O carro em que Clayton Leão foi assassinado: delegado falava sobre a segurança em Camaçari quando foi baleado| Foto: Fotos: Almiro Lopes/Correio da Bahia

No momento do crime, o delegado Clayton Leão era en­tre­­vistado pelo telefone pelos radialistas Marco Antonio Ribeiro e Raimundo Rui.

Delegado – Todo o trabalho da polícia foi feito, concluir o inquérito e emiti-lo para a Justiça.

Radialista – Perfeito. Para encerrar mesmo, e o caso Glauber, doutor?

Delegado – Peraí, peraí, peraí (ouvem-se três tiros)

Mulher do delegado –Meu Deus do céu, meu Deus do céu, assassinaram Clayton aqui na Cascalheira!

Radialista – O que foi que houve? O que está havendo aí? O que foi que houve doutor?

Mulher do delegado – Pelo amor de Deus, me ajude aqui!

Pelo amor de Deus!

Radialista – Atenção pessoal da 18ª Delegacia de polícia, algo grave aconteceu. Acho que foi um acidente.

Mulher do delegado – Pelo amor de Deus, pelo amor de Deus!

Radialista – Esse é o telefone do delegado Clayton. Eu gostaria só que essa senhora pegasse o telefone e dissesse o que aconteceu. Algo grave aconteceu. Eu ouvi alguns estampidos.

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Clayton combatia o tráfico
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A população do município de Camaçari, na região metropolitana de Salvador (BA), ouviu pelo rádio a execução do delegado titular da 18.ª Delegacia de Polícia da cidade, Clayton Leão, 33 anos. Leão foi morto na manhã de ontem, quando cruzava a estrada da Cascalheira, entre Salvador e Camaçari. Ele estava com a mulher e concedia uma entrevista ao vivo, pelo telefone celular, ao programa De olho na cidade, da Rádio Líder. A mu-lher do delegado, que teve a identidade preservada pela polícia, não ficou ferida. Segundo a Polícia Civil da Bahia, o carro do delegado foi interceptado por três homens que estavam em um veículo Corsa branco. Leão foi atingido por dois tiros na cabeça. Um terceiro disparo atingiu seu carro. Alertados pelo locutor da Rádio Líder, policiais do Comando de Operações Especiais (COE) e das Rondas Especiais (Rondesp) chegaram logo depois ao local.

Na entrevista ao programa "De olho na cidade", o delegado falava sobre seu trabalho na delegacia de Camaçari. Dizia que a segurança estava melhorando e que por essa razão decidira morar na cidade com a família. Na hora dos disparos, o radialista havia perguntado sobre um homicídio ocorrido na cidade. A Rádio Líder manteve a ligação no ar durante aproximadamente dez minutos. Os radialistas perguntaram à mulher do delegado o que havia acontecido. Deses­perada, ela apenas pedia ajuda.

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"Já tinha mais de dez minutos de entrevista quando ouvimos um estampido. Em seguida passamos a ouvir os gritos da mulher dele, desesperada, pedindo socorro. Inicialmente, achamos que tinha ocorrido um acidente, depois ouvimos a esposa dizer que ele tinha sido atingido", contou o radialista Raimundo Rui. Segundo ele, o delegado iria à emissora para dar a entrevista, mas não chegou a tempo e optou por telefonar. "Ele avisou que pararia o carro porque o sinal do celular estava ruim’’, disse Rui. Clayton Leão foi coordenador do Grupo de Repressão a Roubos a Estabelecimentos Financeiros e do Centro de Operações Es­­peciais da Polícia Civil baiana, onde atuou durante quatro anos. Em dezembro do ano passado participou da Operação Pégasus, que visava desarticular uma quadrilha de roubo de cargas e veículos que atua nas estradas baianas e que resultou na prisão de dez pessoas. Leão era o titular da 18.ª Delegacia desde dezembro de 2008 e tentava desarticular quadrilhas ligadas ao tráfico de drogas em Camaçari. Ele deixa dois filhos.