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Brasília – Mais de 8 milhões de paranaenses vivem em centros urbanos, 40% das riquezas do estado vêm da indústria, mas o enfoque de um para cada três deputados federais do Paraná continua sendo o campo. É o que demonstra a distribuição dos parlamentares por atividade pessoal e pelas comissões permanentes da Câmara Federal.

Dos 29 deputados que hoje representam o estado, ao menos 12 têm algum tipo de negócio relacionado à agropecuária. Desses, 10 (seis titulares e quatro suplentes) fazem parte da Comissão Permanente de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural. Em contrapartida, há apenas dois suplentes na Comissão Permanente de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio.

As atenções da bancada paranaense são tão voltadas para a agropecuária que até quem não conseguiu ser encaixado diretamente nas discussões da área, mantém alguma ligação com ela. "Sou titular da Comissão Permanente de Viação e Transportes, mas o meu trabalho é ajudar a agricultura, com a melhoria das estradas", diz Ricardo Barros (PP).

Além disso, das 14 leis em vigência criadas pelos atuais representantes do estado, cinco são relacionadas ao campo. E, entre o atual comando da Comissão de Agricultura, dois vice-presidentes são paranaenses – Assis do Couto (PT) e Dilceu Sperafico (PP). No ano passado, o presidente do grupo era o também paranaense Abelardo Lupion (DEM).

Bloco

Apesar das diferenças ideológicas, eles garantem que formam um bloco consolidado. "Na hora das decisões importantes, não há divergências que possam prejudicar o nosso estado", afirma Assis do Couto. Ele é um dos principais representantes nacionais da agricultura familiar e convive semanalmente com Lupion, líder da bancada ruralista na Câmara e ativista do agronegócio.

O petista, entretanto, é um caso a parte entre os parlamentares paranaenses ligados à agricultura. Assis do Couto é dono do segundo menor patrimônio declarado à Justiça Eleitoral entre os deputados paranaenses – R$ 179 mil. Dos 10 membros paranaenses da Comissão de Agricultura, apenas ele e Moacir Micheletto (PMDB), com R$ 600 mil em bens, não são milionários.

Encabeçam a lista dos mais ricos dois titulares do grupo, Odílio Balbinotti (PMDB), que declarou um patrimônio de R$ 40 milhões, e o vice-presidente Sperafico, com R$ 10 milhões. Ambos são peças-chave na bancada ruralista, comandada por Lupion, e que se transformou em uma das mais influentes do Congresso, na avaliação do Departamento Intersindical de Atividade Parlamentar (Diap). Pela definição do órgão, é ruralista o deputado que, "mesmo não sendo proprietário rural ou da área de agronegócios, assume sem constrangimento a defesa dos pleitos da bancada, não apenas em plenários e nas comissões, mas em entrevistas à imprensa e nas manifestações de plenário".

Defensores

Para o cientista político Adriano Codato, da Universidade Federal do Paraná, a situação financeira dos deputados que representam a agricultura paranaense desmistifica a idéia de que eles estão no Congresso como defensores do homem do campo "comum". "Eles são é protetores de grandes propriedades", diz.

Codato aponta o panorama com um exemplo de super-representação de um setor. Segundo ele, as eleições normalmente são ganhas pelos candidatos que têm muito dinheiro. E, no caso dos grandes produtores rurais, é mais interessante concentrar os esforços em agir no parlamento.

"A representação agrária paranaense está muito mais ligada ao Poder Legislativo. Ela depende de leis, de incentivos que passam por esse rumo. Já os representantes industriais estão sempre mais ligados ao Poder Executivo. Cada um escolhe o caminho mais fácil para atingir os seus objetivos", explica.

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