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Reportagem especial

De barco no Iguaçu

A corredeira Caiacanga, em Porto Amazonas, é um dos trechos mais bonitos do Rio Iguaçu. A partir desse ponto ele começa a ganhar vida novamente | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
A corredeira Caiacanga, em Porto Amazonas, é um dos trechos mais bonitos do Rio Iguaçu. A partir desse ponto ele começa a ganhar vida novamente (Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo)
A partir de Balsa Nova o Iguaçu tem um aspecto melhor |

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A partir de Balsa Nova o Iguaçu tem um aspecto melhor

Salto Caiganga: corredeiras garantem a oxigenação da água |

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Salto Caiganga: corredeiras garantem a oxigenação da água

Durante o trajeto é possivel observar que o rio é bem largo e não tem cheiro, além de possuir muita vegetacao nas margens |

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Durante o trajeto é possivel observar que o rio é bem largo e não tem cheiro, além de possuir muita vegetacao nas margens

Espuma: processo natural de depuração da água |

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Espuma: processo natural de depuração da água

Sandrília e Joilson: cuidado com o rio |

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Sandrília e Joilson: cuidado com o rio

Mello e a casa construída com a madeira do Iguaçu |

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Mello e a casa construída com a madeira do Iguaçu

Equipe percorreu 15 quilômetros com o bote, a remo, pois o trecho possui corredeiras |

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Equipe percorreu 15 quilômetros com o bote, a remo, pois o trecho possui corredeiras

Maquinário da indústria de papel e celulose Amazonas, no Salto Caiacanga |

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Maquinário da indústria de papel e celulose Amazonas, no Salto Caiacanga

Casas nas margens do salto Caiacanga |

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Casas nas margens do salto Caiacanga

A profundidade média do rio Iguaçu é de 5 metros e a largura chega a 80 metros |

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A profundidade média do rio Iguaçu é de 5 metros e a largura chega a 80 metros

Até a primeira metade do século passado o Rio Iguaçu era o canal para o escoamento, principalmente, da produção de madeira e erva-mate. Em dezembro de 1882, o vapor Cruzeiro fez a primeira viagem entre Porto Amazonas e União da Vitória (na época, Porto União da Vitória). O escritor Arnoldo Monteiro Bach, autor do livro Vapores, lembra que a embarcação veio do Rio de Janeiro até o Porto de Antonina, onde foi desmontada e subiu a Serra do Mar, pela Estrada da Graciosa, durante quatro meses, em 11 carroções puxados por bois até Porto Amazonas. Lá o Cruzeiro foi montado novamente.

No quarto dia da Expedição ao Rio Iguaçu, Porto Amazonas foi o destino da viagem, que começou em Balsa Nova. Foram 15 quilômetros percorridos com o bote, a remo, porque o trecho é de corredeiras. O biólogo Tom Grando, consultor da expedição, explica que as escarpas que atravessam o Iguaçu nesse trecho proporcionam condições ideais para a prática do rafting.

A partir de Porto Amazonas, marco zero da navegação fluvial do Iguaçu, o rio é navegável e foi por isso que os vapores tomaram conta daquele cenário até 1953, quando as crises da erva-mate, da madeira e a chegada de meios de transporte mais eficientes colocaram um ponto final nessa história.

História que sobrevive na memória de Otávio Mello, 79 anos. Morador de Porto Amazonas, onde nasceu, ele deixa de fazer qualquer coisa para falar dos últimos anos da navegação no Iguaçu, período que acompanhou, e se emociona. Em 1949, Mello era funcionário do Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis, um órgão do governo federal. O seu trabalho era mergulhar no Rio Iguaçu, em Porto Amazonas, e manter o fundo do rio limpo para a circulação dos vapores.

Ele conta que muitas das embarcações, quando subiam o rio, traziam para a cidade madeira que ficava guardada no porto, na beira do Iguaçu. Se chovia muito, a água levava a madeira, que mais abaixo era usada pelas famílias para a construção de suas casas. A casa que Mello comprou em Porto Amazonas era dessa madeira. Ela foi desmontada e hoje ele vive com a esposa, dona Leoni, numa casa de alvenaria. Há seis anos, Mello pegou a madeira de pinheiro, que tem cerca de cem anos, e construiu a casa do sítio, distante cerca de cinco quilômetros da cidade.

No ano passado, para matar a saudade do tempo da navegação no Iguaçu, ele reuniu toda a família para um passeio de barco pelo rio. Quem oferece esse passeio é José Gonçalves, 67 anos, que construiu o barco Novo Horizonte em 2003. Foram dez meses de trabalho. Aposentado do serviço público municipal, ele usou os conhecimentos de mecânica e metalúrgica e o projeto de um amigo engenheiro naval para construir a embarcação. "A Marinha fez três vistorias e deu a liberação."

O Novo Horizonte tem capacidade para 35 passageiros. Ele pode descer o rio de Porto Amazonas a União da Vitória, mas o mais usual é ir até São Mateus do Sul, distante 155 quilômetros. São até dez horas de viagem, dependendo do nível do rio. Na subida, a navegação se estende por 16 horas.

Apaixonado pelo Rio Iguaçu, Gonçalves guarda documentos da Marinha sobre a navegação. Por exemplo, em 1939 foram transportadas 43.459 toneladas de madeira, erva-mate e outros produtos. Os documentos são do Ministério da Viação e Obras Públicas – atual Ministério dos Transportes – Departamento Nacional de Portos, Rios e Canais.

Muita espuma

A partir de Balsa Nova o Iguaçu tem um aspecto bem melhor. A água já é mais limpa e a mata ciliar está melhor preservada. A profundidade média é de 5 metros e a largura do rio chega a 80 metros. O que se observa muito nesse trecho do rio é a presença de espuma, resultado do processo natural de depuração da água. "A presença do oxigênio na água provoca esse fenômeno", explica o biólogo Tom Grando, consultor da expedição.

A região também tem muitos pontos de extração de areia, que pode ser feita em dois locais: onde o rio extravasa e joga o material para fora ou no leito do rio, uma prática com grandes impactos ambientais porque é o leito que sustenta a fauna aquática, diz Grando.

Quem conhece o Rio Iguaçu aponta com facilidade as mudanças por que ele passou. Em Porto Amazonas, na margem da corredeira Caiacanga, vive, há 16 anos, Joilson Tadeu Scepanski. Ele trabalha para uma indústria de papel da cidade e cuida de um gerador de energia instalado no local há 56 anos. A esposa Sandrília e três filhos são a companhia de Scepanski, que pesca no Iguaçu. "Ainda dá lambari e bagre por aqui, mas do jeito que está eu não sei até quando. Vai diminuindo a cada ano."

Ele diz que o rio mudou muito em alguns anos. "Eu ajudo a limpar como posso, recolhendo o lixo que vem pelo rio e fica parado nas margens." Scepanski conta que recolhe cerca de 50 quilos de lixo por mês, principalmente garrafas PET. O material é entregue para a prefeitura de Porto Amazonas.

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