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Sábado passado acordei cedo e senti uma sensação estranha. Não era um desconforto inédito, mas algo que já não sentia há muito tempo. Quando entrei no banheiro, ainda naquele espaço entre o sonho e a lucidez, me ocorreu ligar o aquecedor. Naquele instante, entendi o que sentia. Era frio. Olhei pela janela, o céu nublado, nem uma gota de azul. Assim cheguei à conclusão: Curitiba voltou a ser Curitiba.

Daquele momento em diante, nada poderia estragar meu humor. Nem o fato de ter de trabalhar em um sábado de manhã, nem perder dois ônibus seguidos porque o cobrador do tubo estava no banheiro. Tudo parecia estar no lugar certo. A sensação era de que eu tinha passado um mês exilado em uma terra estrangeira tropical. Agora, aliviado, estava de volta em meu lugar.

Não que eu seja avesso a mudanças, pelo contrário. Acho que a sociedade curitibana tem avançado muito nos últimos anos. Está mais aberta, as pessoas parecem menos carrancudas, vivendo mais, se divertindo mais. Sou um otimista, acho. Mas importar esse tal de verão foi uma baita ideia de jerico. Não sei se é culpa do Fruet, do Beto, da Dilma, mas alguém tem de vir a público se explicar. Pago meus impostos, sigo todas as leis, tenho o direito a um mínimo de conforto térmico.

Eu até gosto de calor. Desde que, claro, eu esteja em uma praia paradisíaca, segurando um drink gelado servido dentro de um abacaxi, sem absolutamente nenhuma obrigação. É muito desagradável trabalhar no calor: a sensação de moleza, o suor, a vontade constante de se jogar em uma piscina, a inveja de todas as pessoas que postam fotos de praias no Instagram – esse, acho, é o pior de todos os fatores. E, se para muita gente o ano começa depois do carnaval, meu 2015 começou dia 1.º de janeiro mesmo.

Entrar no Centenário/Campo Comprido lotado não é exatamente uma sensação agradável no inverno, mas no verão é o fim dos tempos. Se lá fora está 30º C, a sensação térmica dentro do expresso é de, no mínimo, uns 60ºC. Parece uma espécie de sauna coletiva ambulante. Só não é a pior situação possível porque a greve dos ônibus forçou muitos de nós a caminhar até o trabalho. E andar sob o sol do meio-dia, que neste verão curitibano ficava no céu das 7h às 19h, é desesperador.

No trabalho, pelo menos, há ar-condicionado. Melhora a situação, claro, não vou negar. Mas tem seus problemas: às vezes esfria demais, às vezes esfria pouco demais e, em ambos os casos, ataca minha rinite com uma violência totalmente desnecessária. Mesmo assim, virou uma questão ideológica ficar exatamente na direção do vento e passar o dia com frio e espirrando. Um embate pessoal contra o verão, mesmo que tenha consequências amargas.

Desde sábado, a temperatura até subiu um pouco – segundo a previsão do tempo do meu celular, o máximo para hoje é 25ºC, informação que deve ser desmentida algumas páginas mais para frente. Mas pelo jeito acabou o verão e voltou, felizmente, o "verinho". Temperaturas dignas, chuvas no final do dia, moletom na mochila, do jeito que Curitiba tem de ser.

Sei que não estou aqui na função de ombudsman do jornal, mas tenho de deixar uma crítica. Todos os dias as manchetes desanimam. É crise no ônibus, crise na saúde, crise na educação, crise no governo federal, crise no governo estadual, crise na prefeitura, crise na Petrobras, crise na crise. Parece que só coisa ruim acontece. E só coisa ruim acontece mesmo, não vou negar – a começar por esse verão maluco.

Entretanto, naquele sábado, o jornal perdeu a primeira oportunidade em meses de dar uma notícia boa como manchete. Algo como "Curitiba volta ao normal!", com um baita ponto de exclamação brega pra burro mesmo. Seria um ótimo complemento para um ótimo começo de dia.

Cerveró

O leitor Edison Tizzot, médico, lançou uma terceira hipótese sobre o olho de Cerveró. É possível que a deformação seja em decorrência de um "tumor expansivo em região de órbita envolvendo a caixa óssea do globo ocular". "Nesta situação, com a ressecção de parte da estrutura óssea, não há como se fixar o olho e ele pode ficar projetado. Não se trata de exoftalmia".

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