Alexandre já foi considerado um caso perdido. Aos 11, fugiu da mão pesada da mãe alcoólatra. Tirado das ruas por uma entidade assistencial, foi matriculado na escola. Ali conheceu Careca, traficante do bairro. Rapidinho, passou do cigarro para a cocaína. Tornou-se "aviãozinho" do tráfico e passou a assaltar. A história de Alexandre começou a mudar na terceira passagem pela Delegacia do Adolescente Infrator. Em vez de ir para o Educandário São Francisco, onde já ficara recolhido por seis meses, foi enviado para cumprir regime de semiliberdade no Instituto Salesiano de Assistência Social.
O rapaz encontrou pela frente a pedagoga Maria Madalena Santoro. Resultado: hoje, Alexandre voltou a ser Alexandre Cunha. Além de uma identidade, voltou a ser cidadão e ganhou um emprego. Ele agora é educador social do Instituto Salesiano, mantido com recursos do Instituto de Ação Social do Paraná (Iasp). Por ali já passaram 585 meninos dos 13 aos 18, a maioria por furto, roubo, tráfico e homicídio. Ao cumprir as medidas socioeducativas determinadas pela Vara do Adolescente Infrator, eles têm, por exemplo, a chance de voltar à escola e de ter cursos profissionalizantes.
Veja os principais trechos da entrevista de Alexandre para a Gazeta do Povo.
Como foi sua entrada no mundo das drogas? Que idade você tinha?Começou aos 11 anos, no colégio. Tinha o Careca, traficante do bairro. Eu acabei virando amigo dele e usando droga para ser alguém conhecido no colégio. Primeiro usei drogas leves, como álcool e cigarro. Minha família também nunca esteve muito presente...
Que tipo de droga ele vendia na escola?Cocaína. Era a droga mais vendida no colégio.
Também para adolescentes nessa faixa etária?Sempre nessa faixa. Na verdade mais para o time de futebol. A gente tinha um time de futebol...
A direção da escola sabia e tomou alguma providência?Não recordo porque faz muito tempo. Mas teve casos que a polícia foi lá, acharam drogas na mala dele. Ele ia para o colégio armado.
Você falou que a sua família não estava presente.Na faixa dos 11 anos eu saí de casa, morava na rua. A Assoma (Associação dos Meninos de Curitiba) me achou na rua e dali eu fui para esse colégio. Eu não tinha ligação com a família. Estava nesse colégio porque eles me levaram pra lá.
Por que você saiu de casa e foi para a rua?Eu não fui criado com pai presente, minha mãe sofre de alcoolismo. Naquele momento eu achei que a rua seria melhor.
Que situação você diria que foi de mais alto risco nas ruas?Eu tinha uns 13 anos. Morava de 10 a 12 meninos em grupo, na rua. Um deles foi morto a tiros na nossa frente. A gente foi tentar socorrer e quase levei tiro.
Ele foi morto por quem?Na época nós fomos para a Delegacia de Homicídios, mas não se sabe quem matou. Nós tava dormindo próximo ao terminal do Boqueirão. Apareceu um rapaz do nada e matou ele.
O homem já foi sabendo quem iria matar?Sabendo quem ele queria. Só que nós não sabia se de repente nós tinha feito alguma coisa para ele, porque naquele tempo a gente aprontava mesmo.
Que idade tinha esse menino?14 anos.
Fora essa, você viveu muitas outra situações de risco?Muitas. Várias vezes a gente saía para outro lugar só pra brigar com outras gangues.
Por que uma gangue briga com outra?Olha, na verdade, não sei dizer....
Só para marcar território talvez?Mais ou menos isso. Um quer tomar o lugar do outro.
Você "caiu" (na Delegacia do Adolescente Infrator) por qual motivo?Assalto a mão armada.
Por que você assaltava?Para usar drogas.
Há quanto tempo você não usa drogas?Quatro anos.
Agora que você é educador social, o que você costuma falar para os adolescentes?Eu vivi praticamente sete ou oito anos da minha vida no mundo das drogas e do crime e nunca tive nada de positivo. O que a gente tenta passar para eles é que esse mundo das drogas e do crime não traz nada de positivo.
Eles te ouvem?Bastante.
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