Depois de tentar durante dois dias de julgamento colocar dúvidas sobre as provas e a autoria do crime na cabeça dos jurados, os advogados de defesa de Gil Rugai levaram ao plenário uma especialista em tribunal do júri para dar uma "aula" aos jurados sobre como eles devem conduzir a decisão: na dúvida, absolver o réu.

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Ana Lúcia Pastore Schritzmeyer, professora de antropologia da Universidade de São Paulo (USP) e autora de uma tese sobre o tribunal do júri, afirmou que, no direito brasileiro há o princípio "in dubio pro-reo", que afirma que, na incerteza sobre a materialidade ou autoria do delito, a decisão dos jurados deve favorecer o réu.

"As dúvidas no caso do Gil estão pautadas menos em provas reais e mais em subjetividades, pelo que eu conheço do caso, já que não li o processo", disse a antropóloga.

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A professora foi a terceira testemunha de defesa a ser ouvida no plenário sendo a segunda no dia de hoje. O julgamento começou anteontem no Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo.

Antes da professora, o contador Edson Tadeu de Moura, da Referência Filmes, empresa do pai de Gil Rugai, disse que não é possível dizer se houve desvios de dinheiro da empresa. O réu é acusado de matar o pai e a madrasta em 2004 após uma suposta briga que teve com o pai sobre fraudes na empresa.

Ela afirmou, no entanto, que apesar do princípio, o júri geralmente costuma culpar o réu, mesmo em caso de dúvidas. A antropóloga afirmou que o depoimento dela visou desconstruir "discursos simplistas" e estereótipos criados para a imagem de Gil.

A defesa ainda tentou explorar o fato de a polícia ter divulgado para a imprensa que Gil seria homossexual (conforme uma amiga relatou em uma carta) e simpatizante do nazismo (roupas com a suástica foram encontradas no quarto dele).

Segundo ela, isso poderia ser uma estratégia para descrevê-lo como uma pessoa anormal, perigosa e politicamente incorreta. "Em muitos julgamentos, elementos subjetivos pautados em valores morais são considerados [na decisão]", disse a professora.

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"O depoimento dela foi importante para desconstruir a imagem negativa do Gil", disse o advogado do ex-seminarista, Marcelo Feller.

O promotor Rogério Zagallo, entretanto, quis mostrar ao júri que a especialista não poderia falar sobre o caso específico de Gil Rugai, pois não teria conhecimento do processo.