O mau atendimento faz com que muitos dependentes químicos retornem ao uso do crack| Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Recuperação

Jovem começa vida nova depois de dois anos de tratamento

A vida de Riccardo Lino, 18 anos, tomou outro rumo depois de um período de dois anos frequentando o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Centro Vida, no bairro Vila Izabel, em Curitiba. O jovem – que chegou a ser ameaçado de morte quando era usuário de drogas – está limpo, estudando, descobriu no rap uma válvula de escape e diz que deve toda essa mudança ao filho, de 1 ano e nove meses.

Lino conta que teve o primeiro contato com o cigarro quando tinha apenas 12 anos. Ele começou a fumar na época em que os pais se separaram e ele passava muito tempo sozinho em casa ou saindo com amigos. Pouco depois, começou a usar crack, quando passou pelo período mais difícil da sua vida.

O jovem conta que perdeu a namorada e foi ameaçado de morte no bairro em que morava. Dias após receber a ameaça, descobriu que seria pai e foi aí que decidiu dar um novo rumo para a sua vida. Ele fez tratamento no Centro Vida por dois anos e, apesar de ter tido uma recaída, se recuperou. "Quando comecei a ver meu filho é que tudo mudou", diz.

Há um mês recebeu alta. "Sem o apoio da minha família, não iria conseguir me livrar do vício", conta. Hoje, Lino estuda e faz rap com mais dois amigos. Nas letras, ele faz referências ao filho e a tudo o que passou. (FT)

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R$102,2 milhões

é o investimento previsto pelo Plano Nacional de Combate ao Crack para o Paraná até 2014. Com a verba, serão criados mais 828 leitos para atendimento aos usuários de drogas, construção de dez Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas e dez unidades de acolhimento, parcerias com comunidades terapêuticas, capacitação de pessoal para atuar na prevenção ao uso de drogas e reforço nos equipamentos de segurança pública.

Denúncia

Uso indiscriminado de remédios está presente em tratamentos

O relatório Visitas aos Abrigos Especializados para Crianças e Adolescentes denunciou que crianças e adolescentes estariam sendo dopados em abrigos inadequados no Rio de Janeiro.

O relatório foi elaborado pelos conselhos regionais de Psicologia e Serviço Social, o Núcleo de Direitos Humanos da PUC-Rio, o Grupo Tortura Nunca Mais e a ONG Projeto Legal, além da Comissão de Direitos Humanos e de organismos de prevenção e combate à tortura da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

O grupo visitou quatro abrigos especializados em maio deste ano, todos geridos por uma ONG espírita. Com as visitas, os integrantes identificaram inúmeros problemas, como isolamento e encarceramento dos internos, medicalização descontrolada, falta de informação sobre os efeitos do tratamento e alto número de reincidências no tratamento.

Desde maio do ano passado, a internação compulsória de crianças e adolescentes que vivem nas ruas está autorizada pela prefeitura da capital fluminense. Além do Rio, capitais como São Paulo e Belo Horizonte adotam a mesma política.

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Tratamento

A internação involuntária é importante em alguns casos? Ou o ideal é que o tratamento seja feito pela vontade própria do dependente?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

Caps Centro Vida, na capital: exemplo de modelo ideal

Denúncias sobre maus-tratos a crianças e adolescentes usuários de drogas em quatro abrigos do Rio de Janeiro reacenderam a antiga polêmica em torno do modelo ideal de tratamento. De um lado, alguns especialistas temem o retorno do antigo modelo manicomial, extinto há 11 anos, agora adaptado para usuários de drogas. De outro, psiquiatras e representantes do governo justificam a necessidade da internação involuntária como uma alternativa legal necessária. As informações são da Agência Brasil.

O psiquiatra Marcelo Ribeiro, professor do De­partamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), considera que a internação involuntária é a saída para algumas situações em que o usuário perde o discernimento e a capacidade de decisão. "O que existe é uma parcela de pessoas que têm problema agudo com a droga. Nesses casos a internação, feita compulsoriamente ou voluntariamente, salva vidas", diz.

O professor, entretanto, critica o tempo e as condições com que a alternativa tem se caracterizado. Ribeiro afirma que o tempo de internação não pode se prolongar por meses, como foi constatado nas unidades no Rio de Janeiro.

A internação compulsória foi adotada no município em maio do ano passado, sob fortes críticas de movimentos ligados aos direitos da infância e aos direitos humanos. Na época, representantes do governo da capital fluminense argumentaram que a ação do poder público tinha como objetivo garantir a integridade física dos jovens. A justificativa foi respaldada, inclusive, em artigos do Estatuto da Criança e Adolescente, que asseguram o direito à vida e à integridade física.

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Críticas

Para a pesquisadora da organização não governamental Justiça Global Isabel Lima, o modelo adotado pelo governo vai contra as diretrizes consolidadas para o tratamento da saúde mental.

O temor é que esteja ocorrendo um retorno aos antigos manicômios, proibidos pela Lei de Saúde Mental (10.216), sancionada em 2001. O movimento da Reforma Psiquiátrica, iniciado no fim dos anos de 1970, resultou na aprovação da lei, que há dez anos prevê o tratamento aberto, com convívio comunitário, sem o isolamento.

"O financiamento público para comunidades é o financiamento da lógica manicomial, porque as comunidades funcionam com o isolamento. Elas são criadas para prestar cuidados aos dependentes de drogas com internação, eliminando o contato da pessoa com o meio onde vivia antes de ser abrigada", diz.

Dependentes de Curitiba ganham centro 24 horas

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Fernanda Trisotto

A política de tratamento antidrogas adotada em Curitiba inclui estruturas como os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), apontados como modelo ideal pelo Ministério da Saúde. Nos Caps, os pacientes é que buscam ajuda: o tratamento é voluntário e realizado por meio do fortalecimento dos laços familiares e da reinserção social.

Desde ontem, crianças e adolescentes que são dependentes químicos ganharam um reforço na luta contra o vício. O Caps Centro Vida, no bairro Vila Izabel, em Curitiba, é a primeira unidade do estado a oferecer atendimento 24 horas. A ampliação no atendimento é a primeira ação resultante da adesão de Curitiba ao Plano Nacional de Enfrentamento ao Crack, lançado pelo governo federal no início do ano.

A unidade passou por uma reforma e conta agora com dois dormitórios, com cinco leitos – três masculinos e dois femininos – equipados com poltronas reclináveis que possibilitam ao jovem ter um acompanhante. Também houve adaptações nos banheiros, que ganharam chuveiros, oferta de jantar e a estruturação de uma equipe de enfermagem para dar suporte noturno.

A coordenadora do Pro­gra­ma de Saúde Mental da Secretaria Municipal da Saú­de, Cristiane Venetikides, explica que os leitos de pernoite servem para o acolhimento de jovens que, por problemas de convivência com a família ou por estarem em situação de vulnerabilidade no bairro onde moram, não teriam para onde ir.

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Ampliação

Segundo Cristiane, até o fim deste ano, os Caps Matriz, Cajuru, Portão e Bigorrilho também passarão a operar neste regime. Além disso, a unidade do Boa Vista, que entra em funcionamento em setembro, já iniciará as atividades funcionando ininterruptamente. Até 2014, a expectativa é de que todos os Caps da capital funcionem 24 horas. No mesmo período está prevista a ampliação da rede de consultórios de rua, deixando a capital com quatro unidades, distribuídas pelos bairros mais carentes.