Petrina, 77 anos: “Decorava palavras, mas não sabia o que estava escrevendo”| Foto: Fotos: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Dedicação

Voluntários são a "alma" do programa

O Paraná Alfabetizado funciona em parceria com o programa Brasil Alfabetizado, do Ministério da Educação (MEC). No ano passado funcionava em 393 municípios. O processo de alfabetização dura oito meses e pode ocorrer em qualquer espaço público.

De acordo com o coordenador do programa, Wagner Roberto do Amaral, o trabalho não seria possível sem a figura dos alfabetizadores – pessoas comuns, que possuem no mínimo o ensino médio completo, e se dispõem voluntariamente a ajudar na luta contra o analfabetismo. "Se não fosse o afeto e a dedicação destes alfabetizadores não conseguiríamos. As pessoas acabam se identificando com eles", diz..

A cabeleireira Sandra Regina Petri começou como alfabetizadora em agosto. Fez o curso de capacitação oferecido pelo programa e assumiu uma turma formada por 14 alunos que estão em tratamento para se livrar das drogas e o álcool. Sandra conta que um de seus alunos chegou no primeiro dia de aula dizendo que não ficaria. "Conversei com ele, pedi para ele participar da primeira aula e disse que, se não gostasse, não precisava ficar. Até hoje ele está aqui e nunca mais falou em desistir."

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"A necessidade me ensinou"

Leópolis - Aos 64 anos, o aposentado João de Oliveira mantém dois sonhos. O primeiro é publicar seu livro de poesias. O segundo é poder cursar a faculdade de Letras. E ambos já estiveram mais distantes, antes do aposentado aprender a ler e escrever há apenas quatro anos, através do Programa Paraná Alfabetizado.

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Turma de alfabetização do Bairro Alto:mulheres são a maioria dos alunos
Veja infográfico com perfil dos alunos e professores do Paraná Alfabetizado

Dos 551 mil paranaenses com mais de 15 anos que não sabem ler e escrever, somente 13,6%, ou 75.163, passaram por classes do Programa Paraná Alfabetizado, coordenado pela Secretaria de Estado da Educação (Seed), no ano passado. E nem todos conseguiram mudar essa condição – quase 18 mil abandonaram as aulas antes de serem alfabetizados. É justamente nestes dois pontos que reside a grande barreira para acabar com o analfabetismo no estado.

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"O convencimento dos jovens e adultos que não sabem ler e escrever é uma das principais dificuldades para reduzir os índices de analfabetismo. Muitas pessoas não se acham alfabetizadas porque simplesmente não frequentaram a escola", ressalta o coordenador do Programa Paraná Alfabetizado, Wagner Roberto do Amaral. Vencida essa primeira barreira, ele conta que o desafio passa a ser a garantia de que essas pessoas permaneçam nas classes de alfabetização, já que as taxas de evasão são altas.

Mesmo diante das dificuldades, Amaral comemora os resultados obtidos no estado desde que o programa foi implantado pela Seed, em 2004. O coordenador ressalta que, até 2009, 157.042 pessoas foram alfabetizadas pelo programa, o que corresponde a quase um quarto da população analfabeta identificada no censo de 2000, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Um exemplo é a turma que está em andamento na Associação Comunitária das Mulheres do Bairro Alto, onde há um ano e meio são atendidas 14 pessoas, na sua maioria mulheres. As aulas ocorrem três vezes por semana, no período da tarde. Todos os alunos têm mais 55 anos. São pessoas como a dona de casa Petrina da Silva Santos, 77 anos, que até então nunca havia estudado. "Sabia assinar meu nome e ‘lia por cabeça’, decorava algumas palavras, mas não sabia o que estava escrevendo. Enquanto eu tiver saúde continuarei a estudar", diz Petrina, que retornava às aulas depois de passar uma semana em casa por causa de uma crise de sinusite.

A alfabetizadora Genilda Aparecida Sygowski, 57 anos, responsável pela turma, conta que a parte mais difícil é convencer as pessoas a frequentar as aulas. "Visito as casas para encontrar alunos. O curioso é que quando uma pessoa se interessa, acaba trazendo também um vizinho ou parente", relata. Foi o caso das irmãs Isabel dos Santos, 61 anos, e Dalila Santos, 62 anos. As duas nasceram em Rio Branco do Sul e não tiveram a oportunidade de ir à escola. Dalila conta que foi ela quem convidou a irmã para as aulas. Elas moram em Curitiba há 40 anos, mas, depois que os filhos vieram, o sonho de estudar ficou cada vez mais distante. "Me sinto bem e estou aprendendo, melhorando. Quero poder estudar sempre aqui", diz Isabel. Dalila, por sua vez, foi convidada pela vizinha Benedita da Silva, 74 anos, que viu uma propaganda pela televisão e ficou sabendo por outra conhecida que existia uma turma perto de sua casa. "É necessário saber ler e escrever. Eu já cheguei a pegar ônibus errado e a me perder na cidade. Tem muita gente mal intencionada que se aproveita da gente", diz.

O boca a boca também funcionou para o casal Sebastiana Ferreira dos Santos, 63 anos e José Cirino dos Santos, 57 anos. Se­­­bastiana começou a frequentar as aulas, depois convidou o marido para acompanhá-la. Os dois moram em Curitiba há três anos. Vieram de Rio Azul, município da Região Sul do estado, com cerca de 13,5 mil habitantes. "Tinha medo de sair de casa, era muito retraída. Agora estou me sentindo muito melhor e quero continuar a estudar, se possível chegar na faculdade", diz.

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