Falta salada. Essa é uma das conclusões de um estudo feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) sobre a dieta do brasileiro. O prato típico com arroz, feijão e carne é rico em macronutrientes (proteína, gordura e carboidratos), mas pobre em micronutrientes. Com esses dados em mãos e acompanhada da professora de Nutrição da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Louise Farah Saliba, a Gazeta do Povo foi conferir o que se põe no prato em Curitiba. A incursão em restaurantes da região central na hora do almoço mostrou que, assim como no resto do país, os curitibanos estão "reprovados".
Nesta análise informal, conclui-se que tem curitibano correndo das saladas. Em média, de cada dez pratos três tinham legumes e verduras, mas em quantidade abaixo do recomendado. Em sete estavam completamente ausentes. "Normalmente eu passo direto pelas saladas, mas vou tentar mudar", promete o auxiliar de escritório, Carlos Antônio Silva, de 23 anos. Para não errar, a recomendação de Louise para a hora do almoço é simples: variedade de salada ocupando metade do prato, uma porção de arroz, feijão e uma carne, de preferência branca e grelhada. "Não é difícil comer de forma saudável", diz.
Para adquirir todos os nutrientes necessários, porém, não basta comer de forma correta apenas no almoço. A pesquisa nacional feita pela Unifesp e pela USP mostrou também que, além dos vegetais, há outros alimentos em falta na dieta do brasileiro. No total, 2.420 pessoas participaram do estudo respondendo ao inquérito alimentar (método em que o pesquisado relata o que comeu nas últimas 24 horas), em 150 municípios das cinco regiões do país 390 dos entrevistados eram da região Sul.
O estudo concluiu que 99% das pessoas não consomem vitamina D e E em quantidade suficiente. "A vitamina E é encontrada em óleos vegetais, semente de girassol e frutas oleogenosas, como amêndoas e avelã. Isso não faz parte da dieta do brasileiro normalmente", explica Louise. O estudo também mostrou que 90% dos entrevistados ingerem cálcio em quantidade três vezes abaixo da quantidade diária recomendada internacionalmente.
Além disso, a lista de nutrientes em falta continua com com a vitamina K (81%), vitamina C (80%), magnésio (80%) e vitamina A (50%). "A falta de vitamina C me surpreendeu, mas acredito que o que falta é que as pessoas passem a comer um pouquinho mais dos vegetais que têm essa vitamina", analisa a nutricionista.
Todos esses dados levaram à conclusão de que o prato típico brasileiro tem de ser complementado com mais frutas, leite, grãos e cereais, além dos vegetais, sob pena de sofrer com doenças como osteoporose, hipertensão, síndrome metabólica, diabetes, doenças relacionadas ao sistema nervoso central, doenças do sistema imune, doenças cardiovasculares e câncer de cólon. A primeira recomendação dos especialistas é acrescentar cálcio à primeira refeição do dia, com a ingestão de leite e derivados. Não esquecer dos cereais. Já as frutas podem ser consumidas a qualquer momento e são ótimas para substituir lanches entre as refeições. Já as hortaliças e legumes devem ter papel de destaque no almoço e no jantar.
Lado bom
A pesquisa nacional e a incursão pelos restaurantes curitibanos da região central na hora do almoço também mostraram que o brasileiros estão acertando em alguns pontos. Como o arroz, o feijão e a carne ainda reinam absolutos, verificou-se que a quantidade de ingestão de proteínas está adequada à população.
A região sul foi avaliada ainda pelo estudo nacional como uma das mais saudáveis, já que, por aqui, os entrevistados são os que mais relataram praticar atividades físicas. No total, 31% dos pesquisados fazem exercícios o maior índice entre as regiões brasileiras. "A região Sul é a mais saudável de forma geral e em que houve menos relato de doenças e a melhor adequação nutricional", afirma o coordenador do estudo nacional, o médico reumatologista e professor da Unifesp Marcelo Pinheiro.
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