A deputada estadual Eliziane Gama (PPS-MA) disse neste sábado (11) que a entrada de celulares no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, no Maranhão, é "uma coisa impressionante" e demonstra o "relaxamento e a displicência do sistema".
Ontem, uma equipe da Folha de S.Paulo entrou na Casa de Detenção, uma das oito unidades do conjunto de cadeias, sem ter sido revistada.
Repórter e repórter-fotográfica, que não se identificaram como jornalistas, foram orientadas a deixar RGs e celulares na entrada, mas entregaram apenas os documentos.
Não houve checagem, e elas circularam livremente pelo espaço, onde dez detentos foram mortos em uma rebelião em outubro passado. Conversaram com presos e registraram imagens com o celular. Após este ocorrido, duas mulheres foram presas em uma das unidades do local ao tentar entrar com celulares e drogas.
Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Maranhão, Eliziane diz que telefones, drogas e armas entram no presídio com facilidade.
"O acesso de celular é uma coisa impressionante. O CDP (Centro de Detenção Provisória, outra das unidades de Pedrinhas) tem bloqueador, mas outras áreas não", contou a deputada, que faz oposição à governadora Roseana Sarney (PMDB).
A parlamentar relatou que presos chegam a atualizar seus perfis no Facebook de dentro da cadeia, com fotos dos dias de visita. No mesmo dia em que a Folha de S.Paulo entrou na Casa de Detenção, a parlamentar foi impedida de visitar algumas áreas do complexo. Eliziane e o colega Raimundo Cutrim (PC do B-MA) foram a Pedrinhas ontem, acompanhados de integrantes da Comissão de Direitos Humanos da OAB e da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos.
O grupo conseguiu entrar no CDP, mas foi barrado ao tentar ingressar em outros pavilhões. A alegação para a proibição foi que eles não haviam pedido autorização prévia para a visita.
"Logo que entramos no CDP, percebi um clima de nervosismo da direção, vi gente trocando várias ligações telefônicas. Quando fomos para o segundo pavilhão, não permitiram que entrássemos", disse.
No período em que o grupo ficou no CDP, Eliziane ouviu de um preso que uma arma de fogo e uma pistola de brinquedo teriam sido levadas a uma das unidades de Pedrinhas há quatro dias. "Ele estava com medo de denunciar, queria ser transferido para outra cela", contou.
Ela pretende encaminhar a denúncia ao secretário de Justiça e Administração Penitenciária do Maranhão, Sebastião Uchoa, na próxima segunda-feira. Outro detento contou que usa drogas livremente no presídio.
"Tudo isso mostra que há relaxamento, displicência do sistema. O problema não é só falta de investimento, mas também de gestão", afirmou.
"Questão política"
A deputada, que é pré-candidata ao governo maranhense nas eleições deste ano, disse ver motivo político na restrição de seu acesso a Pedrinhas.
"Na véspera de nossa visita, deputados da Comissão de Segurança da Assembleia, controlada pela base do governo, estiveram lá. Um colega saiu dizendo que o presídio estava em clima de paz e tranquilidade. Nós vimos que não há paz nem tranquilidade e fomos barrados", declarou.
O governo do Estado informou ontem que a a Sejap (Secretaria da Justiça e da Administração Penitenciária) abrirá um procedimento para apurar as falhas no controle na entrada do complexo prisional de Pedrinhas.
ontem, a presidente Dilma Rousseff se manifestou pela primeira vez sobre a crise em uma série de publicações em sua conta no Twitter. "Tenho acompanhado com atenção a questão da segurança no Maranhão", escreveu na primeira de sete atualizações.
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