Categoria manifesta preocupação
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e o Sindicato dos Jornalistas do Paraná (Sindijor-PR) se manifestaram publicamente nesta segunda-feira, demonstrando preocupação em relação ao desaparecimento de Anderson Leandro. Por meio de nota, a Abraji ressaltou que há fortes indícios de que o caso seja "mais um grave atentado contra o jornalismo, com características clássicas de vingança motiva pela atividade jornalística". A entidade ressalta que considera urgente a apuração dos fatos pelas autoridades e que vai acompanhar as investigações.
O Sindijor-PR chamou a atenção de representantes do governo estadual e informou que entrou em contato com a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), pedindo a intensificação das buscas. O sindicato também chamou a atenção para a possibilidade de sequestro político.
O desaparecimento do jornalista cinematográfico Anderson Leandro da Silva, de 38 anos, que mora em Curitiba, completou cinco dias nesta segunda-feira (15). Nesse período, uma nova hipótese surgiu nas investigações: a possibilidade de ele ter sido sequestrado. As apurações passaram a ser conduzidas pelo Grupo Tigre, elite da Polícia Civil especializada em casos com reféns, e acompanhadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Oficialmente, as autoridades evitam falar sobre a nova linha de investigação, mas são grandes as evidências de que o jornalista tenha sido vítima de uma emboscada. A família acredita que a atuação de Anderson Leandro junto a movimentos sociais esteja relacionada ao caso.
Anderson Leandro foi visto pela última vez no início da tarde de 10 de outubro. Ele saiu de sua produtora de vídeo, no bairro Rebouças, em Curitiba, pouco depois das 12h30, a bordo de uma van Kangoo (placas AON-8615). Ele iria a Quatro Barras, onde se reuniria com um cliente para fazer um orçamento. Entretanto, o jornalista não chegou à cidade da região metropolitana. A polícia analisou câmeras de monitoramento de todas as entradas do município, que não registraram a passagem do veículo.
A quebra do sigilo telefônico do jornalista aponta que ele recebeu ou fez uma ligação, já próximo a Quatro Barras, meia hora depois de ter saído da produtora. No dia seguinte 11 de outubro a operadora de telefonia captou que o celular dele esteve nos bairros Tarumã e Parolin, em Curitiba. Após isso, o aparelho perdeu o sinal.
O suposto cliente, com quem Anderson Leandro se reuniria, não voltou a entrar em contato com a produtora, cobrando o jornalista pela ausência. Por isso, os familiares acreditam que alguém tenha se passado por cliente para atraí-lo. "É um indício grande de que ele sofreu uma emboscada antes de chegar a Quatro Barras", avaliou o irmão do jornalista, Antônio Leandro.
Falta de pistas
As investigações seguem sem pistas concretas. As contas bancárias e o cartão de crédito do jornalista não foram movimentados. Até agora, a Kangoo e os documentos de Anderson Leandro não foram encontrados. "Não há informações sobre o desaparecimento. Só nos resta crer que o caso está relacionado com a atuação forte que ele tinha nos movimentos sociais", disse o irmão do jornalista.
Anderson Leandro se notabiliza pela sua atuação na cobertura de movimentos sociais. Segundo a família, ele detém o maior acervo de imagens de conflitos relacionados às pressões dos movimentos sociais do Paraná. Em 2008, ele chegou a ser atingido por um tiro de bala de borracha, disparado por um policial militar, durante a desocupação de uma área no bairro Fazendinha.
Investigações
Até a manhã desta segunda-feira, o caso era apurado pela Delegacia de Vigilância e Capturas (DVC), unidade especializada em desaparecimentos. À tarde, as investigações foram transferidas oficialmente para o grupo Tigre. O delegado Sivanei de Almeida Gomes, que passa a conduzir os trabalhos, disse que vai analisar as diligências que já foram feitas pela DVC para, a partir disso, definir os próximos passos nas investigações. Por enquanto, o delegado evita a falar em sequestro.
"Vamos ter que ouvir familiares, refazer o caminho dele quando desapareceu, rever a rotina, para descobrir o que houve e, a partir disso, encontrá-lo", disse.
O delegado da DVC, Hormílio de Paula Lima Neto, não foi encontrado pela reportagem para detalhar que diligências foram feitas pela unidade. A assessoria de comunicação da Polícia Civil informou que ele não se manifestaria. O promotor do Gaeco Denílson Soares de Almeida disse que, a pedido da família do jornalista, uma equipe do grupo vai monitorar as apurações policiais.
"Estamos arrasados", diz irmão do jornalista
A última vez em que Anderson Leandro esteve com a família foi no domingo (7), onde ele se reuniu com a mãe e irmãos na Lapa, na Região Metropolitana de Curitiba. "Ele me deixou em casa às 23h30 [do dia 7]. Ele não comentou nada nem demonstrou que algo pudesse estar errado", disse a irmã.
Antônio Leandro conta que conversou com o irmão por telefone no dia anterior ao desaparecimento. Ele também não notou nada de anormal na conduta de Anderson. Cinco dias depois do sumiço, Antonio sofre com a falta de pistas. "Estamos arrasados. Não sabemos o que aconteceu e isso é muito angustiante. A família toda está numa situação difícil", definiu.
Apesar disso, a família e os amigos têm procurado fazer sua parte para ajudar a encontrar o jornalista. No último feriado, eles realizaram buscas. Mais de 20 carros foram usados na operação. "Só eu rodei 430 quilômetros por estradas da região metropolitana. Mas, infelizmente, não conseguimos nada", lamentou Antônio.
O jornalista é casado, tem dois filhos e 12 irmãos. No Facebook, familiares criaram uma página específica para tentar reunir informações que ajudem a localizá-lo. O endereço é http://www.facebook.com/BuscaJornalista.
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