Curitiba tem 7.387 inquéritos policiais de violência contra a mulher em aberto, à espera de punição. A cada mês, cerca de 200 novos procedimentos são instaurados, mas a Polícia Civil só consegue dar conta de um terço dessa demanda. Diante desse cenário, a projeção da Delegacia da Mulher (DM) é de que, ao final de 2012, se chegue a 10 mil inquéritos acumulados.Só no ano passado, a delegacia registrou 2.552 novos inquéritos na capital para investigar delitos como lesão corporal, ameaça, crimes contra a honra e casos de violência sexual. As outras 4,8 mil investigações em andamento se referem a casos ocorridos nos cinco anos anteriores. O número seria maior, se um volume incontável de ocorrências computadas antes de 2006 não tivesse prescrevido.
Chefe da DM há dois meses, a delegada Maritza Haisi avalia que a celeridade nas investigações esbarra na "histórica falta de investimento" em pessoal e infraestrutura. Com nove investigadores, oito escrivães e três delegados, a unidade precisaria de pelo menos o triplo de profissionais para atender a demanda. "Fizemos uma reestruturação para otimizarmos os recursos. Existe um planejamento para criar um ambiente mais digno para acolher as vítimas. Mas é preciso recursos."
A peregrinação de mulheres que sofreram algum tipo de violência começa já no registro do boletim de ocorrência (BO). O atendimento é feito em quatro guichês. Em horários de pico, como no início da tarde, dezenas delas chegam a se aglomerar na sala de espera.
Nas filas, as vítimas acabam percebendo as falhas estruturais do serviço. "Eu acho que não é má vontade. É que eles [a polícia] não têm gente para tocar as investigações e atender todos os casos", disse uma diarista de 46 anos, que registrou BO por ameaças feitas pelo ex-namorado. "Ainda assim, é importante fazer o boletim, porque fica registrado."
Outro revés enfrentado pelas vítimas que vencem o medo e fazem a denúncia é a falta de contrapartidas do estado para minimizar os efeitos da violência. A equipe multidisciplinar, composta por assistentes sociais e psicólogos, da DM de Curitiba está desativada há anos. Apenas um estagiário se desdobra para tentar acolher as vítimas.
Perspectivas
Apesar da conjuntura desfavorável, a delega se anima diante dos projetos futuros. Como prioridade, Maritza quer reativar "o quanto antes" a equipe multidisciplinar e esboça a criação de um setor de inteligência, estatísticas e planejamento. "As ações serão definidas com base nesses dados", explicou.
A delegada trambém aposta no treinamento dos policiais que fazem o primeiro atendimento às mulheres. "Esse contato humano é determinante, porque as vítimas chegam muito fragilizadas. É preciso que os policiais que fazem este atendimento estejam treinados para isso."