Curitiba As minorias não gostaram. Tramita desde o último mês de abril, na Câmara dos Deputados, uma proposta para garantir a cota de 50% das vagas de deputados federais para negros e pardos. O autor da sugestão, o polêmico deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) (veja ao lado), reage às críticas ao projeto evocando o texto do Estatuto da Igualdade Racial, também em tramitação no Congresso, que propõe a inclusão de cotas para afrodescendentes na educação e setores públicos. E afirma que, por coerência, será o primeiro parlamentar a votar contra a sua própria proposição se o texto chegar ao plenário.
"Eles não querem vagas para negros em todas as esferas? Eu acho que faxina tem de ser feita de cima para baixo. Se é bom para os outros, por que não é bom para os deputados? A gritaria em relação a isso dos chamados defensores das minorias só prova que o sistema de cotas é uma injustiça e atropela a Constituição que diz que todos são iguais perante a lei", afirma.
A iniciativa está dentro da estratégia de Bolsonaro para conseguir não aprovar o Estatuto. Se a sua proposição for anexada ao projeto de lei do documento é pouco provável que os parlamentares o aprovem dessa forma e aceitem dividir vagas com os afro- descendentes. "Faço isso porque, para mim, o Estatuto estimula o racismo, quem vai confiar em um profissional negro a partir de agora? Como saber se ele era cotista ou não? Quem vai confiar a vida a um médico que foi cotista? O Estatuto é uma forma de fazer demagogia, vender ilusões e buscar o voto fácil", defende.
O deputado paranaense Dr. Rosinha, um dos favoráveis à aprovação do Estatuto, diz não poder "levar a sério" a idéia de Bolsonaro. "O Estatuto não deve ser tratado com ironia", rebate. Rosinha, porém, desconversou ao ser perguntado qual seria o problema na adoção de cotas no Congresso Nacional.
Gozação
"Se passar o projeto do Bolsonaro, vou propor uma emenda para criar cotas para gordinhos, já que a última pesquisa do IBGE mostra que o Brasil tem uma quantidade considerável de pessoas acima do peso", brinca o deputado paranaense Oliveira Filho (PL-PR), que está visivelmente com uns quilinhos a mais. Contrário ao sistema de cotas, Oliveira acredita, no entanto, que Bolsonaro foi longe demais.
"Sou pardo, penso que os negros e pardos não precisam de cotas, mas isso não ajuda a progredir no debate", acredita.
Para o parlamentar paranaense Nelson Meurer, do mesmo PP de Bolsonaro, a proposta não passa de uma gozação. "Entendo a preocupação dele, daqui a pouco vão querer cotas de tudo, sem-terra, igrejas, vão passar por cima do bom senso. Mas é preciso discutir o assunto com profundidade e chegar a um consenso", diz.
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