Castro - O delegado Eduardo Mady Barbosa foi afastado ontem do cargo por colocar uma presa para atender a população nos plantões da Polícia Civil em Castro, nos Campos Gerais. Esse é o mais grave reflexo da falta de funcionários nas delegacias do Paraná, onde 12% do efetivo nas delegacias é composto por estagiários, que fazem desde o trabalho de escrivães até a montagem de processos. A situação indignou cidadãos que procuraram a polícia e foram recepcionados pela detenta. A Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) afastou o delegado assim que foi procurada pela Gazeta do Povo para dar explicações sobre o caso.
Há três semanas, a prefeitura retirou os estagiários que mantinha na delegacia de Castro, e Mady Barbosa transferiu o serviço de recepcionista para Patrícia Varela Machado. Ela fora presa em Arapoti, em 14 de maio, na operação Tentáculos, da Polícia Civil. Contra ela pesa a acusação de tráfico de drogas, constatada após a polícia encontrar com ela um tablete de meio quilo de maconha. Ela tinha autorização judicial para trabalhar na limpeza da delegacia, mas não para adentrar a área administrativa, onde foi filmada.
O trabalho dela na recepção ao público foi flagrado por um cidadão, que filmou com um aparelho celular o momento em que ela o atende no plantão e sai para fazer a tarefa solicitada. Na imagem, Patrícia pode ser vista sentada em frente ao computador do plantão, onde pode acessar dados de presidiários de todo o Paraná por meio dos arquivos da Polícia Civil. Em seguida, se levanta e segue em direção ao interior da delegacia. A Gazeta do Povo submeteu as imagens à avaliação da Sesp.
Imediatamente a secretaria decidiu pelo afastamento de Mady Barbosa e divulgou nota dizendo que determinou à Divisão Policial do Interior a investigação da situação denunciada por meio das imagens. O secretário Luiz Fernando Delazari "determinou rigor nas investigações e acompanha os desdobramentos do caso", informa a nota da Sesp. "Os fatos serão devidamente apurados e será responsabilizado quem tiver responsabilidade", afirmou o chefe da Divisão Policial do Interior da Polícia Civil, Luiz Alberto Cartaxo. "Já havia uma mudança prevista para a delegacia de Castro, então é bom que seja feita já", completou.
Tudo ocorreu após a prefeitura de Castro retirar da delegacia dez funcionários e estagiários mantidos pelo município, no fim de setembro. A atitude foi tomada após o afastamento de um escrivão, por falta funcional, pelo delegado Mariano Petrunkon, que cobriu durante 15 dias uma licença de Barbosa. Em consequência, a prefeitura retirou todos os funcionários. "Pelo que eu soube foi por falta de contrapartida do estado", disse o delegado. Sem saber da gravação, ele negou que houvesse presos atendendo o público.
Dias depois de a funcionária ser vista na recepção, o delegado afastado encaminhou à Justiça um comunicado em que informava o juízo de que colocaria as presas da cozinha para atuar "na limpeza da área administrativa". O pedido é de 7 de outubro, enquanto a gravação foi feita em 2 de outubro cinco dias antes de o delegado enviar para a Justiça o pedido para que Patrícia tivesse acesso ao local.
"O estado não fornece o corpo de funcionários adequado para a delegacia e começa a se servir desses presos. E aí a Justiça já tem decisões de que não se caracteriza prevaricação no caso de realizar essas tarefas. Mas daí a avançar mais um passo, colocando no setor administrativo, fazendo a limpeza e atendendo o cidadão, acaba virando uma bagunça generalizada", considerou o promotor Paulo Conforto, que recomendou à Justiça que negasse o pedido. "É uma situação que não dá para aceitar. A comunidade não iria entender. Ela poderia facilitar a entrada de materiais, e até eventualmente ir embora de lá", apontou Conforto.
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