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| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

O advogado Sacha Reck detalhou à Justiça, em delação premiada já homologada pelo Judiciário, como funcionava o esquema investigado pelo Ministério Público para fraudar licitações do transporte coletivo de duas cidades do interior do Paraná. A investigação é sobre a execução do procedimento fraudulento em Guarapuava, entre 2007 e 2009. Mas o delator afirma que o modelo já havia sido empregado na licitação do transporte coletivo de Ponta Grossa. Os detalhes da colaboração motivaram a deflagração da segunda fase da Operação Riquixá, que nesta terça-feira (21) cumpriu a maior parte dos 26 mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça. O nível de sigilo da investigação passou para “público” nesta terça.

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A delação de Sacha também comprometeu sócios de empresas que administram viações operadoras do transporte coletivo de Curitiba . Segundo o Ministério Público do Paraná ( MP-PR), o depoimento do advogado aponta para a possibilidade de que ele e outros advogados, além de especialistas em engenharia de transporte se unirem de forma constante a empresários do ramo de transporte público, especialmente aqueles ligados ao grupo empresarial e familiar Gulin para formar uma complexa organização criminosa.

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Os depoimentos da delação de Sacha Reck foram realizados entre julho e agosto do ano passado. Mas até então não havia confirmação oficial de que ela teria ocorrido e muito menos de que ela já estivesse homologada. A íntegra do depoimento está em segredo de Justiça, mas trechos dele foram tornados públicos devido à autorização da juíza Helênika Valente de Souza Pinto, da 1.ª Vara Criminal de Guarapuava, para que fossem cumpridos os mandados contra os investigados nesta quarta.

Em sua delação, Sacha Reck coloca o ex-sócio Guilherme Gonçalves no centro do esquema. Segundo o delator, Gonçalves já havia elaborado um modelo de edital de licitação que primeiramente foi utilizado em Ponta Grossa para direcionar qualquer licitação do setor ao grupo atendido pelo escritório.

Em trechos dos depoimentos já tornados públicos, Sacha diz que havia reuniões presenciais no escritório que ele mantinha em sociedade com Guilherme Gonçalves para definição do edital de Guarapuava. A concorrência pública lançada em 2009 foi vencida pela empresa Transportes Coletivos Pérola do Oeste Ltda. Donato e Dante Gulin, que atuam em viações de Curitiba, são sócios de outras empresas administradoras de bens e capitais que também participam da gestão da Pérola do Oeste Ltda.

“Num primeiro momento, então, o Fábio Ribas [Procurador-Geral do Município e primo do então prefeito Luiz Fernando Ribas Carli] foi ao escritório e fez uma reunião com o Guilherme [Gonçalves] e [outra sócia de Sacha e Gonçalves]. No primeiro momento, se reunia só ele, o Guilherme, a [sócia] e ele né, com o Fábio. Aí depois eu fui incorporado nessas reuniões, em que eles definiam as bases, o que tinha que ser feito e tal. Mas nunca com comunicação com o Fábio via e-mail, telefone. Ele era cauteloso, quando ele precisava falar com o escritório sobre esse assunto ele ia lá no escritório mesmo, certo? E o Jefferson [Rizental, sócio da Pérola D’Oeste] era quem tava [sic] coordenando isso pela Pérola”.

Sacha também declarou que o grupo instruiu que fossem criados e-mails falsos. “Dr. Fábio Ribas orientou [um servidor da prefeitura de Guarapuava] a usar um e-mail fake, vamos dizer assim, certo? Aparentemente, eu entendi que era um e-mail fake, e o Guilherme não queria também que eu utilizasse o e-mail do escritório, devido à relação deles eleitoral, enfim”.

Curitiba

Sobre a Auto Viação Marechal, que opera em um dos consórcios do transporte coletivo de Curitiba, Sacha afirmou que a participação ela no processo licitatório de Guarapuava se deu exclusivamente para aspectos de legalidade à concorrência. Essa tese já havia sido levantada pelos promotores do Gaeco antes mesmo da deleção premiada.

“Na verdade foi o seguinte… No momento da preparação dos documentos de habilitação, já estava publicado o edital, eles, o pessoal da Pérola, o Jefferson e companhia, vieram com papo de que eles iriam pegar uma cobertura da Marechal. E como eu falei antes, eu fui radicalmente contra isso, em várias reuniões posteriores à Ação Civil Pública foi dito: “O Sacha era contra, o Sacha era contra”, já confirmei. Então eles fizeram, o que eles fizeram foi cobertura.”

As investigações em torno da licitação de Guarapuava levaram seis pessoas à prisão em junho do ano passado, entre eles o próprio advogado Sacha Reck, o pai dele, Garrone Reck, o irmão Alex Reck, além dos os advogados Antonio Carlos Marchetti e André Vinicius Marchetti e Fábio Miguel. Eles foram soltos uma semana depois após o ministro Sebastião Reis, do Superior Tribunal de Justiça, dar provimento a recurso movido pelo advogado de Garrone.

Outro lado

O advogado de Donato Gulin, Rodrigo Sanchez Rios, disse à reportagem que precisa ler o conteúdo da delação para se manifestar posteriormente. “Acrescento que temos um quadro bem delicado, uma questão que envolve a relação profissional que um advogado tinha com seu cliente”, disse, em referência a Sacha Reck. Donato Gulin é sócio da empresa Cidade Sorriso, que faz parte do Consórcio Pioneiro, que atua na capital paranaense.

A defesa de Dante Gulin disse, em nota, que “estranha o envolvimento do nome da empresa Gloria na investigação e repudia qualquer acusação de ilegalidade nos procedimentos licitatórios de que participou”. Segundo a advogada Flavia Trevizan, Dante Gulin compareceu espontaneamente na sede do Gaeco e respondeu todas as perguntas feitas pelas autoridades. Dante Gulin é sócio da Auto Viação Marechal, que incorporou a empresa Glória, também de Curitiba.

O advogado Miguel Nicolau, que representa Fabio Ribas, afirmou no fim da tarde de terça que ainda não havia se inteirado do assunto e não poderia fazer comentários.

Já Guilherme Gonçalves afirmou que havia uma distinção de responsabilidades no escritório de advocacia que mantinha com Sacha Reck e também disse que está à disposição das autoridades.

“Desde 2008 de forma verbal e de 2011 oficializado em contrato, havia uma distinção de responsabilidades no escritório. Ele [Sacha Reck] era responsável pela questão do transporte, e eu pelo Direito Eleitoral. Inclusive os honorários eram distribuídos de acordo com cada área. Em 2008, atuei na campanha à prefeitura da senadora Gleisi Hoffmann, mas quem venceu foi o governador Beto Richa. E, até para preservar o escritório por ligar o meu nome a um político da oposição, houve essa divisão no escritório. Não participei de reunião nenhuma para fraudar licitações do transporte coletivo, até por não ter o dom da onisciência e da onipresença para estar em tantos lugares ao mesmo tempo. Ele já tentou me denunciar, me envolver em irregularidades várias vezes, talvez por raiva, por algum ato de vingança, para querer me chamar para dentro da confusão que ele fez e diminuir a responsabilidade dele”, afirmou Guilherme Gonçalves.

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