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Em entrevista à Rádio Gaúcha na manhã desta quinta-feira (29), o presidente Lula (PT) relativizou as numerosas violações à democracia, aos direitos humanos e às liberdades individuais em curso na Venezuela, governada pelo ditador Nicolás Maduro, aliado do petista.
Ao ser questionado sobre por que o atual governo evita considerar a Venezuela uma ditadura, Lula disse que o país tem mais eleições do que o Brasil, ao passo em que foi interrompido pelo jornalista Rodrigo Lopes: “Mas eleições não garantem a democracia, né?”. O petista, então, respondeu:
“Deixa eu lhe falar uma coisa, o conceito de democracia é relativo para você e para mim. Eu gosto de democracia, porque a democracia que me fez chegar à presidência da República pela terceira vez”. Em seguida, Lula afirmou que haveria eleições neste ano na Venezuela e convidou a rádio para enviar equipe para saber se o pleito seria legítimo.
O jornalista, entretanto, relembrou o presidente de um episódio, em janeiro de 2019, em que foi preso pelo regime venezuelano e teve celular e passaporte apreendido por agentes do governo de Maduro. Ele só foi liberado horas depois de questionamentos, após ter sido ameaçado e obrigado a ser fotografado. “O senhor diria, hoje, que a Venezuela é uma democracia?”, indaga, então, o jornalista.
O presidente, em sua resposta, evitou comentar o caso exposto pelo jornalista, não respondeu à pergunta e mudou o rumo da conversa, passando a falar sobre o grupo de países “amigos da Venezuela” criado pelo petista em seu primeiro mandato.
Em maio deste ano, Lula promoveu uma calorosa recepção ao ditador venezuelano, o que lhe rendeu uma série de críticas por personagens políticos e veículos de imprensa nacionais e internacionais. Maduro não visitava o Brasil desde 2015, quando esteve na posse do segundo mandato de Dilma Rousseff.
Para ONU, regime de Maduro é responsável por graves violações dos direitos humanos na Venezuela
Relatórios da Missão de Determinação de Fatos da ONU na Venezuela, que iniciou em 2019, apontam uma série de crimes contra a humanidade em curso pelo governo do país: execuções arbitrárias, uso sistemático de tortura, desaparecimentos forçados, detenções arbitrárias e violência sexual estão entre eles.
"A missão encontrou motivos razoáveis para acreditar que as autoridades e as forças de segurança venezuelanas planejaram e executaram, desde 2014, graves violações dos direitos humanos", declarou Marta Valiñas, integrante da missão da ONU na Venezuela após divulgação do primeiro relatório, em 2020. "Longe de serem atos isolados, estes crimes foram coordenados e cometidos de acordo com as políticas do Estado, com o conhecimento ou o apoio direto dos comandantes e de altos funcionários do governo. As mortes parecem ser parte de uma política para eliminar membros indesejados da sociedade com a desculpa de combater o crime."
A ditadura de Maduro já sofreu sanções de uma série de países, como Estados Unidos Reino Unido e Canadá. Muitas das sanções são por não colaboração no combate ao tráfico internacional de drogas, eleições ilegítimas, corrupção e violações aos direitos humanos.