Os curitibanos, em comparação com os habitantes das outras capitais brasileiras, estão entre os que menos consomem bebidas alcóolicas. Assim como os paulistanos, apenas 12% da população afirma consumir álcool freqüentemente. Os homens bebem mais que as mulheres: 20% deles dizem consumir bebidas alcoólicas com freqüência, índice que cai para 4% entre as curitibanas. Em contrapartida, elas ocupam a terceira posição no ranking do tabagismo, o que coloca Curitiba como a quarta capital com o maior número de fumantes.
Os dados fazem parte do primeiro levantamento de vigilância de fatores de risco à saúde feito pelo governo federal. A pesquisa, divulgada na quarta-feira pelo Ministério da Saúde, também apontou os homens curitibanos como os maiores consumidores de hortaliças e leite integral. O levantamento, denominado Vigitel, foi feito por telefone entre agosto de 2006 e janeiro deste ano e entrevistou 54.396 pessoas nas 27 capitais brasileiras. Em Curitiba, foram ouvidas 2.011 pessoas 771 homens e 1.240 mulheres.
Para a coordenadora-geral do setor de doenças não-transmissíveis do Ministério da Saúde, Déborah Malta, o levantamento, apesar de não ter supreendido, apontou alguns índices preocupantes. Segundo a pesquisa, 29% dos adultos brasileiros não praticam nenhum tipo de atividade física, 43% deles estão acima do peso e 11% já podem ser considerados obesos. Em Curitiba, apenas 16% da população tem o hábito de se exercitar e a obesidade já atinge cerca de 12% dos habitantes. "Esses dados vieram para confirmar uma tendência que a gente já vinha monitorando, mas mesmo assim trazem preocupação. Eles servirão de guia para a criação de políticas públicas e ações de promoção da saúde, visando principalmente ao incentivo a uma alimentação saudável, a prática de atividades físicas e a prevenção ao uso do álcool e ao tabagismo", afirma. Segundo ela, o principal objetivo está em traçar metas para conter o avanço das chamadas doenças crônicas não-transmissíveis, como diabete e hipertensão. Somente no ano de 2004, elas foram responsáveis por 1.858.370 mortes em todo o país, o que representa 61,8% do total de mortes registradas no período.
O presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso), Henrique Suplicy, ressalta que a obesidade é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares. Segundo ele, o aumento no número de obesos se deve principalmente à combinação de maus hábitos alimentares com a falta de atividade física. Na opinião de Déborah, para reverter essa situação é fundamental que a população tenha acesso a escolhas mais saudáveis. "O custo dos alimentos saudáveis precisa ser reduzido e a população precisa ter acesso a espaços propícios para a prática de exercícios", afirma.
A médica sanitarista e membro do Departamento de Saúde Comunitária do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Eleusis Nazareno, compartilha da mesma opinião. Para ela, diversos fatores acabam impedindo que a população se exercite. "Além da falta de tempo, não são todas as pessoas que têm acesso a locais adequados para praticar atividades físicas", afirma.
A diretora do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde, Karin Luhm, reconhece que o incentivo à prática de esportes ainda é um desafio. Segundo ela, a secretaria vem desenvolvendo um trabalho não apenas de atendimento a doenças, mas focando também a promoção da saúde. "Já desenvolvemos um trabalho de realização de atividades em espaços públicos como parques e praças e estamos investindo em ações de prevenção ao uso de álcool e ao tabagismo", afirma. De acordo com Karin, o trabalho no tratamento e na prevenção à dependência alcoólica também vem mostrando bons resultados. Em 8 anos, foram feitas 15.446 desintoxicações nas unidades básicas de saúde. Segundo ela, outro foco é a criação de espaços livres do cigarro, como escolas, creches e prédios públicos.
Para a epidemiologista e professora do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Denise Peniche, o trabalho de prevenção ao fumo junto à população jovem é fundamental. "Se quisermos reduzir esses índices de tabagismo, temos de atuar principalmente junto à população jovem. Pesquisas mostram que é por volta dos 12 anos que a maioria dos adolescentes tem o primeiro contato com o cigarro", alerta.