Os delegados que comandavam o grupo Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial (Tigre), elite da Polícia Civil do Paraná, vão pedir à Justiça gaúcha que reveja a decisão que os afastou da unidade especializada. Renato Bastos Figueroa (que era delegado-chefe do grupo) e Danilo Zarlenga (que era delegado-adjunto), foram transferidos do Tigre nesta quarta-feira (18), depois de a 1ª Vara Criminal de Gravataí, no Rio Grande do Sul, ter determinado o afastamento deles. Também foi removido o investigador Fábio Lacerda Gusmão.
Os delegados e o investigador são investigados desde o fim do ano passado, após o sequestro de dois agricultores paranaenses, rendidos por bandidos em Gravataí, no Rio Grande do Sul. O caso terminou com a morte de um sargento da Brigada Militar Gaúcha e de um dos reféns (ver box).
Na avaliação da juíza Eda Salete Zanatta de Miranda, o grupo Tigre sabia dos planos dos bandidos, mas não agiu para evitar o crime. De acordo com a magistrada, houve "omissão penalmente relevante com relação ao crime de extorsão mediante sequestro". Ela justifica o afastamento dos policiais, argumentando que eles poderiam interferir nas investigações, que ainda estão em curso.
O advogado da Associação dos Delegados de Polícia do Paraná (Adepol), Marden Maués, informou, na tarde desta quarta-feira, que preparou um pedido de reconsideração à 1ª Vara Criminal de Gravataí. Como o afastamento dos policiais paranaenses não foi enquadrado como "medida cautelar de urgência", o advogado esperava que eles fossem ouvidos pela Justiça gaúcha, antes da decisão. "Em face desse preceito, pelo menos em regra, os delegados deveriam ter sido chamados para opinar e contra-argumentar", avaliou Maués.
A Gazeta do Povo tentou contato telefônico com o Sindicato das Classes Policiais Civis do Paraná (Sinclapol), mas não conseguiu ouvir ninguém.
Chefe da Polícia Civil garante que grupo Tigre não sabia do sequestro
O chefe da Polícia Civil do Paraná, o delegado-geral Marcus Vinícius Michelotto, assegurou, nesta quarta-feira, que o comando do grupo Tigre não tinha informações suficientes para evitar o sequestro dos agricultores paranaenses. Apesar disso, ele confirmou que o grupo de elite da polícia paranaense monitorava os sequestradores.
"O Tigre sabia da movimentação dos sequestradores, mas não se sabia quem seriam as vítimas. Não tínhamos sequer um endereço. O grupo Tigre é reconhecido mundialmente e não cometeria uma falha dessas. Dá a entender que quem proferiu essa decisão não conhece o trabalho de polícia judiciária", afirmou Michelotto.
Segundo o advogado dos delegados paranaenses, várias linhas estavam sendo monitoradas pelo Tigre e, por isso, as escutas telefônicas não ocorriam de maneira instantânea. Ele diz que o relatório policial confirma que a unidade especializada não tinha informações concretas sobre o sequestro quando o crime ocorreu.
Para paranaenses, decisão é injusta
Michelotto lamentou a decisão da Justiça gaúcha e defendeu a conduta dos policiais paranaenses. "Foi uma decisão absurda e passional, porque o brigadiano morto trabalhava com um juiz do Rio Grande do Sul. A ação do Tigre foi perfeita. O que houve foi um erro de um policial gaúcho que estava embriagado", disse Michelotto.
O advogado da Adepol classificou o afastamento dos delegados e do investigador paranaenses de desnecessária. Ele lembra que, desde o início das investigações, o grupo Tigre se manteve acessível à Justiça gaúcha e colaborou com todas as diligências. "Injustamente, eles [os policiais do Tigre] figuram agora como réus, ao lado de sequestradores, que são quem eles sempre combateram", afirmou Marques.
Novo comando
Enquanto os delegados Figueroa e Zarlenga permanecem afastados do comando do grupo Tigre, a Polícia Civil designou o delegado Sivanei de Almeida Gomes para chefiar a unidade especializada. Gomes estava lotado na Agência de inteligência da Polícia Civil e já passou pela Delegacia de Homicídios. "Apesar da competência do delegado Sivanei [Gomes], o Tigre perde porque o delegado Figueroa está preparado para comandar o grupo e o vinha fazendo muito bem", avaliou Michelotto.