O derretimento dos subsolos árticos congelados, o "permafrost", ameaça acentuar consideravelmente o aquecimento e deve ser levado em conta nos modelos climáticos, recomendou o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) ontem, durante a 18.ª Conferência de Mudanças Climáticas da ONU em Doha, no Catar.
Devido ao rápido aumento das temperaturas nas regiões árticas, o permafrost já está derretendo, enfatizou Kevin Schaefer, pesquisador da Universidade do Colorado e principal autor de um relatório sobre o assunto. "O permafrost é uma das chaves do futuro de nosso planeta. Seu impacto potencial no clima, nos ecossistemas e infraestruturas foi descuidado durante muito tempo", declarou Achim Steiner, diretor-geral do Pnuma.
O permafrost representa mais ou menos um quarto da superfície da terra no Hemisfério Norte. Em nível mundial, encerra 1,7 trilhão de toneladas de dióxido de carbono mais ou menos o dobro de CO2 presente na atmosfera, recordou Schaefer. Se esta matéria orgânica congelada se derreter, libertará lentamente todo o carbono que acumulou e "neutralizou" com a passagem dos séculos.
"Uma vez que começa a derreter, o processo é irreversível. Não há nenhuma forma para voltar a capturar o carbono liberado. E este processo continua durante séculos, já que a matéria orgânica é muito fria e se decompõe lentamente", advertiu o cientista.
O problema é que este excesso de CO2 liberado na atmosfera jamais foi incluído nas projeções sobre o aquecimento climático que são objeto de negociações em nível mundial. E é ainda mais preocupante se for considerado que a temperatura das zonas árticas e alpinas com permafrost deveriam aumentar duas vezes mais rápido que no conjunto do globo, insiste o relatório entregue ao Pnuma.
Impacto
O derretimento do permafrost produziria o equivalente entre 43 e 135 bilhões de toneladas de CO2 adicional para 2020, o que representa 39% das emissões totais até a data de hoje. Em consequência, o Pnuma recomenda ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) que leve em conta especificamente o impacto crescente do permafrost no aquecimento global. Jean-Pascal Van Ypersele, do IPCC, disse que essas emissões já estarão contabilizadas nos cenários futuros no relatório que começa a ser divulgado em setembro do ano que vem.
De acordo com o trabalho, todo o permafrost, que se estende por países como Rússia, Canadá, China e Estados Unidos. Atualmente, a camada de gelo, que chega a ter mais de dois metros de espessura, já vem apresentando uma diminuição de tamanho.
O derretimento, além do impacto à atmosfera, pode afetar os ecossistemas assim como a infraestrutura construída sobre o gelo permanente.