetros nesse mesmo patamar.
A ocorrência de tantos dias seguidos de frio intenso não é comum. Registros do Inmet mostram que, desde 1961, em apenas cinco anos Curitiba registrou frio prolongado assim.
Em julho de 1971, foram sete dias de temperaturas oscilando entre -3,3°C e 1,9°C. No ano seguinte, em 1972, foram três períodos de frio intenso e estendido: seis dias em junho durante os quais não fez mais do que 0,2°C; uma semana inteira em julho, com máxima de 3°C, e outros seis dias em agosto, quando a mínima foi de -5,4°C. Em 1975, houve outra sequência de dias gelados na primeira quinzena de julho e, dias depois, nevou na cidade.
Depois, em 1987 e 1988, Curitiba teve novamente seis e sete dias seguidos, respectivamente, com temperaturas mínimas abaixo de 4°C. Nesse junho de 2016, a sequência de dias frios começou na quarta-feira (8), com temperatura mínima de 3,7°C; na quinta-feira, fez 2,1°C; na sexta-feira, 0,8°C; no sábado, 2°C; -0,3°C no domingo e -0,8°C na segunda-feira, conforme medição do Inmet (há pequenas diferenças em comparação com a medição do Simepar).
Há quem lembre do gélido julho de 2000, quando os curitibanos encararam mínimas de até -3,5°C. Sim, o frio daquele ano foi forte e persistente, mas não durante tantos dias seguidos como agora. Do mesmo modo, 2013, o “ano da chuva congelada”, não teve temperaturas tão baixas por tanto tempo; a mínima desse ano foi de -2,1°C em 24 de julho (mais frio do que a registrada agora em 2016), mas nos dias seguintes os termômetros já subiram.
O meteorologista Reinaldo Kneib, do Simepar, explica que essa sequência de dias com temperaturas abaixo de 5°C ocorre quando massas de ar polar praticamente se sobrepõem. “Normalmente, entre uma massa de ar polar e outra, temos a passagem de uma frente fria, uma chuvinha, mas dessa vez não aconteceu. Na terça-feira passada uma massa de ar polar entrou e, na sexta-feira, outra massa avançou sobre o estado.”
Kneib também esclareceu que esses dias seguidos de frio congelante não são a compensação dos fãs do inverno pelas sequências de dias de calor intenso registradas no último verão. Brincadeiras à parte, o meteorologista afirmou que não passa mesmo de coincidência.
De um ano para outro, menos 10°C
A onda de frio atingiu também o restante do Paraná. Em um comparativo entre as temperaturas registradas nos 13 primeiros dias de junho de 2015 e 2016, as diferenças são significativas: em algumas regiões do estado, os termômetros caíram até 10°C de um ano para outro. Além disso, nesse ano já tivemos temperaturas negativas em vários municípios e por vários dias, sendo que no ano passado não houve registros abaixo de zero.
Na Região Norte, por exemplo, as temperaturas mínimas oscilaram entre 16°C e 12°C em 2015; nesse ano, ficaram entre 4,9°C e -1,9°C. Mesmo no Sul, onde o clima é normalmente mais ameno, a diferença entre as mínimas de junho de 2015 e de 2016 é considerável: em General Carneiro e redondezas foram de 7,6°C e 5,1°C no ano passado, enquanto nesse junho são de -3,9°C e -7,1°C, respectivamente.