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A Defensoria Pública do Amazonas está recomendando aos comerciantes do estado que substituam o termo "Black Friday" por "Semana Promocional" para se referir ao dia - ou semana - em que o varejo faz promoções no mês de novembro. O órgão informou que a orientação busca promover o "respeito às comunidades afrodescendentes".
Um ofício assinado pelos defensores Christiano Pinheiro e Leonardo Aguiar foi encaminhado nesta quarta-feira (4) à Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus (CDL) e à Associação Comercial do Amazonas (ACA). As entidades têm cinco dias para apresentar uma resposta.
No documento, os defensores argumentam que o termo "Black Friday", que em português significa "sexta-feira preta" ou "sexta-feira negra", carrega conotação racista implícita em razão de uma suposta correlação entre produtos com descontos e a cor da pele.
"Como se a cor significasse algo com valor diminuído", explica a Defensoria. "A palavra preto (black), independentemente da língua ou vernáculo na qual é articulada, é utilizada de forma pejorativa, empregada no menosprezo a uma raça inferiorizada pela intolerância e subjugo histórico", diz um trecho da recomendação.
Os defensores também argumentam que grandes empresas brasileiras baniram o termo em respeito a organizações de direitos civis e entidades representativas do movimento negro. O movimento ganhou força após o Grupo Boticário anunciar que não usará a expressão em 2020 como iniciativa para combater o racismo e promover a igualdade racial.
A recomendação da Defensoria do Amazonas aponta ainda que, historicamente, a expressão "sexta-feira negra" costumava ser usada para se referir a eventos ruins como calamidades e crises.
"Os termos negro, escuro, preto são utilizados de forma depreciativa, fazendo referência a situações negativas e indesejáveis, tais como: peste negra (black plague), a coisa está preta, o lado negro da força (the dark side of), coisa de preto (black thing), tinha que ser preto, serviço de preto (black service), mercado negro (black market), não sou tuas negas, denegrir (denigrate), magia negra (black magic), lista negra (the black list), ovelha negra (black sheep), Dark Web", afirma o documento.
Queima de estoque
Reportagem do Estadão Verifica explicou as possíveis origens do termo "Black Friday". De acordo com a publicação, 'não há evidências' de que a expressão tenha cunho racista. Nos Estados Unidos, onde surgiu, a expressão batiza a sexta-feira após feriado de Ação de Graças, quando é feita uma queima de estoques para que se inicie a temporada de compras para o Natal.
Embora não haja uma única explicação para a origem do nome, 'não há ligação comprovada com a escravidão'. "A relação entre Black Friday e escravidão virou uma lenda urbana e já foi desmentida sucessivas vezes por veículos como BBC (2014), Washington Examiner (2018), History Channel (2018), AFP (2019) e The Telegraph (2019)", mostrou o Verifica.
Na avaliação dos defensores do Amazonas, no entanto, há diferença entre os contextos brasileiro e americano. "Nos Estados Unidos da América o termo Black Friday é utilizado um dia após o Dia de Ação de Graças, com uma representatividade comercial local, o que torna a utilização do termo fora de contexto no Brasil, com uma conotação de discriminação racial, ao dizer que o dia preto é promocional", avaliam.