Suzane e Daniel eram obcecados um pelo outro, como é muito comum na adolescência, diz a pesquisadora Ilana Casoy. Ela explica que casais que matam têm uma dinâmica própria. "Não sei se ele mataria sem ela, ou ela sem ele. A questão é que os dois juntos foram letais."
A jovem sofria de um "abuso de exigência por parte dos pais", segundo Ilana. Era uma menina altamente cobrada. Não bastava ser boa aluna, tinha que ser a melhor. Teve que aprender três línguas, teria de fazer pós-graduação na Alemanha. Mas, durante os interrogatórios e conversas informais com delegados, Suzane mencionou ter tido muitas decepções com o casal durante a adolescência. Disse que o pai tinha amantes e que a mãe mantinha relacionamento homossexual com uma paciente. "No momento em que se descobre imperfeições graves nos pais, a confusão psicológica é muito grande. Se isso aconteceu, certamente contribuiu para o distanciamento, que tornou o crime possível. "
Durante o namoro com Daniel, Suzane foi se afastando dos pais, na mesma medida em que foi se aproximando dos carinhosos e liberais Cravinhos. "Ela transferiu sua família para a do namorado." Chegou a fazer uma opção concreta de troca fugiu para a casa dos sogros, mas Astrogildo Cravinhos a mandou de volta. Disse que não adiantaria fugir, que ela era menor de 21 anos e a mãe iria mandar a polícia buscá-la. "Ela já não era mais a filhinha dos Richthofen, mas dos Cravinhos. Por isso conseguiu participar do assassinato dos pais." Nos primeiros dias de cadeia, Suzane mandou para Astrogildo e para a mulher dele, Nadja, uma carta pedindo perdão. "Foi para eles que ela deu satisfação. Foi para eles a mensagem de fui uma menina má, me desculpem, por favor não me odeiem."
Hoje, prossegue Ilana, Suzane chama o advogado Denivaldo Barni de "paizão", como fazia com Manfred, e "adotou como mãe" a mulher dele, Vera. "Ela transferiu de novo. Só depois disso, foi capaz de se lembrar que Astrogildo é um homem mau. Ela o está matando simbolicamente, ao dizer que ele sabia do planejamento do crime."
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