A diarista Vanuza Sales, 38 anos, não sabe se chora ou se ri. A dona de casa Ediuma Santos, 33 anos, não consegue mais dormir de tanta ansiedade. A auxiliar administrativa Laurides Silva, 60 anos, tem uma certeza apenas: "A nova casa é menor, mas o lugar é melhor". Em comum, essas três mulheres, que têm "mestrado" em vida ribeirinha água pela cintura dentro de casa é velha conhecida , fazem parte do grupo de 43 famílias de Curitiba que hoje dão adeus às suas casas às margens do Rio Barigui, por meio de um projeto de reassentamento da prefeitura para a retirada de famílias que vivem em área de risco.
As famílias, até então moradoras da ocupação irregular Vila Nova Barigui, que surgiu no fim da década de 80, na CIC, têm histórias parecidas. Compraram lotes e casebres por contratos particulares. Foram puxando um pouco aqui, esticando acolá. E, de repente, uma área, até então ocupada por casas de dez metros quadrados, dava lugar a residências de até dois andares, com três e até quatro quartos.
O lugar ao redor, porém, era o mesmo: as margens do Rio Barigui. A ordem de mudança, então, veio no ano passado. O dia "D" chegou. Depois de anos a fio de investimento, hoje essas famílias deixam as suas casas à margem do Rio Barigui. Pretendem não olhar para trás e ter de ver a patrola levando abaixo, em segundos, o que foi construído durante anos. No lugar da casa cheia de lembranças e com marcas de enxurradas, uma nova residência, novinha em folha e estruturada. No coração, esperança.
Vanuza já passou por cinco inundações em sua casa. Reconstruiu, colocou mais no alto e nada adiantou. A cada chuva os móveis tinham de ser recomprados. "A mudança vai ser boa porque estou com a casa quase caindo de podre", diz, mostrando pedaços de madeira sobre o piso. Ontem, feliz com a mudança, deu banho em seus três cachorros e embalou tudo que pôde. "Eles têm que ir limpinhos para a nova casa". Apesar da felicidade, não sabia se chorava ou se ria. Está receosa. "Não conheço lá ainda, mas minha cunhada já foi e me disse que é bem pequeno. Não sei onde vou colocar todas as minhas coisas", afirma.
Aperto
A cunhada de Vanusa é Ediuma. Até ontem moravam uma de frente para a outra. Hoje passam a ser vizinhas de quadra da Moradia Aquarela, localizada na Rua Ludovico Kaminski, bairro Augusta destino delas e das outras 41 famílias reassentadas, que já começam a fazer barulho. É porque o tamanho das casas da tal Moradia Aquarela, que variam de 33 a 43 metros quadrados, anda tirando o sono de Ediuma e de seus vizinhos. "Gastamos R$ 20 mil em material para reformar nossa casa, estávamos aumentando, construindo um quarto para cada filho. Esses dias, minha filha perguntou se não teria mais seu quartinho cor-de-rosa", conta.
Nem azul, nem rosa. Fernanda, de 9 anos, e Pedro Henrique, de 14 continuam a dividir o quarto. Ediuma se muda, hoje, com o marido e com os dois filhos para uma casa de dois quartos e encostada à do vizinho. "Uma das paredes da casa é dividida com os vizinhos", explica, torcendo o nariz para o conjunto feito com casas geminadas.
O presidente da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), Mounir Chaowiche, não tem dúvidas dos benefícios. Segundo ele, o tamanho das casas é explicável. "Não teria recursos para fazer casas de porte maior", afirma. "Para um programa social de famílias que moram em barracos de 2 por 2, de dez metros quadrados, é uma grande evolução", emenda.
Ao todo, foram gastos R$ 2,9 milhões para o reassentamento dessas famílias. Os recursos são da própria prefeitura e do Ministério das Cidades. Esta é apenas a primeira leva. No total, 807 famílias que vivem às margens do Rio Barigui devem ser reassentadas. Um levantamento feito pela prefeitura, em 2007, mostra que 13 mil famílias vivem às margens de rios em Curitiba. Pela cronograma da prefeitura, 8,7 mil famílias de 251 áreas serão reassentadas em toda a cidade.
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