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Ano-novo

Curitibano pede o fim da corrupção como presente

Fernanda na Câmara Municipal de Curitiba: “A culpa não é só de quem está sentado ali no plenário. O problema é deixar de votar consciente” | Hugo Harada/ Gazeta do Povo
Fernanda na Câmara Municipal de Curitiba: “A culpa não é só de quem está sentado ali no plenário. O problema é deixar de votar consciente” (Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo)

Poucos assuntos geraram tanta repercussão neste ano na imprensa, mídias sociais e mesas de bar quanto a série de denúncias e abusos envolvendo os representantes do povo nas mais diversas instâncias, de Brasília às câmaras de Verea­­dores. Se é consenso que muitas das irregularidades nem sequer vêm à tona, pelo menos o que é flagrado não escapa à boca da população, que, sem medo de generalizações, coloca o político honesto no panteão das figuras folclóricas brasileiras, tal qual saci-pererê.

A insatisfação popular independe de endereço e, em Curitiba, surge à frente de outras demandas históricas. Em consulta feita pela Gazeta do Povo, leitores e internautas consideraram a moralidade na política e o fim da corrupção como os principais presentes que a cidade merece, e deve, ganhar em 2012.

A pesquisa não tem critérios científicos, mas encontra respaldo na abundância de relatos e depoimentos indignados sobre a atuação de vereadores, deputados estaduais e integrantes do Executivo na capital. A proximidade das eleições municipais, ano que vem, surge como incentivo extra para resgatar episódios polêmicos como a recente mobilização dos vereadores para inocentar o presidente da Câmara Municipal, João Cláudio Derosso (PSDB), frente às denúncias de irregularidades em contratos de publicidade da Casa. Ou o reajuste de 28% nos subsídios e a criação de 13.º salário para os vereadores de Curitiba, que irão custar R$ 1,8 milhão por ano ao município a partir de 2013.

Pegou mal

A poucos quarteirões dali, na Assembleia Legislativa do Paraná (Alesp), o anúncio de que os deputados eram agraciados há pelo menos 16 anos com 14.º e 15.º salários pegou mal para os parlamentares. O corte dos benefícios veio logo em seguida, como parte das "medidas moralizadoras" im­­plan­­tadas pelo novo presidente da Assembleia, Valdir Rossoni – mediante a pressão popular e da imprensa, diga-se de pasagem. Já se sabe, porém, que parte dos deputados articula a volta dos rendimentos extras.

O quanto desses episódios ainda estarão "frescos" na memória dos eleitores até as próximas eleições, seja em 2012 ou 2014, é a principal pergunta que cientistas políticos e pesquisadores da área levantam, quando questionados sobre a real possibilidade dos presentes pedidos pelos curitibanos se tornarem realidade. Não há respostas prontas, já que as possibilidades são diversas.

"Entre a manifestação de indignação e a concretização do voto, existe uma grande distância", avalia o sociólogo e professor do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Nelson Rosário de Souza. "Ao mesmo tempo que a indignação com a corrupção implica numa vontade de que isso mude, também cria um distanciamento em relação à política".

Para a doutora em Ciência Política Samira Kauchakje, professora da Pontifícia Univer­­sidade Católica do Paraná (PUCPR), é justamente o caminho contrário que deve ser percorrido pela população. "Temos de ter uma cidadania mais ativa, de controle e também de fortalecimento dessas instituições. A população precisa se encarregar de que a política é coisa nossa, e não só dos políticos", destaca Samira.

Diante das dificuldades dessa mudança cultural, que, se­­gundo especialistas ainda é incipiente, há um consenso definitivo: a eleição de políticos ho­­nestos e mais compromissados é algo que os próprios eleitores, ao contrário de outros pedidos, podem se dar de presente.

Faça a sua parte

Falar é fácil. Fazer a diferença também pode ser

Lidar com adolescentes não é fácil. Que o digam os pais, principalmente os de primeira viagem. Coisas da idade, não que eles façam por mal. A curitibana Fernanda Wendt não tem nenhum rebento nessa faixa etária, mas em se tratando de jovens, é pós-graduada. Doutora até.

Professora de História do Colégio Bom Jesus, se vê às voltas diariamente com estudantes no auge dos 13 ou 14 anos, ansiosos por saber e, pasmem, mostrar que sabem. Para Fernanda, oportunidade mais do que perfeita para, aos poucos, ir colocando uma ou outra pulga atrás das orelhas atentas. Afinal, como o assunto é história brasileira contemporânea, volta e meia a velha e tão atual pergunta ressoa na sala: dá mesmo pra confiar em políticos?

Dá. Mas, pra isso, é preciso confiar antes no bom senso. Na consciência. No carinho pela nossa cidade. Na vontade em ver e fazer as coisas diferentes. Isso, é a professora quem diz.

"A culpa não é só de quem está sentado ali no plenário. Política não é o problema. O problema é deixar de votar consciente. Não adianta falar que está tudo dando errado se você não faz a sua parte", defende Fernanda.

A maioria dos alunos da turma deve votar pela primeira vez só em 2014 mesmo. Mas todos têm um pai, um tio, um amigo eleitor. Parar para pensar a respeito e pedir que o outro faça o mesmo pode dar certo já no ano que vem, ensina a professora de História. "Quero muito que os eleitores acordem para a sua própria responsabilidade, parem de acabar com a política brasileira como se ela não fosse nossa, quero que parem de ser cidadãos só da boca pra fora", pede Fernanda, em tom de desabafo.

É pedir demais? Se você acha que não, já aprendeu a lição.

Interatividade

O que poderia ser feito para reduzir os casos de corrupção na política?

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