Uma administração pública itinerante e sem sede própria. Era essa a realidade da prefeitura e da Câmara de Vereadores de Curitiba desde o século 17. A prefeitura chegou a funcionar em salões de igrejas e dividiu espaço até com a cadeia pública. Em algumas sessões da Câmara, os vereadores eram obrigados a usar guarda-chuvas devido às goteiras persistentes em alguns desses espaços improvisados.
A vontade em construir um espaço próprio era antiga, mas nunca havia dinheiro suficiente. Foi assim até o engenheiro Cândido de Abreu assumir o cargo de prefeito no começo da década de 1910. "Se ele não fizesse, Curitiba continuaria sem prédio próprio para a prefeitura", afirma a historiadora Zulmara Posse. O local escolhido foi a atual Praça Generoso Marques, próximo da Catedral. Em 1914, há um século, baseada no projeto arquitetônico do próprio prefeito, começou a construção do Paço da Liberdade um dos mais imponentes prédios de Curitiba.
O espaço, até então, era endereço do Mercado Municipal, que foi parcialmente demolido para a construção do Paço. "As paredes do mercado serviram de tapume para a edificação do Paço", relata Zulmara. O mercado funcionou naquele espaço desde meados de 1870 e depois foi fixado em um chalé de madeira na atual Praça Dezenove de Dezembro.
Por aproximadamente dois anos, as obras do Paço da Liberdade seguiram a todo vapor, com a inauguração oficial em fevereiro de 1916. Por mais de meio século, o local abrigou cerca de 50 políticos que assumiram de forma definitiva ou interina a prefeitura da capital. O último dia de despachos do executivo municipal no edifício foi 13 de novembro de 1969, sob o comando do prefeito Omar Sabbag. Em 1970, após ter abrigado temporariamente o Projeto Rondon, o prédio teve a restauração iniciada e interrompida em 1971, sendo retomada em meados do ano seguinte, após reformulação do projeto pelo arquiteto Cyro Corrêa de Oliveira Lyra.
Por quase cinco anos, o Paço ficou sem função. Até que em janeiro de 1974 o Museu Paranaense foi transferido para o espaço, onde ficou até 2002. Desde então, o local ficou abandonado, deteriorado pelo tempo. "Tudo que não é utilizado vai se desgastando", salienta a historiadora. Sem uso por cinco anos, o prédio estava praticamente caindo aos pedaços. As pinturas estavam desgastadas, a fachada mal cuidada e parte de algumas paredes tomadas por cupins.
Os trabalhos de restauro iniciaram em 2007, por meio de uma parceria do poder público com o Sistema Fecomércio/Sesc. Bisturis foram usados para raspar as tintas que encobriam a pintura original nas paredes internas. A restauração do espaço durou dois anos, sendo reinaugurado em 2009 como o atual Centro Cultural, administrado pelo Serviço Social do Comércio (Sesc).
Mudança
Antes, a região da Praça Generoso Marques era ocupada pelo Mercado Municipal, que possuía duas dezenas de quiosques e comerciantes de diversas origens. Com a transformação do local em Paço da Liberdade, o entorno da localidade também começou a sofrer mudanças. O historiador Marcelo Sutil conta que a imponência do prédio fez com que as casas que eram mais simples fossem "virando" sobrados e habitações mais modernas na época. "O Paço trouxe um novo significado para todo aquele espaço em volta dele", salienta.
Restauro
Durante os trabalhos de restauro do Paço da Liberdade, arqueólogos descobriram parte do piso do antigo Mercado Municipal que esteve no local antes da construção do prédio. Fazem parte da nova estrutura azulejos transparentes para que o visitante possa observar como era parte do mercado.
Paço da Liberdade****VIDEO****