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Redes sociais

“Declare sua independência do Big Tech”, diz CEO do Gettr

Alternativas a mídias sociais do chamado Big Tech, que envolve empresas como Google, Facebook e Twitter, têm sido buscadas pelo público de direita desde que elas começaram a banir conteúdos e contas de personalidades de viés conservador. O Gettr, rede social fundada pelo especialista em comunicação Jason Miller, que foi assessor do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, é a principal aposta do momento.

A plataforma já tem aproximadamente dois milhões de usuários menos de dois meses depois de sua fundação. Metade é dos EUA, e quase 300 mil são brasileiros. O motivo disso, na opinião de Miller, é que “os brasileiros amam sua liberdade de expressão”. Um exemplo disso, de acordo com o empresário, foram as manifestações do 7 de setembro. Naquele dia, ele estava em Brasília após participar do congresso conservador CPAC.

“Tantas pessoas vieram e declararam sua independência pacificamente. E, como disse na minha intervenção no CPAC, não se trata apenas de lembrar da independência de Portugal. Declare a sua independência do Big Tech”, afirma.

No mesmo dia 7, Miller ficou detido por algumas horas no Aeroporto Internacional de Brasília para um interrogatório feito pela Polícia Federal (PF) a pedido do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O procedimento fez parte do inquérito das fake news.

“Obviamente, fiquei frustrado e aborrecido com a experiência, mas o pensamento que eu tinha na minha cabeça era: ‘E se eu fosse um brasileiro inocente, e se eu fosse alguém que não tivesse uma embaixada para ligar?’”, observa.

Dias depois desse episódio, o CEO do Gettr enfrentou outro percalço com a Justiça brasileira: o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pediu à plataforma para desmonetizar conteúdos que “ameacem a democracia” no Brasil e para não usar algoritmos que coloquem esse tipo conteúdos em destaque. Miller ironiza a falta de conhecimento técnico por trás dos pedidos.

“Não me parece que muitas das pessoas mais inteligentes queiram trabalhar para essa corte, porque, em primeiro lugar, nós não usamos algoritmos. (…) Em segundo lugar, não existe monetização no Gettr.”

Confira a entrevista na íntegra:

Você foi interceptado no aeroporto pela polícia a mando do ministro Alexandre de Moraes. Já passou por algo semelhante nos EUA?

Jason Miller: Excelente pergunta. A resposta curta é não. Na verdade, não. Já estive com amigos, que talvez sejam exceções, que foram detidos, e por acaso eu estava com eles. Então, tive só uma pequena sensação ou sentimento disso, mas não é algo que eu já tenha enfrentado na vida antes. Certamente não é algo que… De novo, quando eu fiz a pergunta: "Estou preso?" E eles disseram: "Não." Então eu disse: "Estou livre para sair?" Eles disseram: "Precisamos que você responda a algumas perguntas… Não, você não está preso, mas não pode ir embora", o que achei um pouco irônico, mas não, realmente nunca tinha passado por isso.

E tenho que ser sincero: obviamente, fiquei frustrado e aborrecido com a experiência, mas o pensamento que eu tinha na minha cabeça era: E se eu fosse um brasileiro inocente, e se eu fosse alguém que não tivesse uma embaixada para ligar? E se eu fosse alguém que não tivesse um avião para pegar, ou um advogado para contatar, como seria isso, que tipo de mensagem seria enviada a alguém sobre seus direitos de liberdade de expressão e sobre sua disposição de se expressar?

E eu tinha ouvido várias dessas histórias sobre a Suprema Corte, mas este foi, de fato, o pensamento que não parou de passar pela minha cabeça: E se o Brasil fosse a sua casa e, só por dar sua opinião, você fosse um alvo? Eu tenho muita empatia com as pessoas que estão passando por isso. Eu vejo que existem até presos políticos. E, novamente, sou um CEO. Eu sou um homem de negócios. Estou tentando fazer a plataforma crescer e trazer o Gettr para pessoas de todo o mundo. Não estou envolvido na política de outros países. Mas fico preocupado quando vejo a liberdade de fala e de autoexpressão sendo limitadas.

Nossa corte eleitoral pediu ao Gettr para desmonetizar conteúdos que ameacem a democracia brasileira. Como vocês estão lidando com esta determinação?

Jason Miller: Bom, acho que, neste caso, não me parece que muitas das pessoas mais inteligentes queiram trabalhar para essa corte, porque, em primeiro lugar, nós não usamos algoritmos. Nós temos uma linha do tempo real e verdadeira em que as pessoas vão postando seus conteúdos. É diferente, por exemplo, do Twitter ou do Facebook, que têm timelines baseadas em algoritmos.

Mas, em segundo lugar, não existe monetização no Gettr. Não tem nenhum jeito de monetizar pela nossa plataforma. Não tem dinheiro sendo trocado de mão. Nós lançamos a plataforma, se não me engano, há 70 dias. Só dois meses atrás, no 4 de Julho. O lançamento foi no nosso Dia da Independência [EUA].

Somos puramente voltados à liberdade de fala e de expressão. Então, não me parece que alguns dos membros do Tribunal Eleitoral tenham feito seu dever de casa, porque senão eles teriam logo notado que não existe monetização no Gettr, por enquanto. Em algum momento no futuro poderá haver monetização, mas isso não está disponível no momento. A gente tende a imaginar que eles fazem pelo menos um nível básico de pesquisa antes de chegar e fazer um requerimento como esse.

O Brasil é um dos países com maior número de usuários do Gettr. Qual o motivo disso, na sua opinião?

Jason Miller: Eu acho que os brasileiros amam sua liberdade de expressão. E uma das coisas que aprendi na minha viagem ao Brasil – e esta é a primeira vez que tenho a oportunidade de visitar (o país) – é que há uma crença fervorosa de que as pessoas deveriam poder expressar suas opiniões e serem ouvidas. E isso é o que nos faz grandes como sociedade, não só em relação a um determinado país, mas acho que isso faz parte dos direitos do homem, a possibilidade de se expressar.

E o que eu aprendi é que o povo brasileiro quer muito esta liberdade de expressão e teme que ela seja usurpada, seja pelo Big Tech, no Vale do Silício, ditando o que se pode ou não dizer, o que se pode ou não compartilhar…

Os brasileiros não querem que seus direitos de privacidade e seus dados sejam cedidos por empresas de mídia social para serem vendidos a outras empresas, o que é algo que outras redes fazem. O Gettr não vende nenhum dado de usuário, e fizemos a promessa de que isso nunca vai acontecer, mas outras empresas fazem isso e, na verdade, ostentam isso, e eu acho que as pessoas no Brasil ficam frustradas com isso.

Isso remete à liberdade de expressão, a poder compartilhar aquilo em que você acredita mais profundamente, sem ter um empresa ou alguém do governo para chegar e dizer que tal coisa é permitida ou não é permitida.

Os episódios com a Justiça brasileira são um incentivo para o trabalho do Gettr pela liberdade de expressão?

Jason Miller: Oh, 100%. E, acima de qualquer coisa, isso fortaleceu ainda mais minha decisão de ajudar a espalhar o Gettr no Brasil, para garantir que as pessoas tenham a capacidade de se expressar. E, olhe, no futuro quero ter a certeza de que estamos agregando à plataforma pessoas não somente de todo o espectro político… Então, eu quero gente da esquerda, eu quero pessoas de direita, eu quero pessoas que nem ligam para política, talvez pessoas de esportes, de entretenimento, gente que simplesmente valorize a autoexpressão, talvez pessoas da música…

Muito do engajamento agora se deve, obviamente, a estarmos lidando com a discriminação política, por assim dizer. Mas há tantos milhões de brasileiros que querem se unir à nossa plataforma, e isso é uma grande oportunidade para a liberdade de expressão. Nós queremos seguir convidando-os e mostrar que este é um ambiente onde as pessoas podem se sentir seguras para se expressar sem serem colocadas em uma prisão digital, por assim dizer.

Você acha que a situação da liberdade de expressão no Brasil é mais preocupante do que nos EUA?

Jason Miller: Bem, acho que, só por minha própria experiência, posso dizer que fiquei muito preocupado. Com certeza nunca tive as autoridades dos Estados Unidos vindo me visitar especificamente porque eu estava tentando exercer os direitos da liberdade de expressão. Então, isso foi uma grande preocupação.

Não acho que seria apropriado eu fazer uma comparação entre os dois países. Eu não sou um grande especialista no assunto, e não quero nem dramatizar demais nem minimizar as preocupações que o povo brasileiro possa ter. Então, vou evitar comparar os dois países. Mas digo, novamente, que sou um homem de negócios. Eu sou um CEO. Estou desenvolvendo uma empresa de mídia social e quero ter o máximo possível de pessoas do Brasil se juntando à comunidade que estamos construindo e ajudar as pessoas a se expressarem.

Você teme que o Gettr seja banido no Brasil?

Jason Miller: Não, não. Acho que temos uma ótima plataforma e acho que o que é importante saber sobre o Gettr é que temos uma política de moderação proativa e robusta, em que levamos muito a sério garantir que as pessoas tenham sua liberdade de expressão, mas que não haja atividade ilegal que aconteça no site, que não haja fotos impróprias, por exemplo, sendo postadas na plataforma.

Portanto, levamos essas coisas muito a sério, para ter certeza de que se trata de um ambiente seguro para todos se unirem. Esta é realmente nossa crença verdadeira. E é aí que está o nosso foco. E, como um empresário, eu quero tentar tornar o Gettr a maior plataforma de mídia social do mundo.

Você tem planos de voltar ao Brasil depois do que aconteceu?

Jason Miller: Espero voltar ao Brasil em breve. Eu não sei quando vai ser. Postei no Gettr na noite passada: ‘Devo voltar para o Carnaval? Devo voltar para o festival em junho?’ Obviamente eu gostaria de voltar ainda mais cedo. Ainda é um pouco cedo para começar a planejar a próxima viagem, mas definitivamente eu quero aproveitar essa energia e essa empolgação em relação ao Gettr. Ver tantos patriotas pacíficos e amantes da paz que estão orgulhosos de seu país celebrando o Dia da Independência [7 de setembro] foi muito inspirador. O fato de haver milhões de brasileiros em Brasília, em São Paulo e no Rio e em outras celebrações menores por todo o país. Eu acho que é algo de que o país deveria se orgulhar muito.

Olhar e dizer que tantas pessoas vieram e declararam sua independência pacificamente. E, como disse na minha intervenção no CPAC, não se trata apenas de lembrar da independência de Portugal. Declare a sua independência do Big Tech. Pedimos às pessoas nos Estados Unidos que fizessem o mesmo quando lançamos o Gettr em nosso Dia da Independência, em 4 de julho, que declarassem sua independência do Big Tech. E estou ansioso para voltar no próximo ano, no 200º aniversário da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 2022.

O Gettr ainda é dominado por conservadores. Vocês têm interesse em trazer pessoas com outras visões de mundo para a plataforma?

Jason Miller: Ah, claro. Na verdade eu adoraria que o Lula entrasse na plataforma. Não sei se ele vai querer, mas ele certamente está convidado, e acho que queremos não apenas pessoas que são, digamos, da esquerda política, mas também queremos pessoas que não se importem com política. Queremos pessoas que queiram falar sobre esportes, ou suas famílias, ou artes, ou entretenimento ou música. Pessoas que talvez tenham interesse em negócios, pessoas que queiram conversar sobre como vão melhorar o país, ou talvez sobre algumas de suas causas ou de vários assuntos do Brasil.

Portanto, continuaremos expandindo. E, tenha uma coisa em mente: quando o Twitter começou, era composto quase só por liberais, sobretudo por pessoas entre a esquerda e o centro. E ele começou pequeno, e depois começou a crescer.

Somos a rede social que chegou mais rápido, no mundo, a um milhão de usuários. Também somos os que chegamos mais rápido a 2 milhões de usuários. E assim, usando essa energia, queremos continuar adicionando pessoas.

Mas o fato de já termos obtido dois milhões de usuários em pouco menos de 70 dias é muito impressionante. E, especialmente, ter tantos brasileiros que aderiram à plataforma é uma grande honra. Mas continuamos a nossa expansão e seguimos tentando trazer pessoas com diferentes visões de mundo a bordo.

Mas tenha em mente que as coisas são como um pêndulo no que se refere à liberdade de expressão. A paixão e a energia podem estar, agora, na centro-direita, mas estamos somente a um instante de esta paixão pelo movimento da liberdade de expressão chegar à centro-esquerda. E eu quero estar aqui para ajudar ambas.

Várias redes sociais que se venderam como alternativas ao Big Tech fracassaram. O que faria o Gettr ser diferente?

Jason Miller: Ótima pergunta. Acho que algumas coisas. Primeiro, a tecnologia é muito boa. Veja, eu posso convencer as pessoas a virem dar uma olhada no Gettr uma vez, mas, se eu não continuar a torná-lo empolgante, divertido e interativo, as pessoas não vão voltar. Acho que nossa tecnologia é muito especial. Eu acho que é muito boa.

Além disso, temos bom financiamento. Temos dinheiro. Então, temos que seguir melhorando, seguir acrescentando novos recursos, seguir financiando as operações até que tenhamos um modelo de negócios totalmente lucrativo em vigor. Esse é outro motivo.

E também destaco o fato de termos, desde o início, um crescimento internacional tão imediato. É impossível nos rotular e dizer, ‘olha, isto é só um projeto americano, ou aqui estão só os brasileiros, ou só os japoneses’. O fato de que já somos dois milhões globalmente, com metade disso sendo dos Estados Unidos e metade disso sendo de fora dos Estados Unidos, é diferente. Nenhuma outra plataforma de mídia social explodiu dessa forma e se expandiu tão rapidamente fora do portão.

Portanto, somos definitivamente diferenciados. Não acho que ninguém já tenha feito exatamente o que fazemos.

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