Hospital do Rocio, que abrirá em breve em Campo Largo, terá 305 leitos de UTI| Foto: Brunno Covello/ Gazeta do Povo

Alerta

Avanço expõe falta de médicos intensivistas

Apesar de celebrar o aumento do número de vagas de UTI no estado, o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) demonstra preocupação em relação à especialização das equipes que vão trabalhar nas unidades. A ampliação dos leitos de UTI expõe ainda mais a demanda por médicos intensivistas – especializados a conduzir as unidades e centros de terapia intensiva.

Segundo o CRM-PR, há no estado 255 médicos com residência em medicina intensiva. Segundo os protocolos médicos, é preciso ter pelo menos um intensivista para cada dez leitos de UTI. O presidente do CRM-PR, Maurício Marcondes Ribas, calcula que, considerando o regime de escalas, seriam necessários dez intensivistas se revezando ao longo da semana, para garantir atendimento full time em uma UTI de dez leitos: média de um médico por vaga.

"A preocupação é em relação à qualidade do profissional que está indo para as UTIs. Hoje, menos da metade de quem atua em UTI é intensivista. É preciso qualificar quem está neste posto, que requer extrema especialização", disse.

No Hospital do Rocio, a direção estima que serão necessários 20 médicos intensivistas por dia, para trabalhar nas UTIs de adultos. Outros dez profissionais devem ser contratados na unidade neonatal. "Alguns intensivistas já foram contratados, mas não é muito fácil. A gente não vai conseguir uma totalidade de intensivistas para tocar os plantões", disse o diretor do hospital, Luiz Ernesto Wendler.

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O gigantesco prédio espelhado, localizado em Campo Largo, passa pelos últimos retoques. Ali começa a operar, nos próximos dias o Hospital do Rocio – que hoje se chama Nossa Senhora do Rocio. Serão 1,2 mil leitos, dos quais 305 serão de Unidade de Terapia In­­­­­tensiva (UTI). Até o fim do ano, a ampliação de outro hospital da região metropolitana, o Angelina Caron, colocará em operação outros 20 leitos desta modalidade. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), o apor­­­te vai equilibrar a oferta de vagas entre Curitiba e a região metropolitana, além de zerar a demanda por esse tipo de leito no Paraná.

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INFOGRÁFICO: Confira o número de leitos convencionais de UTI no Paraná

Hoje, o estado dispõe de 1,8 mil vagas de UTI, das quais 330 estão em Curitiba e 260, em hospitais da região metropolitana. Em geral, são leitos qualificados, situados em unidades que são referência em casos de alta complexida­­­de. Com a ampliação dos hospi­­­tais, o número de leitos de UTI saltará para 485 na Grande Curitiba, passando a capital.

As novas vagas devem absorver grande parte dos casos de urgência e emergência que hoje são atendidos em Curitiba – principalmente nos hospitais Evangélico e Cajuru. O Rocio, por exemplo, vai contar dois heliportos, distantes oito metros da entrada do pronto-socorro.

"Vai desafogar os hospitais de Curitiba que atendem emergência. Mas não é só. Os novos leitos vão beneficiar todo o estado, porque são leitos qualificados, em hospitais de referência", disse o superintendente de Gestão de Sis­­temas da Saúde da Sesa, Paulo Almeida.

Segundo o Ministério da Saúde, o ideal é que o número de leitos de UTI de um estado seja o equivalente a algo entre 5% e 10% dos leitos convencionais. Hoje, as vagas de UTI do Paraná correspondem a 7,5% das normais. Após o aporte, o índice passará a 8,5%. "É algo para ser comemorado", resume o diretor do Hospital do Rocio, Luiz Ernesto Wendler.

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Sistema

As ampliações também vão exercer impacto sobre o número de leitos convencionais do Sistema Único de Saúde (SUS), que vai saltar dos quase 20,5 mil atuais para mais de 21,3 mil. Um quarto deles fica em unidades hospitalares da região de Curitiba, onde está a maior parte dos hospitais de referência em casos de alta complexidade – como traumas, câncer, doenças cardiovasculares e transplantes.

A concentração da alta complexidade faz parte do planejamento do sistema estadual. Hoje, cada uma das quatro macrorregiões do Paraná conta com grandes hospitais, especializados em casos complexos. Em cada uma das 21 regiões, há pelo menos um hospital regional, de médio porte, voltado para casos intermediários. Nas microrregiões, multiplicam-se os pequenos hospitais, com até 50 leitos, cada um.

Um colosso de 1,2 mil leitos em Campo Largo

Cercado de vastas araucárias, o prédio que vai sediar o Hospital do Rocio, em Campo Largo, chama a atenção não só pela imponência, mas também pelas dimensões colossais. São 12 blocos que se estendem ao longo de 53 mil metros quadrados de área construída. Ao fundo, serão mais de mil vagas de estacionamento. Dentro, 280 operários trabalham para deixar tudo pronto para a inauguração, que ocorrerá no início de agosto. A obra está estimada em R$ 170 milhões.

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O gigantismo vem acompanhado de um título de responsabilidade: o hospital será o maior da América Latina em número de leitos. A unidade terá 1,2 mil vagas, sendo que 856 serão leitos de enfermaria para atendimento via SUS e 39 suítes para pacientes particulares. Outros 305 leitos serão de UTI. Cerca de 97% dos atendimentos do hospital serão feitos pelo SUS.

"A nossa vocação sempre foi atender via SUS. Vamos dar ao SUS um padrão de atendimento privado", assegura o diretor do hospital, Luiz Ernesto Wendler.

Ao que parece, é verdade. O projeto contemplou o bem-estar dos pacientes e familiares. As enfermarias são compostas por quartos com apenas dois leitos, tevê, banheiro e um espaço com poltronas para descanso. Os corredores mais largos contribuem para reduzir aquele clima pesado de hospital. Em todos os andares e cantos, jardins e claraboias também amenizam o ambiente.

Para mover o gigante, serão necessários 500 médicos e mais de dois mil funcionários de áreas como administração, limpeza e compras. O custo operacional mensal deve girar em torno de R$ 10 milhões.

Histórico

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O que aguçou a ousadia dos diretores do hospital a dar este passo foi a demanda. O Hospital Nossa Senhora do Rocio – que tem 270 leitos – já não vinha dando conta do fluxo de atendimento. Quatro anos atrás, os diretores compraram o terreno e começaram a vislumbrar o novo hospital. "Alguns acham que é uma obra insana. Eu vejo como uma missão", diz Wendler.

O hospital é referência em áreas de alta complexidade, especialmente neurocirurgia, traumas, oncologia e cirurgias cardíacas adulta e infantil. Hoje, a unidade já recebe pacientes de todo o Paraná e de 18 estados das regiões Norte e Nordeste do país.