Pelo segundo diploma
Eles sabem como aproveitar o tempo. Usam a experiência de vida e a profissional como vantagem nos cursos de graduação que freqüentam, como o de Direito Internacional da Uninter, em Curitiba. Da primeira turma aprovada no vestibular, há quatro anos, metade dos cem alunos tinha mais de 30 anos. E muitos com mais de 50. Ao longo do curso, os maduros deram um banho nos colegas mais novos. "Eles são competitivos e se dedicam muito aos estudos. Superam outras dificuldades em relação aos mais jovens, principalmente por causa da vivência", observa o coordenador Luis Alexandre Carta Winter. A tendência de curso mais direcionado a gente experiente foi confirmada nos vestibulares seguintes. Os pioneiros estão a um ano da formatura.
Origem
Idosos estudarem e terem acesso a cultura e ao conhecimento são direitos garantidos por lei
Estatuto
O direito de acesso a educação está preconizado no Estatuto do Idoso, lei 10.741/2003: "Art. 20. O idoso tem direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua peculiar condição de idade."
Pioneira
A primeira Universidade para a Terceira Idade foi fundada em 1973 pelo médico e pesquisador Pierre Vellas, como programa de extensão destinado aos idosos, em Toulouse, na França. No Brasil, o SESC de São Paulo inaugurou em 1977 a primeira Escola Aberta para a Terceira Idade, inspirada na experiência francesa.
Ela nasceu Olandir Giovanetti Zubek, mas acha "Iolanda" mais bonito e é assim que é conhecida pelos corredores do Núcleo de Atendimento à Pessoa Idosa (Napi), como é chamada a antiga universidade da terceira idade da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). É por ali que Iolanda, de 69 anos, passa a maior parte do seu tempo entre as aulas de pintura, informática, coral e o teatro. Só falha na sexta-feira, quando freqüenta a turma de artesanato de outro grupo de convivência. A rotina agitada dela começou depois da morte do marido, há dois anos. "Morava no interior. Aceitei a proposta do meu filho de vir para Curitiba e já comecei a freqüentar os cursos na PUC. Nesta idade, não dá para ficar enferrujando em casa", ensina a professora aposentada. Mãe de oito filhos cinco deles vivos e avó de 12 netos, Iolanda não reclama de solidão. "Aqui posso praticar a pintura e a música e ainda tenho muitas amigas", conta.
A elevação da auto-estima e a ampliação da rede social são os principais ganhos proporcionados pelas atividades oferecidas nas Universidades de Terceira Idade, na opinião da doutora em Serviço Social, Sara Nigri Goldman, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e especialista na área. Durante a pesquisa sobre o tema para sua tese de doutorado, Sara identificou metodologias distintas nas atividades das universidades. Há instituições que apresentam modalidades pedagógicas diferenciadas. Algumas se baseiam em um currículo mínimo ao qual se agrega conhecimento no decorrer do curso. Em outras, os idosos escolhem livremente os cursos e atividades de suas preferências. "Entendo que o lazer possa ser um belo e livre caminho para o conhecimento. Mas, para isso, é preciso pessoal especializado e pedagogia que seja eficiente e prazerosa, tanto para os alunos quanto para o professor", aponta.
Não se trata, porém, de olhar o idoso como aluno limitado na capacidade de aprendizado, mas dar qualificação ao professor para lidar com as dificuldades inerentes ao público mais velho. O tema divide os especialistas. "Há um debate acirrado quanto à necessidade de uma pedagogia específica para os idosos, principalmente na França. Alguns pedagogos franceses pleiteiam um gerontogagie, que teria parâmetros pedagógicos destinados especialmente para os idosos", aponta Sara. Para a professora, essa nova pedagogia para os velhos poderia estigmatizar ainda mais o aluno maduro. Ela sugere adaptações que permitam superar vulnerabilidades visuais, auditivas e de articulação fina como aumentar o tamanho das letras do material didático, falar de forma clara e pausada, indicar exercícios para a coordenação motora e preservação cognitiva. "Idosos têm dificuldade para lidar com aparatos tecnológicos, mas em geral são muito interessados e dedicados à aprendizagem".
Grade
A diversidade dos temas abordados nos cursos oferecidos pelas Universidades de Terceira Idade é uma das atrações da modalidade de ensino. No Napi da PUCPR são 18 cursos de extensão, com ênfase em saúde, educação e bem-estar. Mais de 350 pessoas são atendidas atualmente, 95% delas, mulheres. "Os homens ainda acham que atividades culturais e de lazer são para quem não tem mais nada para fazer", diz Siderly Almeida, coordenadora do núcleo. Ledo engano. Há um ano e meio na função, Siderly se surpreendeu com o pique das moças que freqüentam os cursos. "São mulheres que estão acostumadas ao trabalho, têm o perfil de pós-aposentadoria, e não conseguem ficar paradas. Nada de vovós tricoteiras", diz.
Na Universidade Aberta da Melhor Idade (Uami), das Faculdades Integradas Espírita, o clima não é diferente. O curso aberto tem duração de dois anos, com abordagem em terapias alternativas. Três vezes por semana, 22 meninas elas de novo freqüentam aulas de ioga, coral, feng shui, tai chi chuan, reflexologia e outros temas ligados ao auto-conhecimento. "Temos a preocupação de integrar corpo e espírito, em uma linha de educação continuada", explica a psicóloga Regina Maria Miranda, coordenadora da Uami.
* * * * *
Serviço
- Núcleo de Atendimento à Pessoa Idosa, Napi, vinculado à Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Dezoito cursos de extensão para maiores de 50 anos. Fone: 3271-2367.
- Universidade Aberta da Melhor Idade, Uami, vinculada às Faculdades Integradas Espírita. Curso livre com duração de dois anos, com disciplinas dirigidas à educação e bem-estar. Fone: 3111-1745.
- Grupo Educacional Uninter. Vestibular presencial ou à distância, duas vezes por ano. O próximo será em novembro. Informações pelo site www.grupouninter.com.br ou pelo fone 0800-702-0500
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