Depois de ter denunciado na semana passada que foi agredida por um policial militar do 13.° Batalhão de Curitiba, a cabeleireira Eliane Aparecida de Souza, de 30 anos, diz que vem sendo vítima de perseguições e tentativas de intimidação. Segundo ela, após o seu caso ter sido encaminhado ao comando do batalhão e à Delegacia da Mulher, viaturas têm feito "rondas especiais" na região da casa onde ela está hospedada, no bairro Sítio Cercado (Eliane mora na Espanha), e perseguido seu carro.

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O caso de Eliane ocorreu na madrugada de 15 de março. De acordo com a cabeleireira, tudo começou quando ela e três pessoas que estavam no seu carro viram dois policiais militares abordando três rapazes. Ela conta que foi perseguida pela viatura e que um dos policiais a puxou pelos cabelos, a xingou e a agrediu. Foi levada para a quarta companhia do 13.° Batalhão, que fica no Bairro Novo, onde teria sido vítima de mais agressões.

Agora, Eliane vive com medo. "Sempre tem gente rondando", diz ela. A suposta perseguição alterou a rotina da cabeleireira: muda seus caminhos todos os dias, procura dormir na casa de amigos e utilizar carros diferentes, emprestados de amigos. "Só saio de casa durante o dia e acompanhada", afirma.

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Trauma

O medo anda acompanhado de trauma. "Mal consigo dormir, tenho pesadelos e acordo gritando." As agressões físicas, confirmadas por um laudo, segundo a advogada de Eliane, Ana Bacilla Munhoz da Rocha, também têm dificultado a vida da cabeleireira. "Não sei se por causa das pancadas na cabeça ou dos chutes que levei, às vezes me dá um branco quando estou dirigindo. Tenho de parar e raciocinar melhor." Com tudo isso, ela se arrependeu de fazer a denúncia? Não, garante, apesar dos apelos da família para que ela não denunciasse o caso. "A única coisa que tenho é meu nome e não posso ser chamada de prostituta [como ocorreu]", diz Eliane, que mora em Valência, na Espanha, e veio ao Brasil a passeio. "Não vou admitir que me tratem desse jeito no meu próprio país", afirma. "No Brasil, há o costume de não se denunciar nada. Eu não posso ficar quieta."

O comando do 13.° Batalhão afastou do trabalho de rua os dois soldados envolvidos na ocorrência e abriu um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar o caso. Os dois negam as acusações. De acordo com Ana Bacilla Munhoz da Rocha, Eliane sofreu achatamento de vértebra e vários hematomas. Depois de concluído, o IPM será enviado ao Ministério Público, que poderá oferecer denúncia contra os soldados.

Na última sexta-feira foi ouvida a amiga da cabeleireira que teria testemunhado a agressão. Eliane adiou sua volta à Espanha para esperar a conclusão do caso.