O nome oficial da rua é Neuza de Fátima Ferreira. Mas, atualmente, ficou mais conhecida como Rua da Sirene. Cansados da violência, desde o mês passado os moradores da via, que fica no Pinheirinho, na Zona Sul de Curitiba, botaram para funcionar um sistema alternativo de segurança. As sirenes, hoje, estão colocadas em 36 das 38 casas da rua. Quando alguém vê na região um assalto ou qualquer outro motivo de alarme, enfia o dedo no botão para alertar os vizinhos. E o resultado já apareceu: o local não tem pequenos furtos, assaltos e outros crimes há um mês.
A busca por modelos alternativos de segurança não é uma exclusividade da Rua da Sirene. Assustados, moradores de diversas regiões de Curitiba vêm fazendo o que podem para escapar das estatísticas de violência. Hoje, atender atrás de grades é uma situação considerada "normal" para alguns comerciantes. Uma casa de ferragens trabalha assim na Vila Guaíra; uma loja de móveis novos e usados no Pinheirinho faz o mesmo.
A situação se repete em outros pontos da Grande Curitiba. Na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a solução veio com a blindagem em concreto de um dos blocos do câmpus. E existe até mesmo uma moda antifurto, com roupas desenhadas para evitar a ação de batedores de carteira. É o vale-tudo contra a violência.
Para a turma do alarme, a orientação é tocar as sirenes de uma só vez a qualquer atitude suspeita. E tudo é feito às claras. Cinco faixas estão espalhadas na rua, com a seguinte frase: "Nossa rua está monitorada 24 horas pelos moradores" (sic?).
O sucesso da iniciativa já contagiou moradores das ruas transversais e paralelas, que estão prontos para aderir à idéia. Segundo o instrutor de auto-escola Ronaldo Pereira, um dos líderes da Rua da Sirene, o sistema será colocado nas residências de quatro ruas próximas. "Vamos fechar a região", afirmou.
Segundo a socióloga Vanessa Orban, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP, a idéia da sirene merece elogios. Vanessa Orban lembra que o Rio de Janeiro isola as favelas há algum tempo. Em São Paulo, muros isolam favelas de shopping centers e condomínios fechados. Para a especialista, esse modelo é questionável. No entanto, ver os vizinhos se ajudando, tocando a sirene, é algo positivo. "Um vizinho precisa do outro e pode ajudá-lo. Isso reforça os laços sociais. Colocar muros não é a melhor forma de prevenção", afirma.
A socióloga diz que a situação do comerciante que negocia atrás das grades é semelhante à do muro usado para isolamento. "As pessoas podem se sentir seguras trancafiadas num espaço. Mas isso até sair para a rua. Você constrói uma pequena fortaleza ao seu redor, mas nem por isso tem a segurança que deseja", afirma.
A união dos moradores da Rua da Sirene é vista como o início de uma mudança de cultura pelo presidente do Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Estado do Paraná, Jeferson Nazário. "Quem tem mais condições busca recursos técnicos e tecnológicos para se proteger. Mas o ideal é fazer fóruns e discutir soluções para conter a criminalidade. Não existe receita mágica. É preciso ter o envolvimento social para tentar contê-la", afirma Nazário.
Para o coronel Roberson Luiz Bondaruk, da Polícia Militar, autor de sete livros sobre segurança pública, a comunidade se organizar para promover a sua autodefesa é algo positivo. No entanto, ele critica a adoção de medidas extremas, como a colocação de grades para isolar comerciantes, e outras medidas mais drásticas.
Segundo o militar, a arquitetura é um ponto fundamental para o ladrão. "O layout da loja pode facilitar a prática de crimes. Algumas mudanças na posição do caixa e na altura da prateleira podem dificultar a ação dos bandidos, reduzindo a zero o número de assaltos", afirma.