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Cidade

De onde será que vêm esses nomes de ruas?

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Copa do México, última disputada por Pelé, 21 de junho de 1970. Brasil e Itália – duas seleções bicampeãs do mundo – se enfrentam pela final do torneio. O vencedor teria o direito à posse definitiva da Taça Jules Rimet. No embate, a Seleção Brasileira vence por 4 a 1 (gols de Pelé, Gerson, Jairzinho e Carlos Alberto). Em 2 de setembro do ano seguinte, a Câmara Municipal de Curitiba aprova, por meio da Lei Ordinária 3.946, que uma das vias do Capão da Imbuia seja nominada como a data em que o Brasil foi tricampeão mundial de futebol. Uma espécie de homenagem a uma equipe que, além de vencer o campeonato, apresentou qualidades encantadoras em suas apresentações.

Assim como a 21 de junho, Curitiba tem outros 21 logradouros nominados como datas. "Quando as ruas se referem a ocasiões ou personagens objetivam fixar no imaginário popular a importância do fato para a construção da identidade nacional", explica Geraldo Silva, professor de História e consultor na área de educação. "Por esse motivo, certas ruas mudam de nome com uma alteração de regime, como foi o caso da XV de Novembro, que já foi chamada de Rua da Imperatriz".

Além da XV de Novembro, 7 de Setembro e 13 de Maio, o nome de outras duas ruas de maior circulação referem-se a datas: 24 de maio, no Centro, e 7 de Abril, no Juvevê. A primeira se trata de uma alusão à Batalha do Tuiuti, na Guerra do Paraguai, que praticamente decretou a vitória da Tríplice Aliança, formada por Brasil, Uruguai e Argentina. As tropas aliadas marchavam para atacar o Paraguai, mas foram pegas de surpresa pela ofensiva planejada por Solano López (ditador do Paraguai de 1862 a 1870).

Iniciado pela ofensiva paraguaia, os confrontos ocorriam distante da terra de López, especialmente no território brasileiro. "Com a Batalha do Tuiuti, houve uma inversão do palco das batalhas. López investiu parte significativa de sua capacidade militar, percebendo que a vitória poderia encurralar os adversários. Mas, com a derrota, foi obrigado a adotar postura defensiva", afirma Silva. O fato contribuiu para a perda da confiança das forças paraguaias, auxiliando na postura ofensiva da Tríplice Aliança. De acordo com historiadores, a postura do General Osório durante a batalha foi fundamental para suportar o bem-organizado plano de ataque paraguaio. A liderança do brasileiro se sobrepôs a do comandante da operação, o general argentino Bartolomeu Mitre.

No outro caso, a via 7 de Abril homenageia a data em que dom Pedro I abdica do trono para que seu filho assuma o Império Brasileiro da época. Para Silva, não se trata de um momento histórico positivo. "Foi, de certa maneira, uma desconstrução do herói que liderou a Independência do Brasil. O imperador abdicou do nosso trono para assumir o português", afirma Silva. "E, mais do que isso, o momento representou um vazio de poder, porque se instaurou à época das regências".

Crônica

O escritor e jornalista carioca João Paulo Emílio Coelho Barreto, mais conhecido como João do Rio, foi um dos maiores especialistas em rua. Uma de suas principais obras – A Alma Encantadora das Ruas – trata exclusivamente das vias e de seus personagens. Para João do Rio, as ruas são dotadas de personalidade: "Há ruas honestas, ruas ambíguas, ruas sinistras, ruas nobres, delicadas, trágicas, depravadas, puras, infames, ruas sem história, ruas tão velhas que bastam para contar a evolução de uma cidade inteira (...)". E, nesses casos, o nome é definidor das características da via.

João do Rio também define o papel das ruas nos municípios: "A rua é a civilização da estrada. Onde morre o grande caminho começa a rua, e, por isso, ela está para a grande cidade como a estrada está para o mundo".

A XV

Em meio às datas desconhecidas, ruas importantes de Curitiba rememoram momentos relevantes para o país. O maior (e, talvez, melhor) exemplo está localizado no coração da cidade: a Rua XV de Novembro, representando a Proclamação da República brasileira, em 1889. De certa maneira, a capital cresceu em torno da XV, transformando-se em ponto de encontro para o footing de antigamente. Em 1972, tornou-se a primeira via exclusiva para pedestres do Brasil, virando o símbolo do planejamento urbano da cidade. "Antes chamada de Rua da Imperatriz, o nome serviu para mostrar a importância da República para o país", explica Geraldo Silva.

A XV foi – e ainda é – ponto de referência de Curitiba. Nela e em sua coirmã Luiz Xavier (a menor avenida do mundo), encontra-se a Boca Maldita, o espaço ideal para a discussão de aspectos políticos e sociais do Brasil e do mundo. O local serviu de palco para o movimento pelas Diretas Já, na década de 1980, em uma das maiores passeatas vistas na cidade. E, mesmo antes da pedestrianização, a XV foi palco para a passagem do então presidente brasileiro Getúlio Vargas, em 1943, atraindo milhares de curiosos.

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