Mais de mil estudantes (e não 900, como informado na terça-feira) voltaram ontem às aulas nas duas principais escolas da Vila Torres, no bairro Jardim Botânico, em Curitiba. Grande parte dos alunos faltou às aulas na segunda e na terça por causa de um tiroteio entre gangues rivais que feriu quatro pessoas, entre elas duas crianças, no domingo. Apesar do aparente clima de tranquilidade, os moradores ainda temem as consequências de uma disputa violenta entre integrantes de duas gangues, a "turma de baixo" e a "turma de cima".
Segundo uma moradora que não quis se identificar e que vive há 30 anos na região, é comum ver adolescentes andando armados. Ela diz que poucos chegam aos 25 anos. "Se não morrem antes, estão presos com essa idade. Por isso, tem uma transmissão de cargos de pai para filho", diz a moradora. Os "soldados do tráfico", como alguns chamam os adolescentes, vendem em média 100 buchas de crack por dia. Pelo acordo verbal com os chefes do comércio ilegal, o lucro de nove a cada dez buchas vendidas deve ser entregue para os traficantes. "Eles se vangloriam de ganhar mais do que muito trabalhador honesto", diz.
Na avaliação do sociólogo Lindomar Bonetti, falta planejamento e ações organizadas da polícia para resolver o problema do tráfico na Vila Torres. "É histórico. Os traficantes se privilegiam da fragilidade da população. Quando há ações policiais, são pontuais", diz ele. O líder comunitário da Vila Torres, Marcos Eriberto dos Santos, acredita que é preciso investir mais em educação. Segundo ele, faltam creches e vagas para o 1.º ano do ensino fundamental. Dados do Narcodenúncia 181, da Polícia Militar, indicam que foram recebidas mais de 20 denúncias sobre o local nos últimos quatro meses.
A Delegacia de Homícidios está investigando as circunstâncias do tiroteio de domingo. Um menino de 10 anos, baleado na cabeça, continua em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Cajuru. A outra vítima internada no Cajuru é Lucas Vieira, 27 anos, que deverá receber alta no fim da semana. Ele levou um tiro na perna. Também foram baleados um menino de 11 anos e uma mulher de 57 anos, que foram medicados e liberados.
