Quase um ano após a explosão de casos da gripe H1N1, que matou 287 pessoas no Paraná em 2009, a nova "doença do ano" no estado será a dengue. De acordo com especialistas, o surto, que este ano concentra casos do tipo 2, ocorre três anos após a última explosão, do tipo 3. Este ano, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) já notificou 56.700 casos doença, com 20.659 confirmados e oito óbitos. Em Curitiba, de acordo com a Secretaria Municipal da Saúde, foram feitas 254 notificações, com 62 confirmações.O ciclo da dengue no Paraná apresentou um surto do tipo 1 no ano 2000, seguido do tipo 2 em 2003, do tipo 3 em 2007 e terá novamente o tipo 2 neste ano. A previsão é que o próximo surto, que deve ocorrer em 2013, será do tipo 4, que não aparecia no Brasil desde 1982, e que no momento está restrito ao estado de Roraima.
Para o superintendente de Vigilância em Saúde da Sesa, José Lúcio dos Santos, o ressurgimento da dengue se explica pela dinâmica própria do vírus. Como não é possível pegar o mesmo subtipo mais de uma vez, já que o corpo cria memória imunológica contra aquele tipo específico, a tendência é que aquele subtipo permaneça ativo por cerca de três anos até perder intensidade para outro tipo, para o qual a população ainda não criou anticorpos.
"Imagine que no primeiro ano, se 60 das 100 pessoas expostas ao vírus contraíram a doença, no segundo ano serão menos casos, até que no terceiro ano não há mais nenhum Assim, abre-se espaço para outro vírus, que estava ausente, e que vai atacar quem ainda não pegou aquele tipo e as crianças que nasceram após aquele surto."
As condições climáticas também influenciam, de acordo com Santos. "Da primeira quinzena até março deste ano choveu muito e fez um calor atípico. Isso favorece a proliferação do mosquito". O descuido da população, porém, também é outro empecilho no combate à doença. Com o temor causado pela gripe suína, muitos se esqueceram de que a dengue também deve ser alvo de prevenção.
"Quando tem uma epidemia, as pessoas ficam mais alertas. Como a dengue não foi notícia nos últimos tempos, houve um relaxamento que contribuiu para aumentar a população do mosquito no verão. É uma questão cultural, e as pessoas precisam colaborar, pois só as autoridades sanitárias sozinhas não dão conta", afirma a epidemiologista do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Suzana Dalri Moreira.
Com o intuito de contribuir para diminuir os casos, as amigas Virginia Larguna, de 69 anos, e Janice Chiarello, de 72, partiram para a ação. Virginia passou por dois meses de capacitação na prefeitura e formou-se agente master, nome dado aos idosos que visitam domicílios próximos às suas casas em busca de focos de infestação e dando orientações aos vizinhos sobre como se prevenir da doença.
"Cheguei até a me vestir de mosquito. A fantasia ajuda a esclarecer e também diverte. E as pessoas são muito receptivas". Janice, que mora em apartamento, conta que checa todo dia se há água nos vasos de flores e cobra da família e conhecidos o mesmo cuidado. "Por morar em prédio, não há tanta preocupação, mas ela existe". Virginia acrescenta: "É possível ter foco até dentro da geladeira. Bastou deixar água parada que o bicho se aproveita..."
Em Curitiba, os casos vêm de fora
Pelos dados da Secretaria Municipal da Saúde, todas as 62 pessoas infectadas com o vírus da dengue adquiriram a doença fora da cidade, a maioria em estados que fazem divisa com o Paraná, como São Paulo (16 casos) e Mato Grosso do Sul (5) ou em outros municípios paranaenses (18). "Aqui, menos de 1% das casas possui focos de infestação. Já no estado, há cidades com 18% das casas infestadas. Muitas pessoas também viajam para São Paulo e Rio de Janeiro, locais com grande número de casos", explica a diretora do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal da Saúde, Karin Luhm.
No Paraná ocorre o contrário: mais de 96% dos casos foram autóctones, quando o paciente é contaminado na sua própria localidade. De acordo com o superintendente José Lúcio dos Santos, mais de 200 municípios paranaenses são considerados infestados, com incidência de 300 casos para cada 100 mil habitantes. "Faz muito calor e chove mais nessa região, o que é muito favorável ao mosquito. Se aqui, com esse frio, aparecem casos, imagine em cidades como Maringá e Londrina, onde faz calor praticamente o ano inteiro."