Brasília – Em depoimento de mais de quatro horas à CPI dos Bingos, o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares negou ter pedido ou recebido dinheiro do Opportunity, mas admitiu que se encontrou com Daniel Dantas, dono do banco.

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Numa das raras novidades em relação às três vindas anteriores ao Congresso, Delúbio confirmou ter participado de uma reunião no início da tarde de 22 de julho de 2003 com o banqueiro Daniel Dantas e seu então sócio no Opportunity, Carlos Rodenburg, junto com Marcos Valério, um dos pivôs do escândalo do mensalão.

A reunião no hotel Blue Tree, em Brasília, foi anotada na agenda de Karina Somaggio, ex-secretária de Valério. Teria ocorrido na seqüência de outra reunião na sede do PT, entre Valério e Delúbio.

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Segundo o ex-tesoureiro, a reunião teria acontecido a pedido de Marcos Valério. "O conteúdo foi que o Partido dos Trabalhadores não gostava do Opportunity. Eu não disse que gostava nem que não gostava, o PT não tinha nenhuma restrição", contou. "E o pedido de dinheiro?", questionou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). "Não solicitei, nunca houve pedido de recursos para o PT", declarou Delúbio. "Conversei com muitos empresários. Não tem ninguém que diga que eu pedi dinheiro", afirmou adiante. Uma versão bem diferente foi apresentada por Carlos Rodenburg. O ex-sócio de Dantas afirmou ter sido procurado por Delúbio com a cobrança de algo entre US$ 40 e US$ 50 milhões.

Negativas

Delúbio voltou a poupar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, insistiu em que era o único responsável pelas finanças do PT e chegou a provocar risos ao afirmar desconhecer como funcionava o caixa 2 dos partidos.

No começo da sessão, o ex-tesoureiro se recusou a assinar o termo em que se comprometeria a só dizer a verdade. Orientado pelo advogado César Vilardi, que se disse pago pelo PT, Delúbio não colaborou com as investigações, na opinião do relator Garibaldi Alves (PMDB-RN). "Eu tenho de botar um ponto final nisso. Ninguém fala mais nada", reclamou o senador.

Delúbio Soares também negou ter recebido ou tomado conhecimento de doação feita por empresários de jogos de bingos à campanha de Lula em troca de regulamentação da atividade. O advogado Rogério Buratti, ex-assessor do ex-ministro Antônio Palocci (Fazenda), afirmou à CPI e ao Ministério Público que a campanha do presidente teria recebido R$ 1 milhão de bingueiros.

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"Nunca tive relacionamento com pessoas ligadas a jogos. Nunca entrei em casa de bingo. Nem em quermesse eu jogava bingo. Nunca recebi recursos de bingos. Não conheço o assunto, não conheço ninguém. Me declaro incompetente", afirmou Delúbio sobre o tema que deu origem às investigações da CPI. A reportagem apurou que o relatório final da CPI dos Bingos apontará indícios que comprovariam essa doação. Em troca, os bingueiros seriam beneficiados com o envio ao Congresso Nacional de um projeto do governo que iria regulamentar o funcionamento do setor.

Durante as investigações, a CPI teria identificado, conforme o esboço do relatório final, diversas coincidências que apontariam para a veracidade da acusação feita pelo advogado Rogério Tadeu Buratti de que o dinheiro dos bingueiros chegou à campanha do presidente com a participação do ex-ministro Antônio Palocci.

Dentre essas coincidências estariam, por exemplo, telefonemas trocados pelos envolvidos nas datas chave da negociação.

Uma das expressões mais repetidas por Delúbio Soares foi "eu não tenho conhecimento". Aplicou a fórmula, por exemplo, ao responder sobre supostos negócios do publicitário Marcos Valério para arrecadar R$ 1 bilhão. A operação foi mencionada pelo ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira. Parlamentares da oposição se irritaram com a atitude de Delúbio. "O depoimento não tem nenhum compromisso com a verdade. É mais um festival de insinceridades", disse o senador José Agripino Maia (PFL-RN).