Os advogados do jovem acusado de abusar sexualmente de uma criança de cinco anos de idade no setor de recreação da loja infantil Caverna do Dino, no shopping Estação, em Curitiba, concederam uma entrevista coletiva nesta quarta-feira. Eles negaram as acusações e apontaram erros no inquérito apresentado ao Ministério Público (MP) pelo Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (Nucria).
De acordo com o advogado Roberto Morozowski, muita coisa precisa ser esclarecida. "Antes de mais nada, o meu cliente nega com veemência as acusações a ele imputadas, afirma que não conhece a criança e que em quase dois anos de trabalho na loja, já atendeu cerca de 20 mil crianças e nunca teve qualquer problema. Somente agora, por uma denúncia sugerida pela irmã de uma suposta vítima, é que apareceu este fato isolado".
A primeira medida da defesa foi pedir a revogação da prisão temporária do acusado - detido desde o início de outubro - mas MP negou o pedido. Os familiares estão abalados com a situação. "A família está consternada e estamos aguardando que a denúncia seja formalizada para sabermos qual é a acusação que recai sobre o meu cliente. Os familiares me pediram para organizar uma entrevista coletiva onde eles possam externar sua indignação". A data desta entrevista ainda não foi determinada.
O grande erro do inquérito, segundo o advogado, está no laudo psicossocial elaborado pelo Nucria. "O laudo apresentado só diz que os fatos ocorreram e que meu cliente seria o culpado. Ele (o laudo) é totalmente equivocado e incompleto. O método usado não é o comumente conhecido pela medicina forense. Todos os envolvidos precisam ser analisados psicologicamente, não só a criança. Na verdade foi um inquérito, em si, feito de maneira despreparada", concluiu Roberto Morozowski. Delegada e psicóloga contestam alegações da defesa
Responsável pelo inquérito, a delegada do Nucria, Paula Brisola, garante que confia amplamente no parecer emitido pelas psicólogas do órgão. "A avaliação foi feita por duas psicólogas que trabalham há anos com isso e são comprovadamente especialistas. Tenho total convicção de que elas têm competência absoluta e usaram os métodos mais seguros para elaborar esse laudo".
A investigadora do Nucria Ana Paula Dagostin, que é psicóloga e foi uma das responsáveis pelo exame, explica como foram os procedimentos. "Por questões éticas não posso dar detalhes, mas fizemos uma série de exames lúdicos, observação comportamental e vários testes psicológicos amplamente utilizados para casos como este".
De acordo com a psicóloga, ficou claro que a criança sofreu o abuso em questão. "Ela demonstrou com clareza tudo o que o rapaz fez, como agiu e o que falou. Foram dados bem consistentes. Na fala dela havia tranqüilidade e clareza, sem margens para dúvidas". O Nucria afirmou que existe uma série de estudos em casos semelhantes que respaldaram o parecer emitido pelas psicólogas do órgão.
Ana Paula Dagostin afirmou que as respostas vieram ao natural. "Ela pediu para brincar antes de conversarmos qualquer coisa. Depois disso, no tempo dela, com as palavras dela, veio à tona tudo que tinha acontecido. Existem métodos para identificarmos se ela foi induzida ou se há algo diferente. Quando fizemos o reconhecimento dele, por duas vezes, ela apontou-o sem qualquer influência nossa", explicou. Ainda segundo a psicóloga, a fisionomia do acusado ajudou. "Ele tem uma aparência diferenciada, que não é muito comum. É um rosto fácil de se guardar".
Depois desta série de testes que as psicólogas chegaram a uma conclusão. "Para nós ficou muito claro que houve o abuso. Não assinaríamos um documento sem ter uma justificativa que não fosse verdadeira".
Perfil do suposto agressor
Sobre um possível perfil psicológico do acusado, Ana Paula foi enfática. "Não tive muito contato com ele, então prefiro não comentar sobre o perfil psicológico dele. Cada um que comete este tipo de crime tem um motivo, seja desvio patológico ou psicológico. A única coisa comum é que algo acontece que os faz agir de forma incomum a pessoas que têm valores morais e compreensão sobre o que pode e o que não pode".
A psicóloga lembra que antigamente era comum associar este tipo de crimes a traumas e abusos sofridos pelos agressores em suas infâncias, mas hoje essa teoria não é regra. "Temos muitos casos, como pode ser esse, em que o acusado vem de boa família, é esclarecido e teve boa educação".