Brasília O Diário Oficial da União da última quinta-feira circulou com ato assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva segundo o qual Waldir Pires foi afastado do Ministério da Defesa "a pedido". O detalhe revela a dificuldade que Lula tem de tirar da função qualquer um de seus auxiliares, mesmo os envolvidos em corrupção. Não é o caso de Pires, sobre o qual não há suspeita a respeito de sua honorabilidade contra ele pesam questionamentos sobre competência e poder de decisão.
Sempre que teve de lidar com o assunto demissão o presidente mostrou desconforto. Tanto é que, na quarta-feira, no discurso de posse do novo ministro da Defesa, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim, Lula disse que estava sofrendo muito. "Na vida de um presidente da República, o momento mais difícil é a troca de um companheiro por outro companheiro. Mas na vida de um presidente você é obrigado a fazer isso muitas vezes", queixou-se, como já havia feito anteriormente.
Desde que assumiu o governo, em 2003, Lula mostrou que seu estilo não é de tomar atitudes na hora. Para fugir da culpa pelo afastamento de um amigo, costuma deixar que os ministros ou auxiliares até de terceiro escalão se desgastem até pedirem para sair.
O primeiro caso rumoroso de um auxiliar em cargo importante que se envolveu em irregularidades e não foi demitido ocorreu em 2004, no primeiro grande escândalo do governo. Flagrado numa fita de vídeo cobrando propina do empresário de jogos Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o então assessor da Casa Civil, Waldomiro Diniz, também saiu "a pedido".
Em 2005, o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, foi apontado pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson, como "o mentor" do esquema de caixa 2 feito pelo PT, o chamado mensalão. Dirceu se sustentou no cargo por cerca de 20 dias e, como não foi afastado, pediu demissão.
O mesmo ocorreu com o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, envolvido na violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Palocci perdeu poder até ser levado a se demitir. Ao anunciar Guido Mantega no seu lugar, Lula disse que sofria muito. Com participação no mesmo caso, Jorge Mattoso, então presidente da Caixa Econômica Federal, também pediu demissão.
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