O que era para ser um jogo entre mães no Facebook se transformou em mais uma polêmica na rede social. No Desafio da Maternidade, mulheres eram convidas por outras a publicarem fotos que demonstrassem como se sentem felizes por ser mães. Algumas não aceitaram entrar na brincadeira e provocaram uma forte reação na rede. Caso da mãe de primeira viagem Juliana Reis, que chegou a ter o perfil bloqueado na rede após ser denunciada por diversos usuários devido à mensagem.
Na justificativa que escreveu para não aceitar o desafio, Juliana pontua que ama o filho, mas não gosta de ser mãe. Ela reclama das opiniões que surgem de todos os lados quando se está grávida, das dificuldades da amamentação, da privação de sono e das dores provocadas pela cesariana. A jovem também lança o desafio da maternidade real, para desconstruir a imagem de que a maternidade é sempre maravilhosa.
Textos e vídeos com críticas a Juliana surgiram de vários cantos do país. No lado oposto, também apareceram mensagens de defesa a mãe, que ganhou até a hashtag : #tamojuntoJuliana. Para a jornalista Grace Barbosa, do portal Maezíssima, parte da polêmica surge porque vivemos uma cultura que romantiza a maternidade ao extremo e ainda tem muita dificuldade de lidar com franqueza com as dificuldades surgidas nos cuidados diários com os bebês.
Junto a isso, ainda tem o contexto extremamente pessoal da maternidade, o que torna qualquer conversa ainda mais inflamada. “A maternidade acaba envolvendo coisas que você já viu e vivenciou. Então, qualquer crítica, mesmo que não seja direta a você , acaba sendo pessoal”, comenta. No Maezíssima, Grace criou uma campanha que tenta unir as mães e mostrar que, apesar das diferenças, todas são igualmente boas.
Outros problemas
A ativista Xênia Mello chama atenção para outros aspectos que acabam resultando em situações como a que vimos no Desafio da Maternidade: a falta de solidariedade e a dificuldade de acolhimento do diferente. “São coisas que antecedem a capacidade de ser mãe. Vivemos numa sociedade pautada em relações individuais e que não são comunitárias”, diz Xênia, que completa: “Existe uma dificuldade de acolher as críticas porque a gente não está preparado para lidar com coisas que são colocadas debaixo do tapete”, completa.
Opinião: Vamos colocar energia no que realmente importa
Achei todo esse episódio do Desafio da Maternidade surreal. Estamos mesmo atacando mães simplesmente por elas não aceitarem uma brincadeira? Por elas reclamarem dos mil pitacos que surgem antes e depois do nascimento do bebê ou porque não acha amamentar a melhor experiência da vida? Nada de diferente do que se conversa numa roda de materna. Qual foi o pecado da mãe? Dizer que o filho não era lindo ao nascer? Ou dizer que odeia ser mãe? Muita energia canalizada para um problema que não existe.
Sei que desativei o blog, mas vou colocar aqui um apelo que escrevi em 2015, no qual continuo acreditando e considero ser muito pertinente neste momento:
Juntas somos mais
Somos muitas. Todo mundo que existe nesse mundo tem uma mãe. Pode ser que alguns já sejam órfãos. Mesmo assim, essa mãe existiu em algum momento. Nem que tenha sido apenas durante os meses de gestação, ela existiu. Sem dúvida, somos muitas.
Mesmo assim, são recorrentes as reclamações de desamparo, solidão, incompreensão. São muitos os problemas práticos também. Falta escola, falta tempo, falta médico, falta falta falta… Se somos tantas, como é possível haver mães que se sintam desamparadas, sozinhas e isoladas? Como há tanta faltas?
Cada uma tem um estilo de criar os filhos, cada uma com a forma de levar a gravidez, a escolha do parto, a forma como trata a birra dos pequenos, a teimosia dos mais velhos, a alimentação da casa, a carência geral. E todos esses aspectos são campos perfeitos para discussão e crítica — muitas ácidas, algumas maldosas, outras feitas só para ajudar, mas nem sempre entendidas assim.
Por isso, lanço aqui uma campanha: menos críticas e mais amor. Somos muitas e podemos juntas nos ajudar — e muito. Ajudar com um ombro amigo,com uma porta de casa aberta para uma tarde de conversa e brincadeira de crianças, com uma visita solidária (do tipo que lava a louça ou fica com as crianças para a mamãe ir dormir um pouco), com gentileza na fila do mercado ou dentro do ônibus, com uma decisão de compra…
Juntas podemos brigar por partos mais humanizados, pré-natal digno a todas, pelo direito de amamentar em locais públicos, por hospitais com mais pediatras disponíveis, por um maior tempo de licença maternidade, por escolas com horários mais flexíveis, por creches públicas de qualidade, por noites livres para sair com as amigas e tardes para ir ao salão fazer as unhas — por que não?
São muitas as coisas pelas quais temos de brigar. Esse mundão, sabemos bem, precisa de bebês para continuar a existir, mas nem sempre é legal com as crianças e consegue ser cruel também com as mães. Mas somos muitas, somos várias e juntas conseguiremos melhorar a situação para nossas filhas, netas, noras…
Mas para isso, precisamos cada vez menos de críticas e cada vez mais de amor. De forma que a gente saia da defensiva e passe a perceber que as questões que nos unem são muitas e urgentes. E que podemos mudar o mundo, a começar por nossas casas, por nossos filhos, por nós mesmas.
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