O cenário de estiagem no Paraná, principalmente na capital e região metropolitana, é preocupante: pelo menos até domingo não há previsão de chuva em nenhum ponto do estado, segundo dados do Instituto Simepar. O índice de redução no consumo de água, em Curitiba e RMC, medido nesta terça-feira pela Sanepar, estava em 8,22% - quando o ideal para evitar o corte no abastecimento deveria ser de 20%. Além disso, os níveis de água estão cada vez mais baixos nas barragens.
Apesar de todos os reveses e do que parece inevitável - o início do racionamento -, a Sanepar dá sinais de que pretende esperar até o último momento por uma combinação improvável para evitar o corte no abastecimento: ajuda de São Pedro, trazendo a chuva, e uma redução no consumo de água por parte da população.
O gerente da Sanepar em Curitiba e na região metropolitana, Antônio Carlos Gerardi, adiantou que o racionamento só será anunciado quando as barragens Iraí e Piraquara, juntas, atingirem a capacidade de 30%. Hoje as duas barragens estão operando com 39,4%, segundo dados repassados pelo gerente. "O nível crítico nas barragens seria de 25%, mas a tendência é que com 30% seja iniciado o corte", enfatizou.
Demora criticada
Essa espera para o último momento é motivo de críticas do especialista no assunto, o engenheiro civil, professor e diretor do curso de Engenharia Ambiental da Pontíficia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Carlos Mello Garcias, que defende um racionamento imediato e radical. "A Sanepar só age no sufoco, quando não há outra alternativa. Falta um plano de ataque contínuo à questão da falta de água, que todo o ano, forte ou fraco, atinge o Paraná", opina.
Para o engenheiro, falta investimento na construção de mais barragens, mais sistemas de tratamento e reservatórios. O que, segundo ele, diminuiria os riscos de racionamento em casos de estiagem prolongada. Hoje o abastecimento de Curitiba e região metropolitana (um universo de cerca de 2 milhões de pessoas) depende fundamentalmente de duas barragens, Piraquara I e Irai.
A crítica de Carlos Mello Garcias à falta de investimentos do governo estadual na construção de novas barragens é a mesma feita pelo ex-presidente da Sanepar, Carlos Afonso Teixeira - que ficou à frente da companhia de saneamento de 1995 a 2002 na gestão do governo Jaime Lerner.
De acordo com Teixeira, o governo Requião teria deixado de lado dois projetos de construção de duas novas barragens que reforçaria o abastecimento em Curitiba e região e, no mínimo, atenuaria o grave problema de abastecimento provocado pela estiagem.
O primeiro projeto, segundo o ex-presidente, previa a construção da barragem Piraquara II, com prazo de término em 2004. O segundo, ainda em fase de licitação no final de 2002, previa a construção da barragem Miringuava, em São José dos Pinhais, que forneceria água para o Sistema Miringuava, formado pelo reservatório, captação e estação de tratamento.
"A equipe de transição - do governo Lerner para o Requião - suspendeu a licitação que estava em andamento, perdendo recursos de um grupo japonês da ordem de R$ 80 milhões. A obra do Miringuava foi iniciada recentemente com novos recursos, mas até agora não foi concluída", explicou Teixeira.
Racionamento já deveria ter começado
Na opinião do especialista Carlos Mello Garcias o racionamento já deveria ter começado. A espera pode fazer com que a população tenha de conviver com um número maior de dias sem água. De acordo com ele, o mês de julho já está quase no final e agosto é um mês típico de baixa ocorrência de chuva. O engenheiro observa ainda que faltou uma comunicação melhor por parte da Sanepar para conscientizar a população sobre o problema. "Precisava ter sido feitas campanhas de uso racional da água e mesmo da sua reutilização", complementa.
Sobre o racionamento, o ex-presidente da companhia, Carlos Afonso Teixeira, acredita que já deveria ter começado e que deve recair sobre a população o ônus da delonga no início do corte no abastecimento. "Falta coragem para a Sanepar explicar para os consumidores a realidade da estiagem e suas implicações. A companhia está deixando para o último momento para daí começar um severo racionamento que pode deixar os consumidores por até quatro dias sem água", frisa.
A Sanepar concentra suas atenções neste momento para os próximos 15 dias - prazo que a companhia pode garantir o abastecimento independente da chuva e do índice de economia dos consumidores. A empresa estuda a possibilidade do racionamento começar de uma forma mais branda. A hipótese, até então levantada pelos técnicos, seria de dividir Curitiba e região em sete grandes grupos. Cada grupo - abrangendo em média cerca de 230 a 250 mil pessoas - ficaria por 26 horas sem água duas vezes por semana.
Visivelmente desinformada, na opinião do engenheiro Garcias e de Carlos Teixeira, a população, desde 20 de junho, teve chance de reduzir o consumo, mas não atingiu nem a metade do ideal. "O que se vê é uma população alheia aos problemas da estiagem e a Sanepar prolongando o início do corte para não desgastar o governo estadual em ano de eleição", alfineta Teixeira.
O gerente Antônio Carlos Gerardi foi procurado pela reportagem para rebater as críticas, mas, segundo a assessoria da Sanepar, ele não pôde retornar às ligações pois estava em uma reunião incomunicável fora da companhia.
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